Blog-notas de ideias soltas; post-it público de observações casuais; fragmentos em roda livre, fixados em âmbar. Eu, sem filtro. jorge.mourinha@gmail.com
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30 de setembro de 2007
SYMPATHY FOR THE DÉBIL
Queria apenas dirigir-vos para este magnífico post de desprezo distilado através de humor de fino recorte que merece desde já ficar para os anais. Como eu gostava de saber insultar com classe.
por outras palavras:
as palavras do mestre,
é a cultura,
observações descentradas
29 de setembro de 2007
É TÃO BOM ENCONTRAR A SOLUÇÃO PARA UM PROBLEMA
Tenho para mim que as páginas de televisão da Time Out Lisboa me vão dar um jeitão do caraças. É que isto de ter finalmente uma TVGuia que se consegue ler...
por outras palavras:
é a cultura,
quem vê TV,
viva mais a sua casa
28 de setembro de 2007
ELÉCTRICO 25
Isto de ser um alfacinha de gema não quer dizer que se conheçam todos os recantos de Lisboa — hoje, pela primeira vez em 40 anos, desci a rua das Flores (sim, a da tragédia) até à rua de São Paulo e apanhei o eléctrico 25, que vai da Alfândega aos Prazeres pelo Conde Barão, por Santos, pela Lapa e pela Estrela e dá para gozar a viagem muito mais calmamente do que o mais turístico 28, aproveitando para ver ruas que eu conhecia de maneiras completamente diferentes. Claro que na rua de São Paulo se pára de cinco em cinco metros por causa das carrinhas que descarregam mercadorias, mas é bom fazer estas pausas no meio da lufa-lufa da cidade.
por outras palavras:
eléctrico,
Lisboa antiga,
viva o transporte público
27 de setembro de 2007
26 de setembro de 2007
AS PALAVRAS DO MESTRE #6
"I really think that we shouldn't just accept rites-of-passage opportunities as they come, because what we'll find is that they don't come in our world anymore. And we shouldn't look at them as a kind of luxury or romantic dream but as something vital to being alive."
— Sean Penn a Lev Grossman, da revista Time, citado na edição de 1 de Outubro a propósito do seu novo filme Into the Wild
— Sean Penn a Lev Grossman, da revista Time, citado na edição de 1 de Outubro a propósito do seu novo filme Into the Wild
25 de setembro de 2007
OLHA A BELA IMAGEM
Luís Marques Mendes diz que Luís Filipe Menezes está a pôr em causa "a boa imagem do partido". Mas algum partido tem "boa imagem" hoje em dia?
É TAO BONITO DESCONTEXTUALIZAR
"Mas agora passei a aturar crianças?", pergunta uma senhora de meia-idade à porta dos Armazéns do Chiado. "Com uma voz dessas...", apeteceu-me dizer.
por outras palavras:
descontextualizar por aí,
observações descentradas,
portugal no seu melhor
POLAROID: CARREIRA 28
Sentado à janela do eléctrico, na Calçada do Combro passo por um polícia de trânsito que está a controlar as movimentações de um camião em manobras, com uma pasta A4 castanha e um exemplar do Correio da Manhã do dia debaixo do braço.
por outras palavras:
eléctrico,
Lisboa tem muito trânsito,
polaroid
24 de setembro de 2007
POLAROID: METRO
Duas mulheres, conversando animadamente em crioulo, entram na última carruagem do metro e, sem grande vontade de irem em pé, tentam abrir a porta que daria para a carruagem da frente. Ao encontrarem-na trancada, acham estranho e insistem até perceberem que ela não abre mesmo e desistirem. Estive quase para lhes dizer: lá fora é que há correspondência entre as carruagens.
por outras palavras:
metro,
polaroid,
viva o transporte público
23 de setembro de 2007
AUTUMN CLEANING
Inspirado certamente pelo ímpeto arrumativo da Mui Nobre e Sábia Ursa Maior, o meu fim-de-semana foi dedicado à redecoração de duas zonas essenciais da Maison Mourinha, a saber a sala de estar e o escritório, com vista a um mais útil e ergonómico aproveitamento do espaço disponível, enquanto D. Diogo observava com nítida curiosidade as movimentações frenéticas de móveis entre a sala, o quarto das arrumações e o escritório.
Seguiu-se a confecção de uma reconfortante e mui saudável Sopa de Legumes à Urso (cebola, cenoura, abóbora, feijão verde e espinafres em caldo de galinha caseiro).
Seguiu-se a confecção de uma reconfortante e mui saudável Sopa de Legumes à Urso (cebola, cenoura, abóbora, feijão verde e espinafres em caldo de galinha caseiro).
22 de setembro de 2007
AINDA SOBRE O ASSUNTO DO GATO
A minha mãe acha uma malvadez muito grande emascular um gatinho.
por outras palavras:
a minha família dava uma sitcom,
gato,
quem tem uma mãe
LEMBRAM-SE DA PIADA DO COMPRIMIDO DO GATO?
Isso de ser difícil dar um comprimido a um gato, afinal, é um bocado mito urbano. Tenho tido de dar o antibiótico duas vezes por dia ao Diogo desde que ele foi emasculado e, embora não seja a coisa mais fácil do mundo, também não é o pesadelo anunciado. E como não vai a bem — ele bem cheira o comprimido, que até parece uma guloseima, mas topa logo que estou a querer enganá-lo — tem de ir a mal. Ajoelho-me no chão, pego no Diogo, prendo-o entre os joelhos, esfrego-lhe o nariz, abro-lhe a boca e atiro o comprimido lá para dentro o mais para trás que consigo, esfrego-lhe a garganta para ele não o cuspir e solto-o. Depois dou-lhe uma guloseima e faço-lhe uma festinha.
Até ver, ele nunca cuspiu o comprimido, mesmo que tenha sido mais fácil ao princípio, quando ele ainda estava meio pedrado da operação.
Até ver, ele nunca cuspiu o comprimido, mesmo que tenha sido mais fácil ao princípio, quando ele ainda estava meio pedrado da operação.
21 de setembro de 2007
AS PALAVRAS DO MESTRE #5
"Talvez não saiba, mas é uma bênção podermos tornar-nos amigos dos nossos pais. Porque, se eles desaparecerem antes de compreendermos que eles são seres humanos, antes que possamos travar-nos de amizade com eles, eles manter-se-ão personagens toda a nossa vida. E, na nossa existência, haverá sempre algo que ficou por resolver."
— Ingmar Bergman, em entrevista a Olivier Assayas e Stig Björkman em Março de 1990, parcialmente reproduzida no número especial dedicado pela revista Cahiers du Cinéma a Bergman e Antonioni
— Ingmar Bergman, em entrevista a Olivier Assayas e Stig Björkman em Março de 1990, parcialmente reproduzida no número especial dedicado pela revista Cahiers du Cinéma a Bergman e Antonioni
POLAROID: PRAZERES
À porta do cemitério, o segurança que monta guarda à entrada sorri para as empregadas da limpeza que estão a entrar, anunciando-lhes que o almoço do dia são pataniscas de bacalhau com arroz de feijão.
por outras palavras:
Lisboa antiga,
observações descentradas,
polaroid
20 de setembro de 2007
POLAROID: JARDIM DA ESTRELA
Um avô dá de comer aos pombos enquanto disparata com o neto dos seus cinco-seis anos, cuja bola de brincar foi parar a um laguinho onde os patos nadam pacatamente. "Nem penses. Agora a bola fica lá. Eu avisei-te para não a chutares, agora não vais lá buscá-la, ela fica lá. Achas isso bem?" Sem dar sequer tempo para o menino protestar. De um banco distante alguns metros, a avó junta-se à conversa com um tom reprovador. "Rodrigo! O que é que eu te disse? Não te disse para não chutares a bola?"
E ainda há quem diga que os avós estragam os netos com mimos.
E ainda há quem diga que os avós estragam os netos com mimos.
por outras palavras:
é a cultura,
irritantes quotidianos,
isto anda tudo ligado,
portugal no seu melhor
18 de setembro de 2007
BOLETIM CLINICO FELINO
Na sequência da descoberta do desejo e da luxúria durante o seu reencontro com a sedutora D. Mathilde, e de dois dias de concerto coral constante na Mansão Mourinha (nunca eu pensei que o meu gato tivesse tanto jeito para fazer serenatas às garinas felinas), D. Diogo de Mourinha visitou hoje o veterinário e foi devidamente emasculado — uma situação que ele certamente não esperaria mas da qual parece não se ter ainda recomposto, dormindo pacatamente em cima da (minha) cama com um colarinho plástico para o impedir de pôr a língua onde (ainda) não deve. Já esteve a comer mas ainda não se habituou a percorrer a casa com o colarinho plástico que fica preso em muitas esquinas e o impede de se coçar (o que ele muito agradece).
D. Diogo está portanto em franca convalescença e em seu nome agradeço os vários votos de rápidas melhoras que tenho recebido.
D. Diogo está portanto em franca convalescença e em seu nome agradeço os vários votos de rápidas melhoras que tenho recebido.
MODA CRISE VERAO 2007
Proponho que a venda de T-shirts de manga cava ou sem mangas, lisas, com padrões ou de clubes desportivos, seja proibida a todos aqueles a quem seja provado que não ficam bem. Eu sei que isso implicaria uma enorme perda de lucros para alguns fabricantes, mas seria tão melhor para os nossos olhos.
por outras palavras:
irritantes quotidianos,
observações descentradas,
polaroid
17 de setembro de 2007
POLAROID: CONSULTÓRIO
A enfermeira do consultório onde costumo fazer os meus electrocardiogramas de rotina estava hoje com uma dor de cabeça "que não sei de onde apareceu que ninguém a chamou, logo hoje que tenho um dia terrível. Se estivesse em casa fazia uma chávenazinha de leite mas assim... Ainda por cima tenho sinosite, o que não ajuda nada."
15 de setembro de 2007
NA CELEBRAÇAO DO PRIMEIRO ANIVERSARIO FELINO
Foi ontem, 14 de Setembro, que se marcou a celebração do Primeiro Aniversário Felino do Clã von Satori. Fez ontem um ano, Gueixa von Satori dava à luz as quatro amorosas crias da sua fugaz (e nem sempre bem resolvida) relação com Gattuso de Lisboa (também conhecido pelo Velho Surdo), que ontem se reuniram parcialmente na Maison Benfica de Lisboa.
Perante o ar razoavelmente displicente da mãe Gueixa, D. Mathilde von Satori exercitou os seus dotes de lasciva Lolita felina, procurando seduzir com requintes de luxúria o completamente impreparado D. Diogo de Mourinha, com o qual D. Bowie von Satori efectuou umas quantas gestas amigáveis com direito a muito rosnar, alguns fortuitos ataques ninja e muito rebolar felinoerótico no chão. Ausentes, por motivos de relações difíceis, estavam o progenitor Gattuso de Lisboa e D. Cowboy de Lisboa, que terão direito em breve a celebração privativa com a presença do clã alargado.
Entre a magnífica sopa de feijão, o pudim de salmão fingido com molho de tomate e cebola e o bolo de aniversário, alguns convivas recearam que a sedução lasciva de D. Mathilde tenha exercido os seus poderes sobre D. Diogo ao ponto de se consumar... mas D. Diogo é um cavalheiro e honrará — na medida da sua felinidade — quaisquer compromissos que provem ser necessários.
Espera-se que em breve as fotografias de D. Maria possam afiançar do momento de rara felicidade felina que decorreu na Maison Benfica na noite de 14 de Setembro.
Perante o ar razoavelmente displicente da mãe Gueixa, D. Mathilde von Satori exercitou os seus dotes de lasciva Lolita felina, procurando seduzir com requintes de luxúria o completamente impreparado D. Diogo de Mourinha, com o qual D. Bowie von Satori efectuou umas quantas gestas amigáveis com direito a muito rosnar, alguns fortuitos ataques ninja e muito rebolar felinoerótico no chão. Ausentes, por motivos de relações difíceis, estavam o progenitor Gattuso de Lisboa e D. Cowboy de Lisboa, que terão direito em breve a celebração privativa com a presença do clã alargado.
Entre a magnífica sopa de feijão, o pudim de salmão fingido com molho de tomate e cebola e o bolo de aniversário, alguns convivas recearam que a sedução lasciva de D. Mathilde tenha exercido os seus poderes sobre D. Diogo ao ponto de se consumar... mas D. Diogo é um cavalheiro e honrará — na medida da sua felinidade — quaisquer compromissos que provem ser necessários.
Espera-se que em breve as fotografias de D. Maria possam afiançar do momento de rara felicidade felina que decorreu na Maison Benfica na noite de 14 de Setembro.
13 de setembro de 2007
PROMOÇÃO DESAVERGONHADA
...mas necessária. Primeiro, porque o António é um amigo; segundo, porque já comprei e já me diverti muito a ler passagens; terceiro, porque é importante que haja livros assim, porque Portugal é um país que não toma conta da sua memória e é importante registar as histórias pequenas da grande história da cultura popular — e é ainda mais importante que haja mais livros assim e que este não fique como caso único. Um amigo meu dizia, sim, mas tinha de se começar pelo Quarteto 1111? E eu respondi-lhe, é um ponto de partida tão bom como qualquer outro.
por outras palavras:
a história do rock'n'roll,
parabenização,
promoção desavergonhada
12 de setembro de 2007
TERRENO MINADO (ou que não se diga que os soldados americanos não têm sentido de humor)
A propósito das dez horas de audiência perante o Congresso norte-americano nas quais o general americano David Petraeus apresentou o seu relatório sobre a situação militar no Iraque, em citação do New York Times de hoje:
“I’d much rather be back in Iraq,” said Col. Steve Boylan, the spokesman for General Petraeus who had traveled from Baghdad, during one of the day’s few brief breaks. “It’s much safer.”
“I’d much rather be back in Iraq,” said Col. Steve Boylan, the spokesman for General Petraeus who had traveled from Baghdad, during one of the day’s few brief breaks. “It’s much safer.”
11 de setembro de 2007
POLAROID: CARREIRA 28
O eléctrico 28 vem da Sé em direcção à Estrela. Vem cheio, embora não a abarrotar, e numa das paragens da Baixa entra um casal muito bem vestido, ele de fato e gravata impecável, ela num saia-casaco cor-de-rosa com sapatos creme, pastas nas mãos, como quem vem de uma reunião de trabalho. Não é preciso estar muito atento para perceber que não são clientes habituais dos transportes públicos. E, de facto, até eu sair no Chiado, o senhor (mais velho que a senhora) desenrola uma série de queixas bem-dispostas, desde o preço do bilhete (€1.30, tarifa única, quando antes se pagavam sete tostões para ir do Calhariz ao Camões e dez para ir até à Estrela) ao pior serviço, sobretudo comparado ao táxi que apenas lhes custou €2.50 do Camões até ali e se calhar levava menos tempo que o eléctrico, ao que o condutor respondia que contra o trânsito da cidade ele não podia fazer nada. A senhora, essa, apenas disse que "tem tanta piada andar de eléctrico".
por outras palavras:
Lisboa antiga,
Lisboa tem muito trânsito,
polaroid,
portugal no seu melhor,
viva o transporte público
10 de setembro de 2007
MUSICA NO GINASIO #30
The Randy Newman Songbook, vol. 1 (Nonesuch/Warner, 2003). Porque, como todos sabem (e se não sabem deviam saber), Randy Newman é um dos maiores songwriters vivos, e um dos raros a trabalhar na canção clássica americana à Cole Porter, Hoagy Carmichael ou Johnny Mercer. Mas com um veneno de fazer inveja a Elvis Costello.
"Sail Away" (ao vivo)
"Rednecks" (ao vivo)
OLHÁ BELA PEIXEIRADA
Nas renovadas urgências do hospital de São José, é o balcão de informações na sala de espera que parece dar autorização para os familiares poderem entrar para ver um ente querido sob observação no serviço de urgência. Digo parece porque a resposta - dada sempre de modo muito simpático pela assistente administrativa que toma conta das informações ao fim de semana - é que não podem deixar ninguém entrar, apesar de muito do restante pessoal do hospital poder ignorá-la a seu bel prazer.
Com a minha mãe internada de urgência ontem à tarde, estivemos cerca de três horas à espera de ser informados do estado de saúde dela ou sequer de alguém poder entrar para lhe dar uma palavrinha de conforto, e o meu pai e os meus irmãos foram sistematicamente perguntando informações que se resumiam ao mesmo: a minha mãe estava sob observação e para já não podiam deixar entrar e alguém nos viria dizer alguma coisa.
O facto é que ninguém nos veio dizer nada até ao momento em que a mesma senhora nos disse que afinal ela ia ficar internada durante a noite para observações e ninguém nos tinha vindo sequer entregar as roupas dela e que não lhe era possível deixar-nos entrar. A assistente administrativa a quem fomos solicitar as roupas foi infinitamente mais prestável que a senhora das informações e com duas chamadas telefónicas entrou na urgência com o meu pai para ele ir ver a minha mãe, com a anuência da enfermeira e do médico de serviço que autorizaram aquilo que a senhora das informações dizia eles não autorizarem.
Assim que a senhora das informações percebeu que tinha sido ultrapassada, foi fazer peixeirada com a assistente administrativa que tinha levado o meu pai lá dentro sem ser a obrigação dela. Os meus irmãos meteram-se na peixeirada para a meter no seu devido lugar.
Eu cá acho que devia fazer-se uma reclamação contra a senhora das informações, e acho tudo isto de uma profunda e inexplicável mesquinhez. O que interessa aqui não é quem manda; estamos a falar de um hospital. A ideia não é impedir as pessoas de saberem como está a saúde do familiar. E se tivéssemos confiado na senhora das informações, teríamos saído do hospital sem ver a minha mãe, sem saber como ela estava, sem as roupas.
(A minha mãe está melhor, muito obrigado. Não parece ser nada de grave.)
Com a minha mãe internada de urgência ontem à tarde, estivemos cerca de três horas à espera de ser informados do estado de saúde dela ou sequer de alguém poder entrar para lhe dar uma palavrinha de conforto, e o meu pai e os meus irmãos foram sistematicamente perguntando informações que se resumiam ao mesmo: a minha mãe estava sob observação e para já não podiam deixar entrar e alguém nos viria dizer alguma coisa.
O facto é que ninguém nos veio dizer nada até ao momento em que a mesma senhora nos disse que afinal ela ia ficar internada durante a noite para observações e ninguém nos tinha vindo sequer entregar as roupas dela e que não lhe era possível deixar-nos entrar. A assistente administrativa a quem fomos solicitar as roupas foi infinitamente mais prestável que a senhora das informações e com duas chamadas telefónicas entrou na urgência com o meu pai para ele ir ver a minha mãe, com a anuência da enfermeira e do médico de serviço que autorizaram aquilo que a senhora das informações dizia eles não autorizarem.
Assim que a senhora das informações percebeu que tinha sido ultrapassada, foi fazer peixeirada com a assistente administrativa que tinha levado o meu pai lá dentro sem ser a obrigação dela. Os meus irmãos meteram-se na peixeirada para a meter no seu devido lugar.
Eu cá acho que devia fazer-se uma reclamação contra a senhora das informações, e acho tudo isto de uma profunda e inexplicável mesquinhez. O que interessa aqui não é quem manda; estamos a falar de um hospital. A ideia não é impedir as pessoas de saberem como está a saúde do familiar. E se tivéssemos confiado na senhora das informações, teríamos saído do hospital sem ver a minha mãe, sem saber como ela estava, sem as roupas.
(A minha mãe está melhor, muito obrigado. Não parece ser nada de grave.)
por outras palavras:
portugal no seu melhor,
questões pertinentes
9 de setembro de 2007
POLAROID: JAYWALKING
Para a senhora idosa que atravessa a Álvares Cabral nesta tarde de domingo arrastando o carrinho de compras atrás de si, não existem passadeiras, semáforos ou automóveis: as quatro faixas de asfalto da avenida são apenas uma extensão do passeio, e a senhora atravessa a avenida onde muito bem entende, como muito bem entende, pelo meio do trânsito que apita e que ela ignora com um acenar de mãos, como quem diz volte-lá-para-a-sua-rua-e-não-me-mace.
por outras palavras:
observações descentradas,
polaroid,
portugal no seu melhor
MÚSICA NO GINÁSIO #29
Todos estes anos depois, The Lexicon of Love (Neutron/Mercury/Universal, 1982) explica que os ABC (ou antes: Martin Fry e Mark White mais os comparsas da altura) queriam fazer "blue-eyed soul" inspirada por Smokey Robinson, pelos tempos áureos da Motown, pelo hedonismo dos Chic e pela simplicidade pop da melhor música negra. Só que revista e corrigida pelos olhos de adolescentes ingleses escapistas em plena era Thatcher, criados com a tradição da pantomima e do "glam-rock", e burilada pela produção tecnológica do ex-Buggles Trevor Horn, então a sonhar ser o Phil Spector de Londres. 25 anos depois, não devia continuar a fazer sentido. Mas faz, e muito.
"The Look of Love"
"Poison Arrow"
6 de setembro de 2007
POLAROID: PEQUENO-ALMOÇO
Longe de mim pôr em causa o sacrossanto livre-arbítrio de cada um escolher o que se põe na mesa do pequeno-almoço. Mas não é muito normal ver cinco imperiais à frente de uma pessoa às nove da manhã numa pastelaria.
por outras palavras:
observações descentradas,
polaroid,
portugal no seu melhor
5 de setembro de 2007
AR PURO
Adoro estes ensaios fotográficos sobre a beleza das paisagens milenares americanas. São, sempre, de cortar a respiração.
por outras palavras:
América América para onde vais,
imagens de cortar a respiração
4 de setembro de 2007
FAMEL ZUNDAPP
Uma coisa é um mocinho motard dar boleia à garina numa dessas Yamahas ou Suzukis ou Hondas todas artilhadas como as super-sport dos corredores dos grandes prémios, e ultrapassarem-nos pela esquerda como quem está a guiar um Maserati enquanto o nosso reles Renault 5 vai ficando para trás à distância.
Outra coisa é um mocinho aspirante a motard querer impressionar a garina que vai de boleia com uma Famel Zundapp artilhada a fingir que é Yamaha ou Suzuki ou Honda super-sport, com decoração à Valentino Rossi e tudo, mas que faz uma barulheira de 125 azul que nunca mais acaba e parece um caracol com ambição de lesma a subir a Joaquim Bonifácio a prender o trânsito e a obrigar não sei quantos carros a seguir atrás como na velha estrada para o Algarve em que os camiões a transbordar de palha criavam filas intermináveis que o traço contínuo impedia de ultrapassar.
Outra coisa é um mocinho aspirante a motard querer impressionar a garina que vai de boleia com uma Famel Zundapp artilhada a fingir que é Yamaha ou Suzuki ou Honda super-sport, com decoração à Valentino Rossi e tudo, mas que faz uma barulheira de 125 azul que nunca mais acaba e parece um caracol com ambição de lesma a subir a Joaquim Bonifácio a prender o trânsito e a obrigar não sei quantos carros a seguir atrás como na velha estrada para o Algarve em que os camiões a transbordar de palha criavam filas intermináveis que o traço contínuo impedia de ultrapassar.
por outras palavras:
Lisboa tem muito trânsito,
observações descentradas,
portugal no seu melhor
3 de setembro de 2007
GATO É AMOR
A quantidade de cadáveres de mosca que tenho encontrado espalhados pela casa dá a entender que o Diogo está a transformar-se num temível predador. Mais do que um gato, um verdadeiro tigre.
MÚSICA NO GINÁSIO #28
The River in Reverse (Verve Forecast/Universal, 2006), de Elvis Costello e Allen Toussaint — ou como o Bardo Cínico da New Wave se confirma como um estudioso do songwriting clássico e deixa ao veterano do R&B americano à la Nova Orleães todo o espaço para brilhar. Até neste video para "Who's Gonna Help Brother Get Further" que os chatos da Universal me obrigam a linkar porque não deixam pô-lo aqui no blog. É, além do mais, um grande álbum político, misto de celebração e requiem pela alma de uma cidade submersa.
O respeitinho pelos clássicos é muito bonito.
por outras palavras:
música no ginásio,
obsessões pop,
Rei Elvis (Costello)
2 de setembro de 2007
PAGINA 3
Vem na capa de um dos tablóides ingleses a propósito da pretensa orgia de Cristiano Ronaldo: "I turned Ronaldo on with my Tesco knickers". Palavras para quê?
por outras palavras:
observações descentradas,
página 3,
tenham medo. tenham muito medo
MÚSICA NO GINÁSIO #27
Toda a gente fala do primeiro álbum dos Stooges, The Stooges (Elektra/Warner, 1969), como um dos pontos zero do punk. Mas porque é que tão pouca gente fala dele como o ponto zero do "stoner rock" ou como um dos álbuns mais psicadélicos dos anos 60 sem ter um grama de psicadelismo?
"No Fun" (ao vivo em Detroit na recente reformação, já que não se encontraram imagens da época))
por outras palavras:
a história do rock'n'roll,
música no ginásio,
obsessões pop
1 de setembro de 2007
PEQUENOS IRRITANTES QUOTIDIANOS #44
Ser acordado às oito da manhã de sábado pelo ruído de um berbequim industrial ou de outra coisa igualmente barulhenta que parece ser conduzida pelas paredes do prédio. As obras nas traseiras já podiam ter acabado — ou pelo menos quem as está a fazer podia ter o bom senso de tentar não obrigar as pessoas a madrugar de fim-de-semana.
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