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30 de abril de 2006

O GATO FEDORENTO EXISTE

Algo que me diz que o Gato Fedorento deve basear-se na cuidada observação da realidade quotidiana para escrever os seus guiões. A conversa entre dois trintões casados e pais de família ouvida na tarde de ontem numa esplanada da avenida de Roma parecia saidinha de um diálogo entre Ricardo Araújo Pereira e Zé Diogo Quintela, só que era absolutamente a sério, até no tom de voz de bancário médio a fingir sangue azul.

29 de abril de 2006

É SÓ EMBIRRAÇÃO EMBIRRAÇÃO

Estar sentado num restaurante cheio e a ser atendido por uma empregada que está quase sozinha ao balcão e, por muito boa vontade, profissionalismo e esforço que tenha, não consegue dar conta do recado, para além da cozinha também não estar a conseguir dar conta do recado, é uma receita mágica para más vibrações por parte dos vizinhos de balcão, como a suburbana rechonchuda que não pára de resmungar com o namorado por causa do atraso do almoço. E há poucas coisas que dêem cabo de um ambiente civilizado como as más vibrações emitidas pela embirração petulante de quem acha que é só a ela que estão a tratar mal quando está a demorar mais tempo para serem todos servidos. Nessas ocasiões, até a boa educação da empregada pode ser lida como condescendência. Por isso é que dei graças a Deus quando o casalinho bazou das cadeiras do lado, que eu já estava a ficar com vontade de resmungar com eles e não com a empregada assoberbada.

28 de abril de 2006

ELES QUE VENHAM, ELES QUE VENHAM

Numa esplanada da avenida de Roma, um pequeno cãozinho daquelas raças miniaturizadas e peludas que parecem não ver o caminho solta o tigre que há em si sempre que passam cães maiores, com o dobro do tamanho, desatando a ladrar com sentimento e quase conseguindo soltar a trela da cadeira de metal a que está presa para se atirar ao cão maior — que segue o seu caminho sem sequer reparar no David que está para ali a meter-se com ele.

27 de abril de 2006

BÉNARD, ZIDANE E GARBO

Parece-me que todo este episódio da petição lançada pelos amigos e admiradores de João Bénard da Costa para evitar o seu afastamento da direcção da Cinemateca Portuguesa (por limite de idade, recorde-se, que o senhor tem 71 anos de idade) devia ser relativizada pelas declarações do futebolista francês Zinedine Zidane, que anunciou o final da sua carreira para daqui a uns meses. "Para mim o futebol é tudo, mas já não sou capaz de fazer aquilo que fazia. E já não tenho 25 anos." É uma afirmação em que vale a pena pensar. Sobretudo porque me parece que se está a falar mais de preservar um "status quo" que não é tão unânime como se quer fazer parecer. Ora, já Greta Garbo se tinha sabido retirar a tempo — e digam lá que essa sábia decisão não fez maravilhas pelo mito.

26 de abril de 2006

25 DE ABRIL SEMPRE, É COMO QUEM DIZ

O senhor idoso que ontem dizia na rua à vizinha do prédio ao lado que "condenava o 25 de Abril" não deve de facto ser apologista do 25 de Abril sempre.

EU NÃO ANDO A VER MAL

Confesso que, à excepção do David Fonseca e da São José Lapa, não reconheço quase ninguém na actual campanha do BPI (é mesmo a Sofia Aparício?). E não é uma questão de precisar de mudar de óculos, porque o oftalmologista disse-me há um mês que está tudo bem.

25 de abril de 2006

25 DE ABRIL SEMPRE

Na rua da Escola Politécnica, há uma senhora idosa de cabelo pintado (de louro, como quase sempre), de óculos escuros e casaco pesado, que avança com ar de grande dama amuado a fingir-se alheia ao mundo à sua volta. Do passeio do outro lado da rua, poucos metros atrás, uma outra senhora idosa de cabelo branco e óculos tintados com sacos na mão, andando mais dificilmente, chama por ela. "Ó Maria de Lurdes! Vamos aí a essa pastelaria! Maria de Lurdes!". Maria de Lurdes finge que não é nada com ela e estuga o passo. A senhora dos sacos que chama por ela atravessa na passadeira enquanto diz em voz alta, como quem comenta num àparte para a plateia, "A mulher é lixada como tudo, poça!", e volta a chamá-la. "Ó Maria de Lurdes!"

Uns metros mais à frente, cruzo-me com um senhor idoso muito direito no seu melhor fato azul de domingo, com o emblema do Benfica bem reluzente na lapela.

24 de abril de 2006

OS RESTAURANTES CHINESES JÁ NÃO SÃO O QUE ERAM

Na mesa de trás, duas senhoras bem da avenida de Roma conversam como se fossem as únicas pessoas no restaurante com vozes extremamente educadas e muito bem colocadas. Uma delas atende o telefone um par de vezes para falar com uma Geginha que vem do cinema dizer olá com a Memé.

Na mesa da frente, instalou-se um quarentão com ar de comercial bem sucedido acompanhado pela esposa e pelas filhas que se instala na grande mesa redonda, de frente para o televisor, e pede ao empregado do restaurante se é possível pôr na Sport TV para ver o jogo da Académica, enquanto atende uma chamada no telemóvel. Entretanto, chegam mais comensais para a grande mesa redonda e em breve o quarentão e outro quarentão que chegou entretanto resmungam mutuamente que é uma chatice marcar-se um jantar para o dia do jogo da Académica.

23 de abril de 2006

NÓS E OS OUTROS #7

"When I was about six years old, my dad was holding my hand as we walked down the street and he said, 'You've got tough little hands, David, you'll be all right. But I'm worried about Ray because he's got really soft hands.' That stayed with me. I knew I was there to support Ray, to encourage him to expand whatever creative horizons he wanted to do. It's not uncommon among younger brothers. Intellectually, the older brother might think he has the responsibility, but emotionally, it's actually the other way round."

— Dave Davies (Kinks) a Mark Paytress na edição de Março de 2006 da Mojo

22 de abril de 2006

PUBLICIDADE

O meu prédio não tem intercomunicador. Isso quer dizer que, quando alguém toca à campaínha da porta, não há maneira de saber quem está a tocar e, logo, de saber se estamos a abrir a porta ao carteiro, às Testemunhas de Jeová, aos Mormons, aos elementos de alguma associação de recuperação de viciados a fazerem um peditório, à amiga da vizinha de baixo que se enganou no andar ou a um distribuidor de publicidade.

No entanto, existem umas quantas dicas que posso partilhar com outros incautos na mesma situação que eu. Importante é saber se podemos ouvir as campainhas dos vizinhos, como é o meu caso; se a minha campainha toca e ao mesmo tempo ouço a campainha do vizinho da frente e a do vizinho de cima (acreditem que são bastante fortes, para lá do facto das paredes lá de casa não serem exactamente insonorizadas), então é o carteiro a pedir para abrir a porta, um distribuidor de publicidade ou Testemunhas de Jeová/Mormons/peditórios etc. A hora a que isto acontece também permite eliminar um pouco mais; assim, quando a campaínha toca a um sábado ao meio-dia, é quase de certeza um distribuidor de publicidade.

E assim, quando saí para o pequeno-almoço tardio, lá estavam meia-dúzia de folhetos das excursões-turísticas-de-um-dia ao preço da chuva organizadas por empresas de venda de inutilidades (mas podiam ser folhetos de supermercado ou restaurantes ou ginásios ou canalizadores) enfiadas por baixo da porta da rua, porque ninguém no prédio lhe abriu a porta.

21 de abril de 2006

EXPLICAÇÃO DA POLÍTICA ÀS CRIANCINHAS

O governo está a fazer tudo bem. A oposição acha que está tudo mal e que eles faziam melhor. Depois o governo e a oposição trocam de posição e volta tudo ao mesmo.

20 de abril de 2006

GO AHEAD, PUNK, MAKE MY DAY

Estão a ver aquela velha cena dos filmes policiais, de guerra, ou dos "westerns", do "disparar primeiro e fazer perguntas depois"? Ontem descobri um taxista cuja política é muito semelhante: entrar primeiro, e parar (ou não) depois. Asseguro que não é garantia de uma viagem confortável.

19 de abril de 2006

A COABITAÇÃO É TÃO BONITA

No mesmo quiosque do jardim do Príncipe Real, tomam café, ao mesmo tempo, dois manifestantes que, de T-shirt e bandeira, vão para uma manifestação ali perto, e dois agentes da polícia de serviço à dita cuja manifestação.

18 de abril de 2006

SINUSITE

Uma idosa cigana está à entrada das urgências de São José, inteiramente vestida de preto, saia rodada que lhe cobre os pés, camisa de manga comprida, um lenço à cabeça que apenas lhe mostra o rosto, com um inalador branco espetado numa das narinas.

RETOMANDO O SERVIÇO NORMAL

Já há outra vez comentários. Infelizmente, tudo o que ficou para trás perdeu-se — mas, de qualquer maneira, essa foi uma das razões pelas quais mudei para o Blogger, já que o Haloscan apaga os comentários ao fim de um certo tempo.

17 de abril de 2006

PEDIMOS DESCULPA PELA INTERRUPÇÃO

Pequeno problema com os comentários, resultante da mudança de sistema do Haloscan para o Blogger. Não se inquietem, eles voltam assim que eu resolver as questões técnicas.

A TERCEIRA IDADE MAIOR

Ontem, a RTP fazia grande alarde de uma reportagem que falava do desinteresse e do desprezo e dos maus tratos a que são votados os idosos pelas famílias modernas. Nada que me surpreenda, face àquilo que conheço do desconfiado e mal-educado espírito portuguesinho que tanto me irrita. Mas, sem ter visto a reportagem, não consegui deixar de pensar na minha avó materna, a única que na verdade conheci, porque da minha avó paterna, que morreu era eu muito criança, não me recordo, e nunca conheci os meus avôs.

A minha avó materna, após a morte do marido, limitava-se a esperar a morte, sentada numa cadeira da cozinha da minha tia ou num cadeirão da sala. Não tenho ideia de que ela falasse muito. A minha tia tomava conta dela — fazia-lhe a comida, dava-lhe os medicamentos, sem que no entanto isso a impedisse de ter uma vida profissional. Levava-a quando ia de férias para o Algarve, uma vez ou outra pediu-nos que tomássemos conta dela durante alguns dias. A minha avó materna, até morrer, limitava-se a existir. Nunca percebi se tinha a ver com a doença de que sofria (creio que não) ou com aquele luso carácter mórbido de que António Nobre falava, mas sei que a minha mãe, mesmo sabendo que o enfarte que teve há um ano lhe limita um pouco as tarefas que pode fazer, está a ir pelo mesmo caminho.

A verdade é que me debato muitas vezes com as questões do "ser bom filho/mau filho". Na reportagem que a Time dedicou há algumas semanas à moderna sociedade italiana, creio que era um sociólogo que comentava que em Itália há muitos pais que ainda esperam que os filhos abdiquem da sua vida pessoal para tomarem conta deles na sua velhice, mas que isso era também uma situação profundamente injusta para um filho que se vê assim privado de uma "vida normal" (seja lá isso o que fôr). Claro que não haveria comédia italiana (nem Almodóvar) sem essas famílias opressivas e opressoras. Mas querer ter uma vida pessoal é ser mau filho? Ter a consciência de que por vezes é mais apropriado entregar os nossos pais nas mãos de alguém que sabe cuidar de idosos melhor do que nós e que pode ajudá-los 24 horas por dia, tentar de algum modo melhorar a qualidade de vida deles do que se tomássemos nós conta deles é ser mau filho?

A verdade, mesmo, é que não há respostas fáceis para este tipo de perguntas. Por mim, confesso que gostava que as pessoas não se escondessem atrás de desculpas, mas isso talvez seja pedir demais.

16 de abril de 2006

14 de abril de 2006

MORANGOS COM AÇÚCAR

Não são as teenagers inconscientes cujos telemóveis passam a vida a apitar em altos berros com mensagens recebidas durante um jantar inteiro que me incomodam mais (embora me incomodem imenso). São os pais das teenagers inconscientes que não as ensinam a boa educação mínima e as deixam continuar neste egoísmo onanista de quem se está literalmente a borrifar para o vizinho do lado desde que a mesada dê para carregar o telemóvel para trocar inanidades com os amigos/amigas. Digamos que um par de tabefes bem aplicados não seriam mal vistos. Ainda por cima parece que os tribunais até defendem a prática.

13 de abril de 2006

CANTA-ME UM FADO

No átrio da estação do Campo Pequeno, um senhor de aspecto perfeitamente normal, como quem vem ou vai do emprego, canta em voz alta um faduncho como se fosse a coisa mais normal do mundo cantar um fado em voz alta num átrio de uma estação de metro, alheio aos transeuntes (que, eles próprios, fingem alhear-se, como se cantar um faduncho em voz alta fosse a coisa mais normal do mundo), enquanto se dirige para as bilheteiras.

12 de abril de 2006

EM CASA DE FERREIRO ESPETO DE PAU

A minha amiga Isabel já disse por várias vezes que, fosse ela mais nova, já tinha emigrado daqui para fora, de preferência para um país onde tivesse hipótese de fazer aquilo que em Portugal não consegue, que é trabalhar para si conseguindo ir economizando uns trocos.

Só que, depois, uma pessoa começa a pensar para onde raio ia. Uma pessoa olha para França, e vê a tristeza que é ver o imenso poder reivindicativo dos franceses a manifestar-se na rua a favor da manutenção do status quo e contra um contrato de trabalho que não afectaria em nada a maior parte dos manifestantes, que já têm o seu empregozinho garantido e inatacável (tipo função pública, mesmo). Depois olha para Itália, e vê o trafulha do Berlusconi a tentar agarrar-se desesperadamente ao poder e contestar a vitória democrática da sua concorrência, num resultado que só me recorda a célebre contestada eleição de George W. Bush para presidente americano. Depois olha para os americanos, e vê o sururu que se está a gerar por causa das novas leis de imigração que uns querem passar e outros contestam. E um gajo começa a pensar: sim, está bem, aqui não se vai a lado nenhum, mas será que nos outros sítios se vai realmente onde aqui não se consegue ir?

CONVERSAS DE CAFÉ

Aqueles que dizem, nos cafés de Lisboa, que Portugal está "entregue à bicharada" seriam os primeiros a entregar Portugal à bicharada se lhes coubesse a eles tomarem uma decisão sobre o caminho a seguir daqui para a frente.

11 de abril de 2006

A BEM DIZER

É engraçado, há alturas em que me apetece imenso vir aqui escrever coisas mas depois não sei bem o quê. Nem é como se faltasse assunto.

9 de abril de 2006

CONFIDÊNCIAS

Era só para dizer que estes gajos estão cada vez melhores e que é uma pena que ninguém lhes preste a atenção merecida. Aquela reinvenção de "Woman" em soul de Memphis pura e o travo de Americana clássica que as canções estão a ganhar ao vivo são a prova.

MÃE HÁ SÓ UMA (post críptico #1)

Depois de uma conversa que tivemos em que eu comparei a minha mãe à formidável matriarca dos "Sopranos", a Cristina costuma dizer que não consegue ver um episódio da série sem se lembrar dela.

A minha mãe insiste em considerar-se uma mãe como qualquer outra, matriarca de uma família como qualquer outra. Eu tenho sérias dúvidas sobre a "normalidade" maternal e familiar, em primeiro lugar porque não existem famílias "normais" (e, por arrastamento, não existem mães, ou pais, ou irmãos "normais"), em segundo lugar porque mesmo não existindo "normalidade" familiar, eu tenho a impressão que a minha família está uns quantos furos ao lado dessa não-"normalidade"... Confusos? Provavelmente eu também. A constatação, no entanto, resume-se ao facto de eu ter a certeza de que a minha família parou no tempo algures nos anos 60 e continua a viver de acordo com um mundo que já deixou de existir há muito. O que, claro, explica muitas coisas, a menor das quais não são com certeza as minhas crispações.

6 de abril de 2006

OLHA QUE COISA MAIS LINDA MAIS CHEIA DE GRAÇA

Os gatos estão a apanhar o sol possível em cima do telhado da arrecadação que se vê da janela do meu quarto. Uma gata passa, a miar, espreguiçando-se como se não estivesse ali mais ninguém, mas não pára; atravessa o telhado devagarinho até desaparecer no prédio ao lado. Os gatos não param de olhar para ela, mesmo depois de ela deixar de se ver; seguem-na com o olhar como Vinicius deve ter seguido a garota na esplanada de Ipanema.

Claro que é sempre possível que a gata fosse um gato. Ou que os gatos fossem gatas. Ou que fossem todos gatos. Ou todos gatas.

5 de abril de 2006

MACINTOSH

Há uma porrada de anos que tinha ali o meu velhinho Macintosh Performa Power PC (com gaveta para CD-ROM e ainda slot para disquete, coisa que a Apple descontinuou já na geração seguinte de Macs) para um canto do quarto das arrumações. Avariado desde que, em 1999, de repente se começou a recusar a abrir ficheiros, alegando um erro qualquer que, basicamente, segundo me foi explicado na altura, equivalia ao disco rígido estar a dar o berro sem grande solução possível — que o mesmo é dizer, sem valor comercial e condenado a apanhar pó na arrecadação até a sucata chamar por ele. Dois iMacs depois, o Luís coleccionador soube do Performa e veio cá buscá-lo para juntar à sua colecção de "vintage Macs". A reciclagem é uma coisa tão linda.

4 de abril de 2006

ILUMINAÇÃO

"What I had to work at, Mike already had in his genes, in his genetic makeup. Before he was even born, this music had to be in his blood. Nobody could just learn this stuff, and it dawned on me that I might have to change my inner thought patterns... that I would have to start believing in possibilities that I wouldn't have allowed before, that I had been closing my creativity down to a very narrow, controllable scale... that things had become too familiar and I might have to disorientate myself.

I knew I was doing things right, was on the right road, was getting all the knowledge immediately and firsthand — memorizing words and melodies and changes, but now I saw that it could take me the rest of my life to make practical use of that knowledge and Mike didn't have to do that. He was just right there. He was too good and you can't be «too good», not in this world, anyway. In order to be as good as that, you'd just about have to be him, and nobody else. Folk songs are evasive — the truth about life, and life is more or less a lie, but then again that's exactly the way we want it to be. We wouldn't be comfortable with it any other way."


— Bob Dylan, in "Chronicles volume 1" (New York: Simon & Schuster, 2005)

3 de abril de 2006

MAU COMO AS COBRAS

Samuel L. Jackson é o actor mais "cool" do planeta. É um facto incontestável, mesmo sabendo que o rapaz tem a sua quota-parte de filmes da treta. Por isso é que vê-lo num filme chamado Snakes on a Plane (que há de estrear lá para o fim do ano) não deixa de criar estranheza. Mas ele defende-se lindamente, como nesta entrevista a Fred Schruers, da Première americana (edição de Março de 2006):

"They had already changed the title [from Snakes on a Plane to Pacific Air Flight 121] when I got to Canada to start shooting. I let it go for a while. Then one day all the producers were standing there, and I'm saying, «So are you seriously going to leave this name like this?» And they're going, «Yeah, we don't want to give too much away to the audience.» I'm like, «Yeah you do. That's the way you get them in here. Nobody wants to see Pacific Air Flight 121. People want to see Snakes on a Plane. When I picked up the script and I saw the title, I didn't even read it and I said, «I want to do it.» You know, before I opened the first page, Snakes on a Plane. If this is what I think it is, I want to be in this. I want to be on a plane full of poisonous snakes. And I want to see other people on a plane full of poisonous snakes. You say Snakes on a Plane, people who don't like snakes are intrigued. The people who don't like to fly are intrigued. The people who don't like both are totally terrified now. People who just like seeing mayhem are ready for that. They want to see, you know, people enclosed in a big tin tube getting attacked by poisonous snakes. Come on! What could be more exciting than that, you know? What do you do? What do you do until the plane lands? Come on, Snakes on a Plane, that's the title."

GUEIXAS DESESPERADAS

Leslie Felperin, és o meu herói/minha heroína (confesso que só pelo nome não consigo distinguir o sexo). Ora leiam o que o/a crítico/a da revista britânica Sight & Sound diz na sua edição de Fevereiro de 2006 a propósito de Memórias de uma Gueixa, de Rob Marshall:

"(...) this overblown, curiously coy kimono-ripper ought to prove lush and banal enough to please middlebrow imaginations worldwide as well as aficionados of the ineffably camp. (...) Certainly, the scene in which Gong Li's villainess Hatsumomo bitch-slaps Ziyi Zhang's simpering heroine Sayuri in a flaming geisha house (...) rivals the Crawford-Davis cat fight in What Ever Happened to Baby Jane? for sheer lurid, girl-on-girl fun. Arthouse-inclined gossip hounds might get an extra thrill out of speculating about the actresses' off-screen rivalry given that Zhang seemed to replace Gong as Chinese director Zhang Yimou's favourite star a few years back. Gay and gay-friendly viewers can only pray there will be a spin-off TV series soon, perhaps called Desperate Geishas."

2 de abril de 2006

BLAST FROM THE PAST

É um Volkswagen Golf dos primeiros modelos, dos anos 70, velho, com ferrugem junto aos pára-lamas e uma matrícula das antigas, pré-"modelo europeu", letras em relevo branco sobre fundo preto. Parece carro que acabou de sair da garagem após anos sem andar. Desce devagar a rua Tomás Ribeiro, com uma senhora dos seus 60 anos, de porte impecável, cabelo em permanente, maquilhada, sozinha no carro, a guiá-lo como se fosse o único carro na rua, apesar de haver outros a quem a sua marcha lenta atrasa. A senhora também parece que acabou de recomeçar a guiar após muito tempo sem o fazer.

1 de abril de 2006

MOMENTO PORNOGRÁFICO DO FIM-DE-SEMANA

Dos melhores bombons do mundo. A sério.

BLAME CANADA

Esta questão dos emigrantes portugueses ilegais deportados do Canadá, com reportagens da chegada dos emigrantes destroçados a Pedras Rubras, Portela ou Açores, parece-me muito portuguesa. Na medida em que as mesmas pessoas que se insurgem contra o tratamento que o governo canadiano está a dar aos emigrantes portugueses deportando-os por não estarem legais são, muito provavelmente, os mesmos que noutras circunstâncias exigiram a expulsão dos imigrantes ilegais, de qualquer nacionalidade, que se encontram em Portugal exactamente nas mesmas condições em que os portugueses estavam no Canadá. Embora eu desconfie que a burocracia portuguesa é um bocadinho pior do que qualquer outra burocracia.