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25 de abril de 2006

25 DE ABRIL SEMPRE

Na rua da Escola Politécnica, há uma senhora idosa de cabelo pintado (de louro, como quase sempre), de óculos escuros e casaco pesado, que avança com ar de grande dama amuado a fingir-se alheia ao mundo à sua volta. Do passeio do outro lado da rua, poucos metros atrás, uma outra senhora idosa de cabelo branco e óculos tintados com sacos na mão, andando mais dificilmente, chama por ela. "Ó Maria de Lurdes! Vamos aí a essa pastelaria! Maria de Lurdes!". Maria de Lurdes finge que não é nada com ela e estuga o passo. A senhora dos sacos que chama por ela atravessa na passadeira enquanto diz em voz alta, como quem comenta num àparte para a plateia, "A mulher é lixada como tudo, poça!", e volta a chamá-la. "Ó Maria de Lurdes!"

Uns metros mais à frente, cruzo-me com um senhor idoso muito direito no seu melhor fato azul de domingo, com o emblema do Benfica bem reluzente na lapela.

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