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31 de maio de 2008

ACORDO ORTOGRÁFICO

Não resisto a partilhar convosco a palavra que os brasileiros usam para definir o "balão" onde os condutores alcoolizados têm de soprar quando são apanhados pela polícia:

"Bafômetro"

OBRIGADO POR TEREM VINDO

OK, eu admito que é um bocado idiota: uma pessoa não vai de férias para se meter no cinema (e ir ao cinema não é a única coisa que eu tenho feito em São Francisco). Mas é engraçado perceber que São Francisco é exactamente igual a Lisboa em certas coisas. Esta semana estreou o filme do "Sexo e a Cidade" que, só no multiplex da esquina, ocupa três salas (e o AMC 1000 Van Ness tem 14 salas...), fora os multiplexes todos da cidade (que são menos que em Lisboa, mas têm geralmente mais salas). E estreou também "Alexandra" de Alexander Sokurov, que só está no Opera Plaza, 500 metros mais abaixo na Van Ness entre a Turk e a Golden Gate - um equivalente possível do King, só que com quatro salas todas elas mais pequenas que a mais pequena do King, com projecção certinha e som aceitável mas sem condições equiparáveis às do multiplex mais michuruca. Que o mesmo é dizer que também por aqui os filmes "de arte e ensaio" lutam por serem vistos e são relegados para salas especializadas que não conseguem competir com os multiplex (mas também oferecem pipocas, doces e refrigerantes...). 

Apesar disto tudo: não tenho certeza que em Lisboa "Alexandra" tivesse um terço da sala na primeira matinée de sexta feira. E tenho certeza que nenhum dos espectadores de Sokurov em Lisboa vai comer pipocas e beber coca-cola como muitos dos espectadores dessa primeira matinée de sexta-feira. E tenho ainda mais certeza que qualquer sessão não seria antecedida pelo toque pessoal de um dos funcionários da sala vir dizer à plateia "obrigado por terem vindo ao Opera Plaza, vamos agora começar a nossa sessão, esperamos que gostem do filme".  

30 de maio de 2008

SAX ROHMER #1

Levou muito tempo até eu ouvir o raio do disco (apesar de ter sido oficialmente editado em Fevereiro, encontrá-lo numa discoteca portuguesa, que parecem só ter o catálogo anterior, foi mentira, mas na Virgin da Market Street em São Francisco foi logo à primeira) mas, agora que fiz a experiência, é oficial: ainda não é com Heretic Pride que John Darnielle fez um mau disco dos Mountain Goats, e para já parece-me até uns largos furos acima de Get Lonely.



The Mountain Goats, "Sax Rohmer #1" do álbum Heretic Pride (4AD, 2008); video dirigido por Ace Norton

OS PUBLICITÁRIOS SÃO UNS EXAGERADOS

Sobretudo os publicitários americanos: é impossível apanhar um bloco publicitário que seja sem apanhar um anúncio de medicamentos. E não estou a falar de medicamentos de venda livre como as aspirinas e afins — estou a falar de medicamentos que exigem receita médica, tipo Viagra ou Prozac ou Zoloft. E medicamentos cujos efeitos secundários, que têm de ser obrigatoriamente referidos na publicidade, são coisas do género náuseas, vómitos, tensão baixa, tensão alta... ou mesmo risco de vida (juro que ouvi isso num anúncio). Mas tudo dito com a voz mais melíflua, sedutora e comercial que se possa imaginar, e com a frase "pergunte ao seu médico se este medicamento é o mais indicado para si". Como quem diz "é você que lhe paga o salário, portanto tente lá convencê-lo a receitar-lhe isto porque pode ser a solução milagrosa para a sua doença". Como se houvesse soluções milagrosas...

A ARTE DO BUMPER STICKER

"Come to the dark side - we have cookies."

É uma das frases do ano.

28 de maio de 2008

A IRMANDADE DA MASALA DE ESPERA ESPECIAL SF

Só para confirmar que a arte do pequeno-almoço pode ter formas muito diferentes do proverbial galão-e-torrada ou café-e-queque ou meia de leite-e-croissant: a primeira refeição do dia no Americano, o discreto restaurante do luxuoso Hotel Vitale, mesmo à esquina do Ferry Terminal (mas infelizmente sem vista para a baía), inclui como "amuse-bouche" um delicioso smoothie de morango, café de qualidade e sumo de laranja fresquíssimo. As opções incluem salmão fumado em pão torrado com rosmaninho, acompanhado por queijo creme caseiro, cebola e agriões; fritata de legumes acompanhada por salada de espinafres com queijo parmesão e tomate bebé; panquecas de banana servidas com manteiga caseira e xarope de ácer; omelete de cogumelos silvestres com queijo parmesão e trufa negra ralada. 

Depois disto, almoçar é mentira.

27 de maio de 2008

MUITO LÁ DE CASA

É um cinema "à antiga", que resistiu aos tempos e evitou a divisão em multi-salas - um dos raros em São Francisco a ter conseguido escapar ao camartelo. Entrar no Castro é uma experiência que recorda os bons velhos tempos em que ir ao cinema não era a banalidade pipoqueira mas sim uma experiência quase religiosa — e o Castro, inaugurado em 1922, reproduz na fachada uma catedral mexicana. E, uma vez lá dentro, o enorme candelabro art-déco, o órgão centrado no fosso de orquestra por baixo do écrã, o cortinado de veludo vermelho são relíquias de outra era que não agradarão apenas aos nostálgicos.

Claro que as pipocas e outras guloseimas são inevitáveis (afinal, não foram os EUA quem inventou a ideia de enfardar no cinema?) mas, quando as luzes se apagam e o cortinado abre, ver um écrã grande a iluminar-se é maravilhoso. Sobretudo quando o filme em questão é Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, que parece feito para os prazeres fora de moda de uma sala de cinema à antiga, com direito a fila à porta para marcar lugar meia hora antes das portas abrirem — e com uma sala suficientemente grande para haver lugar para todos.  

25 de maio de 2008

23/05/2008: US 650 PHL 16h25 - SFO 19h34

Parecendo que não, o vôo não dura três horas mas seis — é o que dá jogar com as diferenças horárias de um país onde às cinco da tarde da Costa Leste são duas da tarde na Costa Oeste e que leva à volta de seis horas a atravessar de ponta a ponta. A maior parte dos vôos intra-europeus são apenas de três horas. E dou por mim a pensar nas ironias de um vôo transcontinental de sete horas dar direito a almoço (mesmo que de avião) e lanche quando um vôo doméstico de seis horas só dá direito a bebidas à borla e um saquinho de aperitivos (quem quiser mais alguma coisa que pague, e ao que parece as companhias americanas já estão a pensar seriamente em começar a cobrar por despachar bagagem no porão). 

Dito isto, num vôo completamente cheio como foi o Filadélfia-São Francisco da tarde em sexta véspera de fim-de-semana prolongado (o fim-de-semana do Memorial Day que comemora a memória dos que morreram em combate), qualquer tentativa de dormir é mentira absoluta, sobretudo quando se tem 1m90 e se vai sentado na coxia de classe económica de um Airbus.

23/05/2008: US 739 LIS 10h35-PHL 13h25

Aterragem em Filadélfia por entre nuvens que parecem algodão doce ou fios de ovo escalfado sob um céu azul. Vista de cima, a subúrbia americana é lindíssima, com a formatação geométrica das ruas e dos bairros entrecortada por imenso verde. Claro que deve ser mesmo só de cima. 

23/05/2008: US 739 LIS 10h35-PHL 13h25

É simpático que os vôos Lisboa-Filadélfia (e vice-versa) da US Airways tenham uma tripulação bilingue em inglês e português (e, já agora, que não estejam a abarrotar de cheios, porque assim uma pessoa pode tentar dormir um bocadinho numa fila vazia, e de caminho dar um jeito ao pescoço, mas é o que dá não estar para pagar as fortunas que eles pedem pela primeira classe nem ter milhas no cartão de "frequent flyer" que dêem para fazer o upgrade). 

É compreensível que o português da tripulação bilingue seja mais brasileiro que português (devido à proximidade americana) embora não forçosamente aceitável (visto que é mais normal terem portugueses lusos do que brasileiros num vôo Lisboa-Filadélfia). 

O que eu não percebo, mesmo, de todo, é porque é que todos eles dizem que estamos quase a aterrar "NA Filadélfia", porque é como dizer que estamos a aterrar "NA Lisboa" ou "NA Nova Iorque". Mas se é por isso é verdade que o equivalente inglês "at" é perfeitamente neutro. (Mais uma razão para a versatilidade do inglês.)

18 de maio de 2008

COISAS QUE NUNCA SE DEVEM PERGUNTAR A UM FUNCIONÁRIO DE MUSEU

"Desculpe, sabe-me dizer onde é que é a conferência de imprensa?"

(com melífula educação) "Não, não, aqui não é, não sei de nada."

"Ah, mas o seu colega disse-me que seria aqui."

"O meu colega?"

"O seu colega, desculpe, o segurança..."

(com um sorriso condescendente) "Ah! Não, não, o segurança não sabe de nada."

17 de maio de 2008

O REGRESSO

O meu querido amigo Luís Peixoto, que tanto me ensinou sobre o grande rock americano e inglês nos tempos gloriosos da crítica musical portuguesa, criou o seu cantinho na net para mostrar a música que anda a descrever. As saudades que eu já tinha de o ler. Confiram s. f. f. aqui

16 de maio de 2008

DESCULPE?

Eu juro que o título não é inventado - é um programa que vai passar no National Geographic na próxima semana: "Total Selvagem - Os Caracóis Zombie".

14 de maio de 2008

BIPOLAR, COMO OS INTERRUPTORES

Há dias assim, em que não conseguimos adormecer porque cá-dentro-inquietação-inquietação, e depois quando acordamos recuperados ficamos sempre à espera que caia a bigorna, como nos desenhos animados, e depois o capacete começa a levantar apesar do tempo estar feio, e há um gato felpudo que dorme todo sossegado no sofá como se não fosse nada com ele, e uma pessoa fica bem disposta. 

12 de maio de 2008

PEQUENA DÚVIDA EXISTENCIAL

É impressão minha, ou as pessoas deixaram de saber ler?

PDC (Processo de Digitalização em Curso)

Isto continua a ser tão bom.


Cocteau Twins, "Carolyn's Fingers" (in Blue Bell Knoll, 4AD 1988)

6 de maio de 2008

OBAMA Ó QUE LINDO OBAMA

Isto é profundamente genial. E Nuno Lopes legisla tão despoticamente que até faz impressão. 

5 de maio de 2008

OS PAIS NAO DEVIAM MESMO GOSTAR NADA DELE

Vi hoje no Telejornal que foi nomeado para director-geral do serviço de geologia (seja lá isso o que for) um senhor de seu nome José Luís Perdigoto.

4 de maio de 2008

A NOVA TENDÊNCIA

Gotta love these guys.

SONHOS SONHOS SÃO

Eu não ando a tomar os mesmos comprimidos para deixar de fumar que a Alice andou a tomar durante uns tempos (porque não fumo), mas lá que ando a ter sonhos dignos de filmes de David Cronenberg... 

3 de maio de 2008

SÁBADO

Não é nenhuma novidade que os portugueses não são grandes condutores, mas irrita-me andar a ver tanta gente que tem carros topo de gama (sobretudo descapotáveis ou carros obscenamente caros como Mercedes ou Porsches) a guiá-los pelo meio do trânsito de Lisboa, e a guiá-los mal. (É a isto que se chamam "sinais exteriores de riqueza"?)

No entanto, um bocadinho pior do que isso é ouvir a minha mãe a escandalizar-se com a incultura das gerações mais jovens que não sabem quem foi Humberto Delgado e logo a seguir a culpar por essa incultura os pais que, esses, não são incultos porque sabem quem foi Humberto Delgado. Logo a seguir a dizer que toda a gente na família dela é burra, à excepção da própria.