Pesquisa personalizada

29 de abril de 2009

CONSULTÓRIO, BOA TARDE

Os consultórios dos médicos têm sempre as televisões ligadas nos programas da manhã e da tarde (geralmente aos altos berros) e revistas de sociedade e suplementos dos semanários de fim-de-semana antigas nas mesas para os pacientes se entreterem de modo enjoado.

As recepcionistas, descobri agora, também têm o computador aberto no Hi5, pelo menos até o médico chegar, altura em que passam a ter o site do Público.

28 de abril de 2009

GRIPE POLITICAMENTE CORRECTA

Há quem prefira chamar à "gripe suína" "gripe mexicana" porque o judaísmo e o islamismo consideram o porco uma carne impura.

25 de abril de 2009

25 DE ABRIL SEMPRE

...mas não há cafés abertos para ir tomar o pequeno-almoço.

Num dos poucos, um senhor e três senhoras dos seus 50 e muitos anos celebram o 25 de Abril contando episódios caricatos de resistência à ditadura e histórias do tempo da outra senhora, mas fazem-no num tom de voz que obriga quem esteja num raio de dez metros a ouvir. Três cadeiras mais ao lado, um homem passa a vida a olhar para um telemóvel que apita a cada dois minutos com avisos de mensagem que até a vinte metros se devem ouvir. 

22 de abril de 2009

PARE, ESCUTE E OLHE

Não percebi exactamente o que aconteceu; só ouvi um estrondo e vi um corpo a cair e a levantar-se logo a seguir, coxeando de uma perna, descalço de um pé. O carro parou uns metros à frente, algumas pessoas juntaram-se com os telemóveis na mão logo ao pé do rapaz, que continuava a andar para cima e para baixo, coxeando, mochila às costas, um pé descalço. Não percebi se o rapaz tinha escorregado ou tentado atravessar com o sinal fechado para os peões. Tudo à distância, do outro lado da rua. O que ficou foi o estrondo e um fotograma que não sou capaz de decifrar.

As sinceras melhoras.

21 de abril de 2009

POLÍTICA

Leio muito sobre a "polarização" da vida política americana, cada vez mais partidarizada entre Democratas e Republicanos. Olho para Portugal e tenho a vaga sensação que essa "polarização" está cada vez mais instalada por cá, só que não entre Democratas e Republicanos mas sim entre governo e oposição. A questão é que "governo" e "oposição" são muito mais intermutáveis do que "Democratas" e "Republicanos".

20 de abril de 2009

RENHAU

Descoberta dos últimos dias: um gato consegue espreguiçar-se em todo o tipo de superfícies, desde sofás a secretárias passando por varandas, marquises e alguidares.

17 de abril de 2009

SORRISO PEPSODENT

Isto é um bocado estranho, eu sei, mas não só não tenho grandes problemas em ir ao dentista como, quando faço a limpeza regular, gosto imenso de bochechar com aqueles elixires de cores de rebuçado que sabem sempre a menta fresca, de sentir a escovagem vigorosa com a pasta ou com o desinfectante - e hoje, o meu dentista nem resistiu a mostrar-me a plaquinha de tártaro que saiu inteirinha do intervalo entre dois dentes, nem a pedir-me para agarrar no espelho enquanto me explicava porque é que ela tinha saído assim em vez de cair aos bocadinhos. O que não tem tanta graça mas é óptimo para descontrair e, sobretudo, desmistificar o processo.

16 de abril de 2009

POLAROID: MAIS PERTO DO QUE É IMPORTANTE

Entro no Ben & Jerry's do Chiado para algum reforço positivo (mint chocolate chunk, mmmmm) e enquanto estou a ser atendido, entra um dos mendigos que costumam estar nas igrejas do Chiado, com um telemóvel e um carregador na mão. Diz, num português arrevesado, que não quer pedir esmola, quer apenas carregar o telemóvel, e a empregada indica-lhe que pode carregá-lo numa tomada que fica numa das paredes junto às mesas. Quando ele liga o carregador, começa a dirigir-se para a porta, e a empregada pergunta-lhe, "mas vai ficar ao pé do carregador ou não?" e ele lá explica, no seu português arrevesado, que não; que vai voltar para a igreja e deixar ali o telemóvel. A empregada diz-lhe que nem pensar, que não se responsabiliza pelo que possa acontecer ao telemóvel, e dá-lhe a escolher: ou fica ali enquanto o telemóvel está a carregar, ou se vai embora e leva o telemóvel. O mendigo prefere levar o telemóvel.

15 de abril de 2009

PEQUENAS ALEGRIAS FELINAS

Acordar às cinco e meia da manhã já de si não é bom. Acordar às cinco e meia da manhã com um gato a expectorar bolas de pêlo piora um bocado as coisas — não porque as bolas de pêlo expectoradas sejam assim a modos que do tamanho de um capachinho, mas porque implica ir buscar o balde e a esfregona para limpar o chão enquanto o gato fica parado em frente às ditas cujas e olha para mim com o seu melhor ar "Vá, faz o que te compete e limpa a porcaria que eu fiz". E eu limpo e passados cinco minutos, quando estou de regresso à cama, o gato salta para a cama e vem-me afofar enquanto ronrona alegremente, como quem diz "és tão fixe, obrigado por tomares conta de mim".

13 de abril de 2009

AUTOCARRO(s)

Há sempre qualquer coisa a acontecer num autocarro, ou numa paragem de autocarro. Na semana passada, uma viagem no 727 ficou marcada por uma senhora que tinha, literalmente, tomado banho em perfume - e, ainda por cima, num daqueles perfumes enjoativos e baratos que identificamos com as viúvas ou solteironas idosas - e que decidiu sentar-se ao meu lado durante umas quantas paragens. Hoje, uma paragem da Fontes Pereira de Melo viu duas velhotas incapazes de comunicar com dois turistas que queriam apanhar um autocarro para Alcântara e literalmente recrutarem um adolescente que tinha acabado de chegar à paragem para fazer o favor de tentar perceber o que é que eles queriam, independentemente de saberem se o rapaz falava ou não a língua dos turistas, qualquer que ela fosse. Era puto, andava na escola, tinha obrigação de falar estrangeiro.

12 de abril de 2009

FIM-DE-SEMANA PROLONGADO

Redescobrir os bons álbuns de Janet Jackson, ainda e sempre a melhor e mais consistente mana dos manos todos — Michael, em rigor, morreu ao fim de dois álbuns, Off the Wall (Epic 1979) e Thriller (Epic 1982) e daí para a frente foi só viver à conta do nome; Janet só disparou ao terceiro, Control (A&M 1986), que todos estes anos depois continua a ser um marco da nova música negra - o que os ex-acólitos da então sua majestade púrpura Jimmy Jam & Terry Lewis fizeram com a maninha soa-me hoje completamente visionário e nada longe do experimentalismo geométrico-abstracto das produções que fizeram o nome de Timbaland. E quando ela fazia pop - estou-me a lembrar de "When I Think of You" ou "Escapade" - os meninos que se cuidem.

Continuar a descobrir os tesouros que se escondem na estupenda caixa de raridades e inéditos do divino Lloyd Cole, Cleaning Out the Ashtrays (Tapete 2009) - quatro CDs de maquetas, versões alternativas, covers, lados B e canções perdidas por entre confusões editoriais, com meia-dúzia de pérolas de estarrecer que não se consegue perceber como é que nunca ninguém reparou que isto era espantoso. Exemplos: "Wild Orphan", que foi retirado de Lloyd Cole (Polydor 1990) à última hora para fazer espaço para "No Blue Skies"; "Blame Mary Jane", uma versão notável do "Most of the Time" de Dylan, "4MB" e "Sold", todas atiradas escandalosamente para lados B esquecidos.

A extraordinária entrevista de Nick Cave que foi capa da Mojo de Março - dá vontade de passar a gostar da obra que impõe respeito do homem, mesmo que a música continue a não me dizer nada. 

A saga de D. Crocodila e da Zeeba Neighbah no sítio do costume.

D. Diogo a acordar-me de manhã a cheirar-me o nariz, como quem se prepara para lhe dar uma dentada.