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31 de março de 2007

POLAROID: ELÉCTRICO 28

É fim-de-semana. O 28 devia ser exclusivo dos turistas e passar a intervalos regulares, visto que o trânsito de Lisboa é teoricamente menor — mas leva quase meia-hora a aparecer um eléctrico que, ainda por cima, vem de tal maneira cheio que não pára, tal como na hora de ponta de dia de semana. (Já que a Carris tanto andou a falar de renovação de redes e maior atenção ao consumidor, podiam ao menos tentar que o sistema de informação de próximos autocarros/eléctricos funcionasse e não alterasse a informação de cinco em cinco minutos.)

Mas, cinco minutos depois, aparece outro 28, este menos cheio. O meu recém-carregado passe recusa-se a validar, pelo que me desvio para o lado do condutor para deixar outros passageiros entrar enquanto volto a tentar, e depois de conseguir percebo que descobri o sítio ideal para fazer a viagem: de pé, à frente, à esquerda do condutor, encostado à divisória, na primeira fila da viagem. E é muito bonito ver Lisboa na pequena montanha-russa em slow-motion que é viajar de eléctrico, apesar dos carros que de vez em quando obstruem a linha para deixar sair ou entrar gente e dos velhotes que atravessam à lagardère no meio da rua como se toda a gente tivesse de parar para eles e dos maus condutores que fazem todo o tipo de manobras só para não ficaram entalados atrás do eléctrico.

Fiquei também a perceber que os condutores de eléctricos não têm a vida fácil.

29 de março de 2007

POLAROID: ANCHOVAS

Na cafetaria do Corte Inglés, à hora do almoço, duas senhoras, que me parecem mãe e filha, sentam-se na mesa do lado. Estou sentado de frente para a filha, à beira dos 30, cabelo escuro, vestida de modo informal e discreto mas com evidente cuidado. Vendo a empregada da zona ocupada a tirar contas, levanta-se para ir buscar dois menus. Quando a empregada vem atender o pedido, ouço-a pedir uma salada de atum, mas com anchovas em vez de pimentos. Passados cerca de dez, quinze minutos da empregada ter tirado o pedido, já com as bebidas na mesa, a jovem, com ar enfadado, diz a um "maître d'" que passa que se devem ter esquecido dos seus pedidos, que chegam logo a seguir pelas mãos de um empregado que pede desculpa por ter demorado um pouco mais, "mas era um pedido especial". Quando o empregado vira costas, a jovem empertiga o nariz e, com o seu melhor ar burguês das Avenidas Novas, lança: "pedido especial? trocar pimentos por anchovas?"

28 de março de 2007

MARAVILHOSOS INSULTOS POLITICAMENTE INCORRECTOS #1

O título é mesmo para não dizer que não vos avisei. Porque há umas quantas conjugações de palavras que são tão improvavelmente inspiradas que dá vontade de as usar desta exacta maneira e que se lixem as correcções políticas (que para isto dos insultos também não são cá chamadas de qualquer maneira, as lésbicas, as místicas e os militantes do Bloco de Esquerda que me desculpem em todo o caso antecipadamente) — esta é cortesia do Ex-Citador (link aqui ao lado s. f. f.):

"fufa mística do Bloco de Esquerda"

RECLAMAÇÃO, RECLAMAÇÃO, RECLAMAÇÃO, RECLAMAÇÃO

Tive que ir hoje levantar ao correio uma prenda de anos que me foi enviada por um amigo americano. O DVD tinha sido encomendado pela Amazon e foi-me enviado directamente pela Amazon; dentro da caixa (que, evidentemente, tinha sido aberta para inspecção postal) o DVD vinha embrulhado com uma fita e um cartão de parabéns (que, evidentemente, não tinham sido abertos para inspecção postal).

O facto de, evidentemente, se tratar de uma prenda (ninguém se dá ao trabalho de encomendar um DVD para si próprio e de o pedir embrulhado...) não impediu de me serem cobrados 13 euros de direitos alfandegários como se tivesse sido eu a encomendá-lo. Fiz questão, no instante, de preencher um impresso de reclamação.

27 de março de 2007

PEQUENA MEDITAÇÃO SOBRE A ESTUPIDEZ

A estupidez, em si, já não me surpreende. Que continue a haver muita gente estúpida, também não; e que os meus caminhos se cruzem quotidianamente com alguma dessa gente estúpida, ainda menos.

Que as pessoas se comportem como se tivessem orgulho nessa estupidez é que eu já não acho normal. Mas eu até os percebo: num Portugal que escolhe Salazar e Cunhal como "os grandes portugueses", de que outra coisa se podem eles orgulhar?

26 de março de 2007

UMA POSSÍVEL DEFINIÇÃO DE VOLÚPIA

Deixar dissolver um quadradinho de chocolate na boca.

PORTUGAL NO SEU MELHOR

Segundo os espectadores da RTP, os três maiores portugueses de todo o sempre são do século XX: um ditador que deixou o país na ignorância, um político comunista fundamentalista ortodoxo e um diplomata abnegado que se sacrificou pelos que estavam pior que ele.

Não sei se já olharam bem, mas é um quadro muito português. Um pai tirano, um filho revolucionário, um bom cristão.

PALAVRAS DE QUE GOSTO MUITO MAS QUE NÃO TÊM GRANDE UTILIZAÇÃO PRÁTICA QUOTIDIANA #77

Cavernícola.

(com um agradecimento ao Luís)

23 de março de 2007

Ó PRÓ MEU IPOD TÃO ECLÉCTICO #12



É um dos meus discos de cabeceira. Underworld, Everything, Everything (Junior Boys Own/V2, 2000)

(em baixo, o video de "Cowgirl")

21 de março de 2007

Ó PRÓ MEU IPOD TÃO ECLÉCTICO #11



Kate Bush, Aerial (EMI 2005)

(em baixo, o video de "King of the Mountain")

ESTES PUBLICITÁRIOS SÃO UNS EXAGERADOS

Desculpem qualquer coisinha: a propósito dos novos cartazes da Sagres Bohemia (passe a publicidade, eu nem gosto de cerveja), como é que se passa de Pierce Brosnan a Luís Represas?

20 de março de 2007

PEQUENA DÚVIDA EXISTENCIAL

OK, alguém que faça o favor de me explicar porque raio é que eu levo tanto tempo a fazer sudoku de nível "fácil" como os de nível "médio" ou "difícil". Quem é que anda a trocar o raio das etiquetas?

18 de março de 2007

COMO RECICLAR UM VESTIDO DE NOIVA

A cauda de um vestido de noiva é uma espécie de carro-vassoura: limpa atrás de si toda a sujidade que apanha. Ou como afinal é possível dar outras utilidades a roupas que teoricamente só se vão vestir uma vez: usá-lo para limpar a casa. (Não sei muito bem é quanto tempo é que isso pode durar sem ter de ir à lavandaria.)

16 de março de 2007

DEIXA-ME OLHAR PARA TI

No metro, enquanto o comboio não chega, um quarentão careca, vestido de casaco de napa a fingir da pele preta sobre camisa preta, jeans descoloridos da moda sobre ténis brancos, olha fixamente para uma jovem dos seus 20 anos, com a preguinha de barriga a mostrar-se entre a T-shirt por baixo da camisa e as calças de ganga justas na cintura. O senhor não tira o olho da jovem, misto de desejo, luxúria, nostalgia, ao ponto de se tornar ostensivo, impossível de não reparar. Dura o tempo de o comboio chegar e da curta viagem até à estação seguinte, onde o senhor sai, parando inclusive nas escadas para olhar, através da janela do comboio, para a jovem, como quem não quer deixar tal visão para trás. Será que ela reparou? E será que ele reparou que todos repararam?

15 de março de 2007

POLAROID: AUTOCARRO 738

Um senhor idoso faz sinal ao autocarro para abrir a porta, aproveitando o sinal vermelho; mas o autocarro está precisamente entre duas paragens e equidistante de ambas, pelo que o condutor não abre a porta. O senhor continua a insistir, apontando para o sinal vermelho, como quem diz "seja simpático, abra lá a porta, o sinal até está vermelho", mas o condutor não abre a porta. O senhor acaba por desistir e começa a descer em direcção à paragem anterior, resmungando entre dentes.

14 de março de 2007

AINDA A PROPÓSITO DA VINGANÇA DO CLIENTE INDIGNADO

Recebo eu hoje no meu telemóvel esta simpática mensagem da TVCabo:

"Informamos que terminaram os trabalhos de melhoria da rede TVCabo na sua zona. Gratos pela sua compreensão."

É simpático. Sobretudo quando não recebi nenhuma mensagem a informar que havia trabalhos de melhoria de rede na minha zona.

13 de março de 2007

Ó PRÓ MEU IPOD TÃO ECLÉCTICO #9



Vincent Delerm, Les Piqûres d'araignée (Tôt ou Tard, 2006)

Em "repeat". Como convém. (Em baixo, o video do single "Sous les avalanches".)

A VINGANÇA DO CLIENTE INDIGNADO

Recebi hoje, pouco depois do jantar, uma simpática chamada de uma simpática senhora do serviço de clientes da TVCabo a querer interessar-me no pacote de internet da empresa. Quando ela me perguntou se eu já tinha internet e eu respondi que sim e ela me perguntou, "mas não é da Netcabo?", eu aproveitei a deixa para lhe dizer que não e para lhe explicar que não era da Netcabo por culpa da TVCabo, seguido de uma educadíssima, civilizadíssima e indignadíssima descompostura pela lata de um serviço de clientes que funciona mal andar a telefonar para as pessoas a perguntar "então não quer aderir ao nosso serviço?".

Desconfio que a TVCabo não me vai voltar a telefonar tão cedo.

12 de março de 2007

CUIDADO, MÃE AO VOLANTE

É sempre agradável estar a atravessar uma passadeira de peões e perceber de repente que uma mãe ao volante de uma carrinha está a fazer marcha atrás em cima da passadeira sem prestar atenção a eventuais transeuntes.

11 de março de 2007

CRISTIANO RONALDO, A CULPA É TUA

A conjugação de T-shirts de alças ou sem mangas, cabelos curtos com gel e brincos, no que é vulgarmente designado por "look Cristiano Ronaldo", deveria ser proibida por lei, sob o pretexto de se evitar que muito boa gente andasse por aí a fazer figura de parvo.

9 de março de 2007

ESQUERDA CAVIAR

É possível defender os direitos do trabalhador vestido com um pullover Lacoste?

8 de março de 2007

POST FELINO SEMANAL

Hoje intitulado: "Gato recém-acordado de soneca retemperadora dentro de destruidor de papéis e com cara de poucos amigos"

5 de março de 2007

HIGIENE PESSOAL NO MARQUÊS DE POMBAL

O senhor de meia-idade, já meio careca mas ainda com cabelo, levanta-se do assento para sair na próxima estação, instala-se frente à porta da carruagem de metro. Vendo-se reflectido no vidro da porta, puxa de um pente que trazia no bolso de trás das calças e começa a pentear o cabelo, que de repente parece mais sujo e desgrenhado do que antes.

4 de março de 2007

PÓS-ECLIPSE

Lua cheia nos céus negros de Lisboa, círculo perfeito de um branco limpo, luminoso e cintilante como há muito não se via.

3 de março de 2007

PALAVRAS SÁBIAS

"Os pontos fracos de um livro são frequentemente a contrapartida de intenções vazias que não soubemos realizar."

— Gilles Deleuze, in Diferença e Repetição (Lisboa: Relógio d'Água, 2000)

2 de março de 2007

PALAVRAS SÁBIAS

"Ter 40 anos, no fundo, é um pouco como ser judeu. É o olhar dos outros que nos faz tomar consciência disso."

"Para mim, exprimir o meu desejo não tem nem nunca terá nada de humilhante."


— Marie-France Pisier, actriz francesa, em entrevista a Sophie Grassin na edição de Dezembro de 2006 da revista Premiére

O POVO EM LUTA

Estava eu a ver as reportagens da manifestação da CGTP de hoje, com deputados e figuras públicas a dizerem que as coisas nunca estiveram tão más para os trabalhadores e tão boas para o capital, e de repente senti que estava outra vez nos "anos quentes" do pós-25 de Abril ou da década de 80. Terei sido o único?

1 de março de 2007

Ó PRÓ MEU IPOD TÃO ECLÉCTICO #8



The Band, A Musical History (Capitol, 2005)



Lloyd Cole, Antidepressant (Sanctuary, 2006)