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30 de dezembro de 2011

o delírio das papilas gustativas

São Francisco é uma cidade onde os restaurantes têm um "prazo de validade" muito relativo. Alguns clássicos nunca passam de moda, como o sublime Anchor Oyster Bar, onde se continuam a fazer os melhores pastéis de caranguejo que já comi (e eu nem sou um grande fã de caranguejo) e uma caldeirada de marisco de chorar por mais (dizem-me, porque não sou fã), e as ostras são fresquíssimas (isso, então, é mesmo coisa que não consigo comer). A experiência do hamburger de caranguejo, contudo, sem chegar ao nirvana do pastel de caranguejo, é francamente digna de repetir. Os preços, hélàs!, não são muito convidativos, mas para uma refeição especial vale mesmo a pena.

Sítio novo também de preços um bocadinho puxados, mas francamente recomendável, é o Boxing Room. A ideia é uma espécie de "nouvelle cuisine" da Louisiana, ou de clássicos da comida americana revistos por uma sensibilidade do Sul americano (exemplo: a entrada de amendoins cozidos à "cajun", que são cozidos inteiros com especiarias e vêm para a mesa ainda por descascar num pequeno caldeirão; ou o hamburger da casa, servido com "molho de mostarda crioula"). A comida é muito boa, mas a arquitectura é fabulosa: uma sala alta e envidraçada em madeira, arejadíssima, bem no centro de Hayes Valley, onde antes ficava o Citizen Cake (que mudou entretanto para a Fillmore). Toque de classe: as bebidas são servidas em pequenas canecas-jarro.

Outra novidade de preços mais em conta é o Starbelly, menos um restaurante do que um café-restaurante com "comfort food" (que se pode traduzir por "comida da mamã") ideal para os pequenos-almoços-almoçarados que fazem aqui tanto furor ao fim de semana e aos feriados: saladas, sanduíches, pizzas. Bem boas, por sinal, e servidas numa sala comprida com esplanada coberta e aquecida nas traseiras (sim, porque mesmo de Natal eles comem na rua).

Em vez das sobremesas de restaurante, no entanto, bom mesmo é fazer-se ao gelado caseiro das geladarias gourmet da cidade. Duas em particular merecem tudo, e numa comi provavelmente o melhor gelado que já provei: na Smitten, recém-inaugurada num jardinzinho de Hayes Valley, onde o gelado é (juro-vos) fabricado à frente do cliente, misturado numa máquina de azoto líquido. Isto limita o número de sabores disponíveis diariamente (um máximo de quatro, com uma máquina para cada sabor) mas garante também que o gelado é literalmente fresquíssimo, acompanhado por coberturas feitas na casa (experiência: baunilha com malte, com cobertura de praline de cacau em nougat). De fabrico caseiro igualmente mas mais tradicional são os gelados da Bi-Rite Creamery em Dolores Park, com sabores como mel e alfazema, caramelo salgado ou chá Earl Grey, acompanhados por bolachas e biscoitos feitos diariamente na própria loja. As filas, mesmo em pleno Inverno, dão a volta à esquina (o gelado de baunilha e chocolate com coco que provei justificava plenamente a espera).

Desconfio que vou recuperar os cinco quilos que tinha perdido.

28 de dezembro de 2011

I've got an iPhone and I'm going to use it

Toda a gente em São Francisco tem um smartphone (e oitenta por cento dos smartphones de São Francisco são iPhones, mas isso agora não interessa nada), e toda a gente em São Francisco está permanentemente a fazer qualquer coisa com o smartphone ao pequeno-almoço, ao almoço, ao café, ao jantar, enquanto bebe um copo, etc. Não é um exclusivo americano, nem de São Francisco, mas atinge aqui uma dimensão que ainda não senti em Lisboa - ao ponto de ter visto alguém no Café Mystique a tirar uma foto do almoço com o iPhone. Tenho a sensação que, agora sim, estamos a entrar naquilo a que se chama "realidade aumentada".

25 de dezembro de 2011

timeout

Nos seis anos desde que visitei São Francisco pela primeira vez, muitas coisas têm vindo a mudar. Pode parecer uma verdade de La Palisse, mas é também um reflexo do modo como criamos "âncoras" numa cidade e da maneira como elas resistem, ou não, ao tempo.

Gostava de tomar um pequeno-almoço "à americana" no Welcome Home, que já fechou há uns anos. No seu lugar está agora o Café Mystique, onde não se come mal, mas que arma mais ao pingarelho do que o Welcome Home e onde o Michael Levy ia tendo um ataque com o serviço um bocadinho confuso. Sítios como o Blue e o Luna Café praticamente morreram em termos de qualidade da comida e do serviço; a cadeia Firewood continua a ser aquela solução eficaz de comida simples, funcional, bem feita e rápida. Dizem-me que o 2223 vai fechar de vez no Ano Novo, mas o La Méditerranée continua a ser uma boa opção, e o Nob Hill Cafe continua igual a si mesmo. A galeria comercial Metreon, ancorada por uma super-loja da Sony, está praticamente fechada - apenas sobraram os cinemas da AMC e pouco mais; a antiga loja da Virgin, mesmo em frente da loja da Apple, é agora mais uma loja de roupa; com a falência da Borders, a grande livraria da Union Square é agora um enorme espaço vazio e fechado. O supermercado Cala Foods da 18th passou para a cadeia Mollie Stone's.

O Castro Theatre, esse, continua em grande, com um programa de luxo que já passou pela Árvore da Vida de Malick (que ganha uma dimensão completamente nova visto com alguém especial) e, antes que 2011 acabe, ainda vai trazer dois Minnellis - Não Há como a Nossa Casa e A Roda da Fortuna -, dois Donen/Kelly - Serenata à Chuva e Um Dia em Nova Iorque -, Os Guarda-Chuvas de Cherburgo de Demy e Uma Mulher é uma Mulher de Godard. Dou por mim a pensar a falta que fazia uma sala destas em Lisboa, mas depois penso melhor e dou-me feliz por termos a Cinemateca. Os bilhetes é que estão carotes para o nível de vida local - dez dólares (sete euros) nas sessões normais do Castro, apenas dois ou três dólares mais baratos que uma sessão num dos grandes multiplex da cidade (sem 3D, evidentemente, com o qual o preço salta para os quinze dólares, ou onze euros e meio).

As ruas têm estado a abarrotar de consumistas natalícios; as compras nas lojas do costume (uma Amoeba, uma City Lights - e, actualmente, em São Francisco, livros e discos só podem mesmo ser comprados nestas lojas "mom-and-pop") ficaram, por isso, para depois do Boxing Day, o dia a seguir ao dia de Natal. Os Pittsburgh Steelers perderam escandalosamente com os San Francisco 49ers num jogo que ficou infame por ter faltado a luz duas vezes, mas compensaram esmagando os St. Louis Rams 27-0 na véspera de Natal (e sem o Big Ben na equipa).

E é bom deixarmo-nos embarcar em novas possibilidades de tradições de Natal. O espectáculo de Natal anual do San Francisco Gay Men's Chorus no Castro, equivalente local (numa estética obviamente menos convencional) do Concerto do Ano Novo de Viena, foi uma surpreendente revelação de bom humor e sábio equilíbrio entre solenidade e prazer. E a Missa do Galo anglicana, numa Grace Cathedral a abarrotar (hora e meia antes do início do serviço já quase não havia lugar sentado), um fascinante momento de ritual. Com uma atenção tão minuciosa à música sacra que mesmo os não-religiosos, como eu, puderam apreciar a beleza do momento.

Hoje é um momento de pausa. A todos um bom Natal.

19 de dezembro de 2011

é Natal, é Natal

Estão a ver a cena da Fantasia de Natal com o palhaço que foi com o coelhinho no comboio ao circo? Juro que ontem vi um presépio de Natal que tinha uma montanha-russa. Não estou a brincar. Tentaremos obter provas.

7 de dezembro de 2010

16 de junho de 2008

DAR A VOLTA AO QUARTEIRÃO

Uma das peculiaridades de São Francisco de que nunca me lembro (e que não posso dizer se é um exclusivo da cidade porque nunca reparei nas outras) é a política de ruas de sentido único na grelha central da Baixa. Que o mesmo é dizer que só as artérias mais centrais, como a Market ou o Embarcadero ou a Post, permitem a circulação nos dois sentidos: as paralelas e transversais são de sentido único, o que dá um novo sentido à frase "dar a volta ao quarteirão" (porque para reentrar numa rua de sentido único é mesmo preciso dar a volta ao quarteirão, e o trânsito está concebida para permitir isso). O quarteirão é a medida-base de distância urbana, e cada quarteirão corresponde a x números de uma rua, devidamente identificados na placa toponímica (que pode dizer, por exemplo, "O'Farrell 700" com uma seta a indicar onde começa o 700 e acaba o 799).

12 de junho de 2008

A IRMANDADE DA MASALA DE ESPERA ESPECIAL SF

Provavelmente, a maior parte das pessoas terá por esta altura começado a achar que estas férias em São Francisco têm sido um pretexto para alambazar vergonhosamente. Não é verdade a cem por cento - mas é verdade que se come tão bem em São Francisco que não aproveitar é que é mais ou menos vergonhoso, tal é a quantidade de óptimos restaurantes que existem por aqui.

Mais dois exemplos, estes italianos para juntar à lista. Um já vem de visitas anteriores - o Nob Hill Café no 1172 da Taylor (à esquina da catedral Grace) é um cantinho aconchegado ao qual tem de se chegar com tempo ou, alternativamente, de marcar mesa (não leva muita gente e é bastante concorrido), mas que, em termos de jantar, foi das melhores relações preço-qualidade que já apanhei por aqui e aquele que mais se aproximou do tamanho europeu da dose servida. (O repasto consistiu de excelentíssimo pão de alho polvilhado com parmesão e gnocchi de batata doce em molho bolonhês, rematado por um gelato de chocolate servido em massa de tarte - e, por incrível que possa parecer, tudo na dose certa para não encher, porque se tivesse enchido eu não tinha conseguido ir à sobremesa.)

Outro é uma estreia inaugurada pouco antes do Natal - o Chiaroscuro, no 550 da Washington (esquina com a Hotaling, à sombra da Pirâmide Transamerica), é um italiano mais sofisticado mas não menos excelente. A bruschetta da casa traz seis fatias pequenas de pão de alho (fabricado no próprio restaurante) com seis coberturas diferentes, que vão de tomates cereja a presunto de Parma; o hamburger de vitela caseiro é servido em pão focaccia grelhado, com queijo brie e cebolas fritas e uma salada verde a acompanhar em vez de batata frita. E mesmo apesar da vitela ser uma carne mais leve e do hamburger estar maravilhosamente feito, já não consegui ir à sobremesa. Pormenor importante: a bica é convenientemente europeia (maravilha), e os biscoitinhos secos que a acompanham não menos deliciosos. O preço é que é um pouco mais caro, porque também se paga a localização (fica no Financial District, e a clientela é obviamente mais endinheirada) e o design (muito europeu, muito sofisticado, muito Peter Saville).

9 de junho de 2008

POLAROID: PEQUENO-ALMOÇO

Um bom exemplo do que é entendido pelos americanos como pequeno-almoço, tirado do menu do Harvey's, um diner modernaço na esquina da Castro com a 18th: o "Basic Breakfast" consiste de dois ovos feitos à escolha do freguês, acompanhados por uma torrada ou um scone com manteiga, batatas fritas caseiras condimentadas e uma escolha de bacon estaladiço, fiambre grelhado ou salsicha fumada em madeira de macieira e grelhada, o "Hungry Man Combo" consiste exactamente no mesmo mas sem batatas fritas e substituindo a torrada/scone pela French Toast — que é basicamente um aparentado das nossas fatias douradas, consistindo em pão mergulhado em ovos mexidos e depois torrado ou frito. 

Depois queixem-se da obesidade e do colesterol. 

(Eu cá é mais panquecas, sobretudo com noz pecan ou amoras. Mas o sumo de laranja deles é bom.)

8 de junho de 2008

A IRMANDADE DA MASALA DE ESPERA ESPECIAL SF

Eu não sou nada de ostras e outros moluscos, mas o David jurava a pés juntos que o Anchor Oyster Bar (579 Castro) era uma pérola rara.  Tinha razão. Eu não toquei nas ostras (haverá quem goste, eu não, mas quem percebe jura a pés juntos que são do melhor) mas os pastéis de caranguejo com molho tártaro, batata assada e salada com molho de alho eram absolutamente divinais — chamar "pastel de caranguejo" àquela espécie de mousse de caranguejo leve e suave ligeiramente tostada dos dois lados é extraordinariamente redutor. Aquilo era completamente maravilhoso, bem como o ravioli tricolor caseiro de acelga e alho francês em molho de limão. O sítio é careiro como o caraças e absolutamente minúsculo (quatro mesas e um balcão corrido) mas vale absolutamente cada dólar dos muitos que o jantar custou. 

ELÉCTRICO

O truque para andar de "cable car" em São Francisco não é ir apanhá-los ao terminal da Powell, que está sempre cheio de turistas (e a maior parte das paragens ao longo da Powell até Union Square também). É ir apanhar a outra linha (California-Van Ness) uns quantos quarteirões mais abaixo na Market, na esquina da Drumm com a California, à beirinha do Embarcadero — têm sempre menos gente e dá para ir em pé agarrado aos varões (que é, admita-se, exactamente o que toda a gente quer fazer num eléctrico de São Francisco — subir e descer as encostas íngremes de pé à porta do eléctrico, comportamento que é aliás perfeitamente encorajado pelos maquinistas e agradaria sobremaneira aos miúdos que adoram apanhar boleia na parte de trás do eléctrico, embora, obviamente, a coisa tenha muito mais graça se não for encorajado). 

6 de junho de 2008

ELÉCTRICO

Também há eléctricos em São Francisco: os "tramways" clássicos da F-Line que vai da esquina da Market com a Castro até Fisherman's Wharf, e os "cable cars" que sobem as íngremes encostas, que só existem em três linhas (Powell & Mason, Powell & Hyde, California). Mas tentar apanhar o "cable car" na Powell, junto a Union Square, à loja da Apple e à Virgin Megastore, é absolutamente mentira, porque estamos essencialmente a falar de turismo, um pouco como os eléctricos antigos que ainda resistem em Lisboa: mais do que transporte público dos nativos, é transporte público para os visitantes, embora dê um jeitão para subir as encostas íngremes (e são mesmo íngremes) que levam à California. 

Claro que, para um lisboeta, o eléctrico não tem a mesma magia do desconhecido: funciona antes como um ponto de contacto (mais um) entre duas cidades nos extremos ocidentais dos respectivos países.

A IRMANDADE DA MASALA DE ESPERA ESPECIAL SF

Maravilhoso jantar maravilhoso - comida vietnamita moderna no Zadin (4039 18th Street, à esquina da Hartford, no Castro). Entradas: calamares panados em sal e pimenta com molho de lima e coentros, crepes de porco, camarão e legumes com molho de amendoim. Pratos principais: camarões fritos em molho de alho e chili com arroz de coco, massa salteada em molho picante com galinha, camarão e legumes. Tudo acompanhado por um maravilhoso chá de jasmim. 

4 de junho de 2008

A IRMANDADE DA MASALA DE ESPERA ESPECIAL SF

Tomem nota: Caffe Delucchi, 500 Columbus, na esquina com a Stockton, em North Beach. Os pastéis de caranguejo com puré de batata com alho e espinafres salteados eram maravilhosos, e a sobremesa foi vilmente e obscenamente divina: biscoito de avelã servido com gelado de baunilha. Hedonismo puro. 

CONTRASTES

Uma das coisas boas em São Francisco é que é uma cidade de bairros em que cada bairro tem a sua própria personalidade, a sua identidade — North Beach com os restaurantes italianos porta sim porta sim paredes meias com Chinatown e os restaurantes chineses porta sim porta sim; o graffiti e os prédios decrépitos do Tenderloin à beira dos magníficos museus e edifícios de arte da área do Civic Center; o sossego elegante e discreto de Nob Hill, o charme boémio e descomprometido de Noe Valley, a despretensão acolhedora do Castro. E transportes públicos — autocarros, metropolitano, eléctricos — a ligar tudo, apesar dos semáforos a cada quarteirão da grelha quadriculada do centro urbano que abrandam forçosamente qualquer carro.  

2 de junho de 2008

A MASSA NINJA

Não consigo comer com pauzinhos (eu sei que é uma questão de hábito e prática, mas como não como muita comida japonesa...). Isso torna ir comigo ao restaurante japonês uma experiência divertida. Muito divertida, como ficou provado ontem quando pedi no Mifune (no edifício Kinokuniya, em Japantown, na Post com a Webster) um prato de "udon": um pote de sopa com massa grossa, galinha, caranguejo e camarão em tempura, cogumelos shiitake e legumes. Claro que não se come com pauzinhos - o pote vem acompanhado de uma tigela com uma colher - mas passar a massa (que é grossa e longa, uma espécie de esparguete com o triplo da grossura pelo menos) da sopa para a tigela é uma experiência.

Digamos que, da próxima vez que formos comer ao japonês, o David quer vender bilhetes para o espectáculo. 

31 de maio de 2008

OBRIGADO POR TEREM VINDO

OK, eu admito que é um bocado idiota: uma pessoa não vai de férias para se meter no cinema (e ir ao cinema não é a única coisa que eu tenho feito em São Francisco). Mas é engraçado perceber que São Francisco é exactamente igual a Lisboa em certas coisas. Esta semana estreou o filme do "Sexo e a Cidade" que, só no multiplex da esquina, ocupa três salas (e o AMC 1000 Van Ness tem 14 salas...), fora os multiplexes todos da cidade (que são menos que em Lisboa, mas têm geralmente mais salas). E estreou também "Alexandra" de Alexander Sokurov, que só está no Opera Plaza, 500 metros mais abaixo na Van Ness entre a Turk e a Golden Gate - um equivalente possível do King, só que com quatro salas todas elas mais pequenas que a mais pequena do King, com projecção certinha e som aceitável mas sem condições equiparáveis às do multiplex mais michuruca. Que o mesmo é dizer que também por aqui os filmes "de arte e ensaio" lutam por serem vistos e são relegados para salas especializadas que não conseguem competir com os multiplex (mas também oferecem pipocas, doces e refrigerantes...). 

Apesar disto tudo: não tenho certeza que em Lisboa "Alexandra" tivesse um terço da sala na primeira matinée de sexta feira. E tenho certeza que nenhum dos espectadores de Sokurov em Lisboa vai comer pipocas e beber coca-cola como muitos dos espectadores dessa primeira matinée de sexta-feira. E tenho ainda mais certeza que qualquer sessão não seria antecedida pelo toque pessoal de um dos funcionários da sala vir dizer à plateia "obrigado por terem vindo ao Opera Plaza, vamos agora começar a nossa sessão, esperamos que gostem do filme".  

28 de maio de 2008

A IRMANDADE DA MASALA DE ESPERA ESPECIAL SF

Só para confirmar que a arte do pequeno-almoço pode ter formas muito diferentes do proverbial galão-e-torrada ou café-e-queque ou meia de leite-e-croissant: a primeira refeição do dia no Americano, o discreto restaurante do luxuoso Hotel Vitale, mesmo à esquina do Ferry Terminal (mas infelizmente sem vista para a baía), inclui como "amuse-bouche" um delicioso smoothie de morango, café de qualidade e sumo de laranja fresquíssimo. As opções incluem salmão fumado em pão torrado com rosmaninho, acompanhado por queijo creme caseiro, cebola e agriões; fritata de legumes acompanhada por salada de espinafres com queijo parmesão e tomate bebé; panquecas de banana servidas com manteiga caseira e xarope de ácer; omelete de cogumelos silvestres com queijo parmesão e trufa negra ralada. 

Depois disto, almoçar é mentira.

27 de maio de 2008

MUITO LÁ DE CASA

É um cinema "à antiga", que resistiu aos tempos e evitou a divisão em multi-salas - um dos raros em São Francisco a ter conseguido escapar ao camartelo. Entrar no Castro é uma experiência que recorda os bons velhos tempos em que ir ao cinema não era a banalidade pipoqueira mas sim uma experiência quase religiosa — e o Castro, inaugurado em 1922, reproduz na fachada uma catedral mexicana. E, uma vez lá dentro, o enorme candelabro art-déco, o órgão centrado no fosso de orquestra por baixo do écrã, o cortinado de veludo vermelho são relíquias de outra era que não agradarão apenas aos nostálgicos.

Claro que as pipocas e outras guloseimas são inevitáveis (afinal, não foram os EUA quem inventou a ideia de enfardar no cinema?) mas, quando as luzes se apagam e o cortinado abre, ver um écrã grande a iluminar-se é maravilhoso. Sobretudo quando o filme em questão é Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, que parece feito para os prazeres fora de moda de uma sala de cinema à antiga, com direito a fila à porta para marcar lugar meia hora antes das portas abrirem — e com uma sala suficientemente grande para haver lugar para todos.  

19 de janeiro de 2008