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27 de dezembro de 2009

DE VOLTA AO ACONCHEGO

last five played: Lush, ABC, Electronic, Judy Collins, Tommy Parsons & Lee Hazlewood
now playing: Ban, "Pá-rá-rá"
next five played: Lloyd Cole, Julia Fordham, Nino Rota, David Byrne, Nine Inch Nails

Gosto do frio seco, quase tangível, de Dezembro (e também de Janeiro), sobretudo se o céu está de um azul luminoso sem nuvens. Lembro-me de um Janeiro em Londres em que andei pela cidade a passear agasalhado num destes dias.

Gosto do calor aconchegado da cama nestas manhãs de Dezembro, enrolado na aura quente, confortável, preguiçosa do édredon, acordando com o som da TSF e deixando-me ficar a desfrutar do quentinho mais alguns minutos, ou então, por ser fim-de-semana, de me deixar estar por ali com um gato que ronrona satisfeito aos pés da cama. Lembro-me, quando era miúdo, nos anos 1970, das manhãs de domingo que ia passar enroscado com os meus pais na cama do quarto deles, com a rádio ligada na Comercial a ouvir o Pão com Manteiga ou a pôr discos no gira-discos na salinha ao lado, que eu me levantava pressuroso para mudar sempre que acabava um lado.

13 de maio de 2009

DE GOFFERT

Qualidade de vida é isto: morar no centro urbano de uma cidade de classe média-alta de 170 mil habitantes como se morássemos na província, com um jardim por trás da casa a dar para o que parece ser (mas não é) um bosque. E grande parte de Nijmegen é assim, composto por vivendas mais ou menos modernas ou mais ou menos antigas, com grandes janelas panorâmicas deixadas aberta que permitem ver todo o interior da sala, com os nomes dos residentes afixados às portas em placas. 

23 de outubro de 2008

SONÍFERO

O Valdispert pode ser (é) muito bom, mas não há como um bom livro e uma chávena de leite quente quando nos enroscamos nos lençóis para uma boa noite de sono. Se houver um gato por ali a enroscar-se aos pés da cama melhor ainda. 

3 de agosto de 2008

AS PALAVRAS DO MESTRE #7: SENSIBILIDADE E BOM SENSO

«Resumamos. Esta rubrica semanal não gostaria de se limitar a registar os sucessos garantidos. Também não tem a pretensão (que seria ridícula) de rever os lugares-comuns críticos. Também não é um índice infalível dos filmes "a ver" ou "a não ver". Simplesmente, falamos dos filmes que nos parecem interessantes por razões que nos agrada discutir com o leitor. Dizer "mal" de um filme não significa de todo que dissuadamos o leitor de o ver; tal como não garantimos que o leitor tenha certamente prazer a ver um outro filme de que dizemos bem, não apenas porque a infalibilidade não é o nosso forte, mas porque esse bem e esse mal não tem muitas vezes nenhuma medida comum. (...) As referências críticas não são as mesmas. Mal falamos da mesma coisa, mesmo que se trate de cinema. Gostaríamos que o leitor não esperasse de nós uma direcção de consciência, nem sequer um catálogo dos filmes a ver, mas simplesmente reflexões sobre acontecimentos cinematográficos que lhe caberá a ele situar relativamente à variedade dos géneros cinematográficos e naturalmente dos seus gostos particulares. Agradecemos-lhe de antemão por isso.»

Estas palavras (traduzidas do francês por moi-même) extremamente sábias e sensatas sobre a crítica (no caso de cinema, mas que são aplicáveis a praticamente tudo, quer seja literatura, televisão, música, teatro, artes plásticas ou outra coisa qualquer) foram lidas na última edição da habitualmente bem intelectual e nem sempre sensata revista francesa Cahiers du Cinéma (nº 636, de Julho/Agosto de 2008). 

Mas não foram escritas hoje, mas sim há 50 anos: mais precisamente em Junho de 1952, por André Bazin, fundador, em 1951, da revista e um dos mais influentes teóricos da arte da crítica. Ao longo de 2008, por ocasião do cinquentenário da morte de Bazin (que faleceu, aos 40 anos, em 1958 e já não teve oportunidade de ver a eclosão, no ano seguinte, do novo cinema francês que seria designado por Nouvelle Vague), a revista tem reproduzido todos os meses um dos milhares de artigos que o crítico publicou em vida mas nunca foram recuperados ou republicados nas várias antologias do seu trabalho.

E a verdade é que a simplicidade e a sensatez do trabalho crítico de Bazin nada tem a ver com muito do que passa hoje por ser "crítica": a simplicidade não implica preguiça, o pensamento não implica intelectualização. É tudo uma questão de sensibilidade e bom senso. Bazin tinha-as, muitos dos seus seguidores nem por isso. 

13 de junho de 2008

LER

Não tenho uma boa explicação, mas praticamente todos os livros que tenho lido nestas férias são livros sobre cinema - é um pouco como se trouxesse trabalho de casa, só que não é, porque não os estou a ler por obrigação mas sim por prazer. E o acaso quis que, primeiro, fossem todos sobre cinema, e, segundo, que parte deles tenham sido comprados em São Francisco, nesse tesouro do livro em segunda mão que é a Aardvark Books (227 Church na esquina com a Market).

Future Noir: The Making of Blade Runner, de Paul M. Sammon (Nova Iorque: HarperPrism, 1996), é o que o seu título indica - a história da criação e produção do filme de Ridley Scott de que eu tanto gosto. De certa maneira, é o equivalente literário do fabuloso documentário que acompanhava a recente edição em DVD do filme, só que anterior aí uns bons dez anos. É um livro claramente de "obsessivo", meticulosamente pesquisado, e por isso mesmo pontualmente enfastiante na sua preocupação com pormenores que não têm verdadeiramente a importância que Sammon lhes quer dar. Alguns capítulos são genuinamente supérfluos e há momentos em que se percebe que Sammon não sabe o que dizer, outros são pequenas jóias (as discussões sobre as várias versões do argumento e sobre a relação problemática de Philip K. Dick com a produção são notáveis).

Adventures in the Screen Trade: A Personal View of Hollywood and Screenwriting, de William Goldman (Nova Iorque: Warner Books, 1984), é uma mistura de memória pessoal e introdução sucinta ao funcionamento de Hollywood escrita por um romancista e dramaturgo que se tornou argumentista de sucesso (Dois Homens e um Destino, Os Homens do Presidente). É um retrato notável, lúcido e incisivo, da Hollywood pós-1970 que, apesar de escrito há quase 25 anos, continua a ser de uma actualidade arrepiante; ao mesmo tempo, é também um dos mais extraordinários retratos que já li do que significa escrever, quer seja para um livro ou para o cinema. Dispensavam-se as bojardas à teoria dos autores (muito pragmaticamente americanas), e pelo final, quando Goldman começa a dissecar como se escreve um argumento, a coisa começa a ser demasiado técnica - o que não invalida que eu ache que devia ser leitura obrigatória para qualquer cineasta português (lema muito grande: "SCREENPLAY IS STRUCTURE").

All About "All About Eve", de Sam Staggs (Nova Iorque: St. Martin's Press, 2000), é o único dos três que não foi comprado mas sim emprestado pelo Michael: é uma combinação de história da produção de um dos filmes mais aclamados da Hollywood dos anos 1950, All About Eve de Joseph L. Mankiewicz, e comentário sociológico sobre a sua longevidade enquanto filme clássico e objecto de culto pelas comunidades profissionais do teatro e gay (que não são necessariamente a mesma). Meticulosamente pesquisado e montado a partir de depoimentos recolhidos noutros livros e artigos (quando Staggs começou a escrever, a maior parte dos envolvidos no filme já haviam falecido), All About "All About Eve" é fascinante enquanto história da produção de um filme de prestígio dentro do sistema de estúdio da Hollywood clássica, e intrigante no modo como investiga ao milímetro a base real da sua história ficcional e o que o filme representou para cada um dos intervenientes. No entanto, assim que Staggs começa a entrar em áreas de crítica cinematográfica e comentário sociológico, o livro afoga-se por completo, com o autor a arranjar justificações que pura e simplesmente não se aguentam à tona para justificar o culto. Isto para já não falar do inexplicável desprezo que Staggs vota à obra posterior de Mankiewicz e da displicência com que trata Minnelli e Fassbinder como fraudes empoladas. Pessoalmente, teria gostado bem mais do livro se Staggs não se tivesse deixado levar por uma agenda que o texto não consegue justificar.

14 de maio de 2008

BIPOLAR, COMO OS INTERRUPTORES

Há dias assim, em que não conseguimos adormecer porque cá-dentro-inquietação-inquietação, e depois quando acordamos recuperados ficamos sempre à espera que caia a bigorna, como nos desenhos animados, e depois o capacete começa a levantar apesar do tempo estar feio, e há um gato felpudo que dorme todo sossegado no sofá como se não fosse nada com ele, e uma pessoa fica bem disposta. 

20 de outubro de 2007

PRAZERES SIMPLES

Depois de uma semana fechado em casa a "aviar" DVDs para fazer a cobertura que o glorioso DocLisboa deste ano merece, a felicidade pode ser ver um gatinho a brincar sozinho à apanhada com os restos de um brinquedo de peluche mastigado para lá de qualquer reconhecimento.

Ou pode ser um calmíssimo passeio de automóvel do Parque das Nações a Paço d'Arcos pela marginal beira-rio, mesmo que ainda haja obras do Metro a tapar o dito cujo aqui e ali, sob o glorioso sol de Verão tardio, a ver o mar calmo onde o rio desagua a brilhar com mil centelhas de luz reflectida.

Ou pode ser uma chamada telefónica de longa distância onde ouvimos aquela voz que tanto nos diz e da qual tantas saudades temos.

Ou pode ser, apenas, estar longe da voragem.