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3 de agosto de 2008

AS PALAVRAS DO MESTRE #7: SENSIBILIDADE E BOM SENSO

«Resumamos. Esta rubrica semanal não gostaria de se limitar a registar os sucessos garantidos. Também não tem a pretensão (que seria ridícula) de rever os lugares-comuns críticos. Também não é um índice infalível dos filmes "a ver" ou "a não ver". Simplesmente, falamos dos filmes que nos parecem interessantes por razões que nos agrada discutir com o leitor. Dizer "mal" de um filme não significa de todo que dissuadamos o leitor de o ver; tal como não garantimos que o leitor tenha certamente prazer a ver um outro filme de que dizemos bem, não apenas porque a infalibilidade não é o nosso forte, mas porque esse bem e esse mal não tem muitas vezes nenhuma medida comum. (...) As referências críticas não são as mesmas. Mal falamos da mesma coisa, mesmo que se trate de cinema. Gostaríamos que o leitor não esperasse de nós uma direcção de consciência, nem sequer um catálogo dos filmes a ver, mas simplesmente reflexões sobre acontecimentos cinematográficos que lhe caberá a ele situar relativamente à variedade dos géneros cinematográficos e naturalmente dos seus gostos particulares. Agradecemos-lhe de antemão por isso.»

Estas palavras (traduzidas do francês por moi-même) extremamente sábias e sensatas sobre a crítica (no caso de cinema, mas que são aplicáveis a praticamente tudo, quer seja literatura, televisão, música, teatro, artes plásticas ou outra coisa qualquer) foram lidas na última edição da habitualmente bem intelectual e nem sempre sensata revista francesa Cahiers du Cinéma (nº 636, de Julho/Agosto de 2008). 

Mas não foram escritas hoje, mas sim há 50 anos: mais precisamente em Junho de 1952, por André Bazin, fundador, em 1951, da revista e um dos mais influentes teóricos da arte da crítica. Ao longo de 2008, por ocasião do cinquentenário da morte de Bazin (que faleceu, aos 40 anos, em 1958 e já não teve oportunidade de ver a eclosão, no ano seguinte, do novo cinema francês que seria designado por Nouvelle Vague), a revista tem reproduzido todos os meses um dos milhares de artigos que o crítico publicou em vida mas nunca foram recuperados ou republicados nas várias antologias do seu trabalho.

E a verdade é que a simplicidade e a sensatez do trabalho crítico de Bazin nada tem a ver com muito do que passa hoje por ser "crítica": a simplicidade não implica preguiça, o pensamento não implica intelectualização. É tudo uma questão de sensibilidade e bom senso. Bazin tinha-as, muitos dos seus seguidores nem por isso. 

1 comentário:

Mr. Steed disse...

olha...vou ter o meu momento Fagundes:

BRAVO!!!!BRAVO!!! EXCELENTE POST!!!

Pode-se aplaudir de pé? Pode-se?

Vou obrigar toda a gente a ler isto!