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19 de dezembro de 2007

CHAMEM A POLÍCIA QUE EU NÃO PAGO

No metro do Marquês de Pombal perto da hora do almoço, uma senhora de voz rouca e chapéu-de-chuva encharcado resmunga em voz muito alta que ressoa de modo particularmente sonoro na acústica da estação a dizer que não tem a renda em atraso não senhor a um senhor que diz que isso não é nada com ele e ela que vá queixar-se à senhoria.

24 de setembro de 2007

POLAROID: METRO

Duas mulheres, conversando animadamente em crioulo, entram na última carruagem do metro e, sem grande vontade de irem em pé, tentam abrir a porta que daria para a carruagem da frente. Ao encontrarem-na trancada, acham estranho e insistem até perceberem que ela não abre mesmo e desistirem. Estive quase para lhes dizer: lá fora é que há correspondência entre as carruagens.

31 de agosto de 2007

A HISTÓRIA SECRETA DOS CORREDORES MISTERIOSOS

No túnel do metro, logo a seguir à saída da estação do Jardim Zoológico, em direcção à estação das Laranjeiras, quem estiver a olhar para o interior do túnel verá, iluminado por uma das lâmpadas fluorescentes do tecto, antigos cartazes eleitorais da APU. Afinal, cada centímetro conta, não é?

29 de agosto de 2007

OS HABITANTES DO METRO

São aquelas pessoas que nunca vemos fora dos corredores das estações ou dos comboios em movimento. Os pedintes que se sucedem ou que reconhecemos se fizermos o mesmo percurso diariamente, da senhora idosa que percorre as carruagens com uma muleta enquanto pede esmola com uma voz chorosa aos seguranças vestidos de preto com o logotipo da empresa a vermelho. Mas nunca vi nenhum como os dois com que me cruzei na linha azul a uma semana de intervalo.

Uma senhora negra, razoavelmente bem vestida e carregando sacos de plástico do supermercado, entra na carruagem a falar sozinha em voz alta, mas percebo depois que não está a falar sozinha: está a anunciar a quem a quiser ouvir do apocalipse que se aproxima, embora ela própria diga que não sabe quando vai ser nem como vai ser, se será água, fogo ou outra coisa qualquer. Algumas pessoas fingem não ouvir, outras sorriem. A senhora continua a pregar, perfeitamente alheia às reacções dos outros passageiros.

Hoje, um senhor dos seus 60 anos percorre a estação agitando uma velha flâmula do Benfica, dizendo entre sorrisos meio tolos a quem o quiser ouvir que "hoje eu sou do Benfica".

21 de agosto de 2007

POLAROID: MÃES E FILHOS

As mães e outros parentes que viajam nos transportes públicos com as suas criancinhas têm essencialmente duas opções de comportamento quando confrontadas com a hiperactividade pública das criancinhas. Uma: ignoram-nas com um ar ausente, como quem diz, "são miúdos, isto já passa". Outra: fazerem má cara e olharem para elas com o ar "não perdes pela demora". Seria interessante ver também porque é que as criancinhas ficam tão hiperactivas nos transportes públicos, mas isso são outras histórias.

8 de julho de 2007

POLAROID: METRO

Dois dos mendigos cegos portugueses que fazem diariamente o percurso das carruagens de metro na linha azul encontram-se na mesma carruagem vindos de pontas diferentes e fazem uma grande festa um ao outro. Durante algumas estações, agarram-se a um dos varões centrais e conversam sobre a vida num tom de quem acabou de sair do trabalho ou está a fazer uma pausa para uma ginjinha ou um café. Só quando chegam ao Marquês de Pombal páram com a conversa e seguem cada um na direcção em que iam antes de se encontrarem.

7 de julho de 2007

POLAROID: METRO

A jovem sai do comboio para o cais a correr, como se estivesse atrasada ou não quisesse perder o autocarro. Pára para descalçar as sandálias que a atrapalham e sobe as escadas descalça, a correr, antes de atender o telemóvel e parar logo antes dos torniquetes.

21 de junho de 2007

POLAROID: METRO

Duas senhoras aguardam pacientemente pelo metro, mas no cais errado da estação do Rato — no cais terminal, onde são as únicas passageiras sentadas, enquanto no cais oposto as pessoas aguardam o próximo comboio. Esperam alguém ou enganaram-se na direcção?

8 de maio de 2007

POLAROID: METRO

No metro em direcção ao Marquês de Pombal, começa a ouvir-se a certa altura o som de um acordeão mal tocado que procura desenhar a melodia do "Over the Rainbow", sem o conseguir. Quando passa por mim, vejo que é um dos "mendigos profissionais" que chegaram de Leste, e que o seu domínio do instrumento é fraco para não dizer quase inexistente. Rapidamente, contudo, o som do seu acordeão é abafado por um outro acordeão que vem do fundo da carruagem, forçando-o a sentar-se num lugar vazio à espera que o comboio chegue ao Marquês. O outro acordeão é tocado por um cego português que já há muitos anos vejo a tocar no metro, e do instrumento sai uma marchinha de Lisboa afinada e reconhecível.

4 de maio de 2007

PEQUENO MOMENTO BELEZA AMERICANA DO DIA

Enquanto espero pela chegada do comboio, páginas de um jornal gratuito, levadas pelo vento que entra na estação do Marquês de Pombal por uma das entradas, voam para a linha férrea.

2 de maio de 2007

POLAROID: METRO

Duas pedintes cegas cruzam-se a meio da mesma carruagem longa do metro, depois de terem começado nas pontas opostas uma da outra; as suas melopeias, as suas vozes, o ritmo que batem com a bengala diferenciam-se significativamente. Um cavalheiro idoso de fato e gravata bate sem querer com o chapéu de chuva numa senhora sentada e pede desculpa.