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30 de junho de 2008

PORTUGAL NO SEU MELHOR

Vejo o Jornal das 7 da SIC Notícias. Fala-se do aumento dos preços dos transportes públicos (cinco cêntimos na maior parte dos bilhetes) e ouve-se um utente a dizer que este governo está a roubar o país e este povo está muito tolerante. Na peça seguinte, diz-se que os preços das missas e dos sacramentos aumentaram 33% (uma missa que custava €7,50 passa a custar €10) e ouvem-se fiéis a dizer que os padres também precisam de viver e que se toda a gente sobe os preços eles também devem subir. 

MAL EMPREGADA

A loja Ben & Jerry's do Chiado (que como todos sabemos é o equivalente do paraíso, embora eu esteja particularmente descontente por não ter havido nos últimos tempos o pornográfico Oatmeal Cookie Chunk) supostamente funciona em pré-pagamento. Digo supostamente porque jamais nas minhas visitas pós-prandiais ao recinto foi exigido o pré-pagamento — até ao momento em que, na minha mais recente visita, a empregada informou do pré-pagamento quando chegou a nossa vez de ser atendidos, e depois atendeu primeiro um casal que tinha chegado depois. O que não nos deixou, a mim e à Marta, nada satisfeitos, e levou-me a dar na mocinha uma descompostura, civilizada mas descompostura, como já não dava há muito tempo (e que me soube muitíssimo bem, aqui entre nós — será que sou sádico e não sabia?), fazendo-a ver que nós tínhamos chegado primeiro e que, aparentemente, só se lembram do pré-pagamento quando convém aos empregados, e que ela tinha sorte de eu não pedir o livro de reclamações...

...desta vez. Eu sei que há um papel a pedir "colaboradores" na montra da loja (de facto aquilo não deve ser nada bem pago) e que trabalhar ao balcão de uma geladaria está longe de ser o sonho de qualquer um, mas custa tanto fazer bem como fazer mal e, que raio!, fazer um sorriso para os clientes não custa nada. 

26 de junho de 2008

MAL EMPREGADO

Na cafetaria do Corte Inglés, uso o cartão de crédito para pagar o almoço, mas nunca mais mo devolvem e às tantas o empregado vem ter comigo a dizer que o cartão dá erro, porque "ainda não está activo - só começa a 2 de Julho", apontando para a data que está no cartão. Mostro-lhe um talão do cartão da véspera e digo-lhe: "desculpe, mas ainda ontem paguei sem problemas com este cartão. E essa data não é 2 de Julho — é Fevereiro de 2007, que foi quando o cartão entrou em funcionamento". 

Claro que o cartão passou. 

24 de junho de 2008

A FÚRIA DO PANDA

O trailer é tão absolutamente maravilhoso que quaisquer palavras são desnecessárias.

OS PAIS NAO DEVIAM MESMO GOSTAR NADA DELA

Nome da empregada que me atendeu hoje num dos cafés do Picoas Plaza, escrito na conta: Irondina. 

POLAROID

Quando entro no café, a rua estreita de sentido único está semi-entupida por um camião parado em cima do passeio a descarregar andaimes. Isto por si só não entupiria a rua, não se desse o caso de haver três carros estacionados em cima do outro passeio; isto obriga os carros que querem passar a guiarem muito devagarinho para não baterem nem no camião nem nos carros estacionados, mas cria também uma fila de carros que entope o trânsito até à avenida. Há um taxista velhote, cinquentão, que sai do carro exasperado; há um carro da polícia que está também na fila que quer virar. O taxista exasperado barafusta com o pessoal do camião e depois vai falar com os polícias, como quem diz, vocês estão aqui, façam o vosso trabalho.

Quando saio do café, a fila desapareceu, os polícias desapareceram, o taxista desapareceu. Mas o camião ainda lá está. 

18 de junho de 2008

POLAROID: AEROPORTO

Segunda coisa que vejo ao chegar ao aeroporto de Lisboa (porque a primeira foi a fila para o controle de passaportes de cidadãos não-europeus): o mesmo carrocel de bagagem onde vão sair as bagagens do meu vôo recebe as bagagens de um vôo proveniente de Amesterdão que parece ter transportado uma comitiva de... padres católicos. A quantidade de sotainas à espera das malas não engana. 

16/06/2008: US 738 PHL 20h20 - LIS 08h30

Três horas de escala no aeroporto de Filadélfia (porque o vôo de São Francisco chegou antes da hora) deram para perceber que as instalações do aeroporto são muito simpáticas (com cadeiras de baloiço espalhadas pelos corredores, muitas delas junto a tomadas de electricidade que dão para ligar o portátil e aproveitar a internet sem fios que o aeroporto mantém), mas também para confirmar que os controles nos aeroportos americanos são mais rigorosos à entrada do que à saída. Na escala de ida, depois de ter passado o guichet do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras americano, a bagagem de porão tem de ser levantada e reembarcada e temos de voltar a passar pelo controle de segurança; na escala de volta nada disso acontece, é como se fosse uma escala normal em território europeu, sem precisar de levantar e reembarcar a bagagem nem de voltar a passar pela segurança.

Ao contrário do que tem sido habitual, o vôo para Lisboa vem completamente cheio; fico ao lado de um casal que viaja com os filhos adolescentes (que ficaram na fila de trás) e que se pergunta em voz alta quanto português os seus conhecimentos de espanhol lhes vão permitir compreender de uma língua que lhes foi anunciada como uma mistura de polaco e espanhol. Na fila de frente, viaja um casal com três filhos pequeninos; duas filas à frente, um casal com um bebé e uma filha pequena; duas atrás, um casal com um bebé; e o comissário de bordo é o mesmo que apanhei no vôo de Filadélfia para Lisboa, com o mesmo sotaque brasileiro, só que desta vez com o ar enfastiado de quem não tem vontade nenhuma de estar ali. Levámos 40 minutos desde sair da porta de embarque até descolarmos — só por causa da fila de aviões a descolar... — e dormir durante as seis horas de vôo foi mentira, graças aos encontrões das hospedeiras quando passavam pelo meu lugar, às birras das criancinhas ou às visitas ao toilette dos vizinhos de fila. Ou se calhar sou só eu que estava chateado por voltar de férias. 

16/06/2008: UA 184 SFO 9h01 - PHL 17h33

No aeroporto de São Francisco, ao embarque de regresso a Filadélfia, a porta 87 tem um écrã LCD por cima do balcão de embarque que mantém — como deve ser — os passageiros informados do estado do vôo. Não apenas se o avião já chegou ou se já está pronto para embarcar, mas sobretudo se os passageiros que solicitaram um upgrade de cabine vão conseguir tê-lo (não conseguiram) e se os passageiros em "standby" ou em "overbooking" vão conseguir viajar neste vôo (a maior parte deles conseguiram). A parte chata — lá está, é a democratização do transporte aéreo... — é que o embarque faz-se por zonas e quando chegou à minha zona, já não tinha onde meter a bagagem de mão, porque estava tudo cheio (e a United ainda não tinha começado a cobrar os 15 dólares que vai começar a cobrar por cada mala embarcada no porão...). Não fosse a simpatia da vizinha de coxia que pegou no portátil e o enfiou debaixo do assento e não estou muito bem a ver onde é que eu ia meter a mochila. Chato mesmo foi a viagem em ritmo "camioneta de carreira", com muita ondulação... 

16 de junho de 2008

DAR A VOLTA AO QUARTEIRÃO

Uma das peculiaridades de São Francisco de que nunca me lembro (e que não posso dizer se é um exclusivo da cidade porque nunca reparei nas outras) é a política de ruas de sentido único na grelha central da Baixa. Que o mesmo é dizer que só as artérias mais centrais, como a Market ou o Embarcadero ou a Post, permitem a circulação nos dois sentidos: as paralelas e transversais são de sentido único, o que dá um novo sentido à frase "dar a volta ao quarteirão" (porque para reentrar numa rua de sentido único é mesmo preciso dar a volta ao quarteirão, e o trânsito está concebida para permitir isso). O quarteirão é a medida-base de distância urbana, e cada quarteirão corresponde a x números de uma rua, devidamente identificados na placa toponímica (que pode dizer, por exemplo, "O'Farrell 700" com uma seta a indicar onde começa o 700 e acaba o 799).

SE CONDUZIR...

Estão a ver aqueles autocolantes que começaram a aparecer em Lisboa que dizem "Esta viatura é conduzida por um profissional. Se detectar alguma coisa de errado, telefone para o xxx-xxx-xxx"? O equivalente americano, visto hoje numa carrinha blindada de recolha de valores em plena Market, diz apenas "How's my driving?" e dá o número para onde ligar em baixo.

Uns quarteirões mais à frente, um motociclista furioso puxa o capacete no meio da Geary e faz os possíveis para ir às trombas de um gorducho com ar de Soprano maçado que saiu do seu monovolume bem volumoso, com outro motociclista a tentar impedi-lo. Não percebi exactamente o que aconteceu nem se chegou a haver acidente — não havia vidros no chão nem polícia à volta — mas o que não faltava eram mirones, tal e qual como em Lisboa.  

A ARTE DO BUMPER STICKER

Visto num carro algures na Market:

"Try Jesus!"

e em baixo, em letras pequenas:

"If you don't like him, the devil can always take you back." 

13 de junho de 2008

LER

Não tenho uma boa explicação, mas praticamente todos os livros que tenho lido nestas férias são livros sobre cinema - é um pouco como se trouxesse trabalho de casa, só que não é, porque não os estou a ler por obrigação mas sim por prazer. E o acaso quis que, primeiro, fossem todos sobre cinema, e, segundo, que parte deles tenham sido comprados em São Francisco, nesse tesouro do livro em segunda mão que é a Aardvark Books (227 Church na esquina com a Market).

Future Noir: The Making of Blade Runner, de Paul M. Sammon (Nova Iorque: HarperPrism, 1996), é o que o seu título indica - a história da criação e produção do filme de Ridley Scott de que eu tanto gosto. De certa maneira, é o equivalente literário do fabuloso documentário que acompanhava a recente edição em DVD do filme, só que anterior aí uns bons dez anos. É um livro claramente de "obsessivo", meticulosamente pesquisado, e por isso mesmo pontualmente enfastiante na sua preocupação com pormenores que não têm verdadeiramente a importância que Sammon lhes quer dar. Alguns capítulos são genuinamente supérfluos e há momentos em que se percebe que Sammon não sabe o que dizer, outros são pequenas jóias (as discussões sobre as várias versões do argumento e sobre a relação problemática de Philip K. Dick com a produção são notáveis).

Adventures in the Screen Trade: A Personal View of Hollywood and Screenwriting, de William Goldman (Nova Iorque: Warner Books, 1984), é uma mistura de memória pessoal e introdução sucinta ao funcionamento de Hollywood escrita por um romancista e dramaturgo que se tornou argumentista de sucesso (Dois Homens e um Destino, Os Homens do Presidente). É um retrato notável, lúcido e incisivo, da Hollywood pós-1970 que, apesar de escrito há quase 25 anos, continua a ser de uma actualidade arrepiante; ao mesmo tempo, é também um dos mais extraordinários retratos que já li do que significa escrever, quer seja para um livro ou para o cinema. Dispensavam-se as bojardas à teoria dos autores (muito pragmaticamente americanas), e pelo final, quando Goldman começa a dissecar como se escreve um argumento, a coisa começa a ser demasiado técnica - o que não invalida que eu ache que devia ser leitura obrigatória para qualquer cineasta português (lema muito grande: "SCREENPLAY IS STRUCTURE").

All About "All About Eve", de Sam Staggs (Nova Iorque: St. Martin's Press, 2000), é o único dos três que não foi comprado mas sim emprestado pelo Michael: é uma combinação de história da produção de um dos filmes mais aclamados da Hollywood dos anos 1950, All About Eve de Joseph L. Mankiewicz, e comentário sociológico sobre a sua longevidade enquanto filme clássico e objecto de culto pelas comunidades profissionais do teatro e gay (que não são necessariamente a mesma). Meticulosamente pesquisado e montado a partir de depoimentos recolhidos noutros livros e artigos (quando Staggs começou a escrever, a maior parte dos envolvidos no filme já haviam falecido), All About "All About Eve" é fascinante enquanto história da produção de um filme de prestígio dentro do sistema de estúdio da Hollywood clássica, e intrigante no modo como investiga ao milímetro a base real da sua história ficcional e o que o filme representou para cada um dos intervenientes. No entanto, assim que Staggs começa a entrar em áreas de crítica cinematográfica e comentário sociológico, o livro afoga-se por completo, com o autor a arranjar justificações que pura e simplesmente não se aguentam à tona para justificar o culto. Isto para já não falar do inexplicável desprezo que Staggs vota à obra posterior de Mankiewicz e da displicência com que trata Minnelli e Fassbinder como fraudes empoladas. Pessoalmente, teria gostado bem mais do livro se Staggs não se tivesse deixado levar por uma agenda que o texto não consegue justificar.

POLAROID: AUTOCARRO

Um pai e uma filha descem a Hyde, alheios aos bêbados, drogados e outros sem'abrigo que se amontoam nas esquinas ou junto às entradas dos mini-mercados da zona; a miúda, dos seus seis-sete anos, mochila da escola às costas, brinca alheada de tudo o que a rodeia, o pai olha para trás enquanto estuga o passo, como se estivesse a ser perseguido. De repente, o pai diz qualquer coisa à miúda em chinês e ambos começam a correr para apanhar o autocarro que se aproxima da paragem ao fim do quarteirão. São sete e meia da manhã.

12 de junho de 2008

SEAMUS O'FARRELL, P. C., ESQ.

Seamus O'Farrell, P. C., Esq., instalado confortavelmente nos seus cobertores de estimação, observa o mundo do outro lado da janela do nº 730 da O'Farrell Street, em São Francisco, com o seu olhar arguto e o seu distanciamento felino. 

A IRMANDADE DA MASALA DE ESPERA ESPECIAL SF

Provavelmente, a maior parte das pessoas terá por esta altura começado a achar que estas férias em São Francisco têm sido um pretexto para alambazar vergonhosamente. Não é verdade a cem por cento - mas é verdade que se come tão bem em São Francisco que não aproveitar é que é mais ou menos vergonhoso, tal é a quantidade de óptimos restaurantes que existem por aqui.

Mais dois exemplos, estes italianos para juntar à lista. Um já vem de visitas anteriores - o Nob Hill Café no 1172 da Taylor (à esquina da catedral Grace) é um cantinho aconchegado ao qual tem de se chegar com tempo ou, alternativamente, de marcar mesa (não leva muita gente e é bastante concorrido), mas que, em termos de jantar, foi das melhores relações preço-qualidade que já apanhei por aqui e aquele que mais se aproximou do tamanho europeu da dose servida. (O repasto consistiu de excelentíssimo pão de alho polvilhado com parmesão e gnocchi de batata doce em molho bolonhês, rematado por um gelato de chocolate servido em massa de tarte - e, por incrível que possa parecer, tudo na dose certa para não encher, porque se tivesse enchido eu não tinha conseguido ir à sobremesa.)

Outro é uma estreia inaugurada pouco antes do Natal - o Chiaroscuro, no 550 da Washington (esquina com a Hotaling, à sombra da Pirâmide Transamerica), é um italiano mais sofisticado mas não menos excelente. A bruschetta da casa traz seis fatias pequenas de pão de alho (fabricado no próprio restaurante) com seis coberturas diferentes, que vão de tomates cereja a presunto de Parma; o hamburger de vitela caseiro é servido em pão focaccia grelhado, com queijo brie e cebolas fritas e uma salada verde a acompanhar em vez de batata frita. E mesmo apesar da vitela ser uma carne mais leve e do hamburger estar maravilhosamente feito, já não consegui ir à sobremesa. Pormenor importante: a bica é convenientemente europeia (maravilha), e os biscoitinhos secos que a acompanham não menos deliciosos. O preço é que é um pouco mais caro, porque também se paga a localização (fica no Financial District, e a clientela é obviamente mais endinheirada) e o design (muito europeu, muito sofisticado, muito Peter Saville).

9 de junho de 2008

POLAROID: PEQUENO-ALMOÇO

Um bom exemplo do que é entendido pelos americanos como pequeno-almoço, tirado do menu do Harvey's, um diner modernaço na esquina da Castro com a 18th: o "Basic Breakfast" consiste de dois ovos feitos à escolha do freguês, acompanhados por uma torrada ou um scone com manteiga, batatas fritas caseiras condimentadas e uma escolha de bacon estaladiço, fiambre grelhado ou salsicha fumada em madeira de macieira e grelhada, o "Hungry Man Combo" consiste exactamente no mesmo mas sem batatas fritas e substituindo a torrada/scone pela French Toast — que é basicamente um aparentado das nossas fatias douradas, consistindo em pão mergulhado em ovos mexidos e depois torrado ou frito. 

Depois queixem-se da obesidade e do colesterol. 

(Eu cá é mais panquecas, sobretudo com noz pecan ou amoras. Mas o sumo de laranja deles é bom.)

KOMPENSAN

Nos EUA não há Kompensan. Há outra coisa chamada Tums — que são basicamente Kompensans mastigáveis, com sabores sortidos (hortelã-pimenta, tutti-frutti...) e cores sortidas, e são vendidos nos supermercados em frascos de plástico com cem comprimidos ao pé das pastas de dentes e dos champôs.  

8 de junho de 2008

A IRMANDADE DA MASALA DE ESPERA ESPECIAL SF

Eu não sou nada de ostras e outros moluscos, mas o David jurava a pés juntos que o Anchor Oyster Bar (579 Castro) era uma pérola rara.  Tinha razão. Eu não toquei nas ostras (haverá quem goste, eu não, mas quem percebe jura a pés juntos que são do melhor) mas os pastéis de caranguejo com molho tártaro, batata assada e salada com molho de alho eram absolutamente divinais — chamar "pastel de caranguejo" àquela espécie de mousse de caranguejo leve e suave ligeiramente tostada dos dois lados é extraordinariamente redutor. Aquilo era completamente maravilhoso, bem como o ravioli tricolor caseiro de acelga e alho francês em molho de limão. O sítio é careiro como o caraças e absolutamente minúsculo (quatro mesas e um balcão corrido) mas vale absolutamente cada dólar dos muitos que o jantar custou. 

ELÉCTRICO

O truque para andar de "cable car" em São Francisco não é ir apanhá-los ao terminal da Powell, que está sempre cheio de turistas (e a maior parte das paragens ao longo da Powell até Union Square também). É ir apanhar a outra linha (California-Van Ness) uns quantos quarteirões mais abaixo na Market, na esquina da Drumm com a California, à beirinha do Embarcadero — têm sempre menos gente e dá para ir em pé agarrado aos varões (que é, admita-se, exactamente o que toda a gente quer fazer num eléctrico de São Francisco — subir e descer as encostas íngremes de pé à porta do eléctrico, comportamento que é aliás perfeitamente encorajado pelos maquinistas e agradaria sobremaneira aos miúdos que adoram apanhar boleia na parte de trás do eléctrico, embora, obviamente, a coisa tenha muito mais graça se não for encorajado). 

SURPRESAS

A descer para a estação de metro de Civic Center, um asiático que sobe na escada rolante usa um boné azul bebé que tem, em grandes letras brancas, as palavras "Fátima - Portugal".

A ARTE DO BUMPER STICKER

Não é exactamente um autocolante (foi visto numa T-shirt esta manhã no Embarcadero), mas podia ser:

"Eat. Sleep. Hunt. (Repeat.)"

6 de junho de 2008

ELÉCTRICO

Também há eléctricos em São Francisco: os "tramways" clássicos da F-Line que vai da esquina da Market com a Castro até Fisherman's Wharf, e os "cable cars" que sobem as íngremes encostas, que só existem em três linhas (Powell & Mason, Powell & Hyde, California). Mas tentar apanhar o "cable car" na Powell, junto a Union Square, à loja da Apple e à Virgin Megastore, é absolutamente mentira, porque estamos essencialmente a falar de turismo, um pouco como os eléctricos antigos que ainda resistem em Lisboa: mais do que transporte público dos nativos, é transporte público para os visitantes, embora dê um jeitão para subir as encostas íngremes (e são mesmo íngremes) que levam à California. 

Claro que, para um lisboeta, o eléctrico não tem a mesma magia do desconhecido: funciona antes como um ponto de contacto (mais um) entre duas cidades nos extremos ocidentais dos respectivos países.

IN THE ZONE

Vou poupar-vos às imagens trágicas, mas percebi finalmente porque é que há uns meses atrás tive uma ferida no nariz que nunca mais curava e porque é que passei a maior parte destas férias com feridas na testa que parecem resultado de uma alergia ou de uma mordidela de insecto. 

I have two words for you: herpes zoster. Ou, por outras palavras, zona — o vírus da varicela que se mantém dormente no nosso corpo e que, às tantas, volta a acordar (ao que parece por causa do stress). Vem uma pessoa de férias para não se chatear e dá-lhe isto. Uma semana de Valtrex e a coisa melhora, mas vai levar uns tempos até a testa ficar limpa. E agora percebi de onde é que apareceu a tal ferida no nariz há uns meses. 

A IRMANDADE DA MASALA DE ESPERA ESPECIAL SF

Maravilhoso jantar maravilhoso - comida vietnamita moderna no Zadin (4039 18th Street, à esquina da Hartford, no Castro). Entradas: calamares panados em sal e pimenta com molho de lima e coentros, crepes de porco, camarão e legumes com molho de amendoim. Pratos principais: camarões fritos em molho de alho e chili com arroz de coco, massa salteada em molho picante com galinha, camarão e legumes. Tudo acompanhado por um maravilhoso chá de jasmim. 

4 de junho de 2008

O EURO NOS EUA

(estamos, claro, a falar do campeonato de futebol e não da moeda...)

Num dos restaurantes italianos de North Beach, um painel diz: "LIVE SOCCER — FORZA AZZURRI".

E o equipamento de Portugal está à venda na loja da Nike em Union Square...

A IRMANDADE DA MASALA DE ESPERA ESPECIAL SF

Tomem nota: Caffe Delucchi, 500 Columbus, na esquina com a Stockton, em North Beach. Os pastéis de caranguejo com puré de batata com alho e espinafres salteados eram maravilhosos, e a sobremesa foi vilmente e obscenamente divina: biscoito de avelã servido com gelado de baunilha. Hedonismo puro. 

CONTRASTES

Uma das coisas boas em São Francisco é que é uma cidade de bairros em que cada bairro tem a sua própria personalidade, a sua identidade — North Beach com os restaurantes italianos porta sim porta sim paredes meias com Chinatown e os restaurantes chineses porta sim porta sim; o graffiti e os prédios decrépitos do Tenderloin à beira dos magníficos museus e edifícios de arte da área do Civic Center; o sossego elegante e discreto de Nob Hill, o charme boémio e descomprometido de Noe Valley, a despretensão acolhedora do Castro. E transportes públicos — autocarros, metropolitano, eléctricos — a ligar tudo, apesar dos semáforos a cada quarteirão da grelha quadriculada do centro urbano que abrandam forçosamente qualquer carro.  

3 de junho de 2008

KQED PUBLIC RADIO. THIS IS NPR NEWS

Chama-se "serviço público", 24 horas por dia, 7 dias por semana, na frequência 88.5 de São Francisco, sem publicidade de espécie nenhuma (mas com patrocinadores cujo nome é lido a espaços pelos locutores e que financiam programas específicos). Estão a ver a TSF? Tirem-lhe a música e os jingles, substituam-na por peças longas (várias por hora) que tanto falam das guerras de gangues em Los Angeles ou de colunistas independentes em Karachi - e ficam com a ideia do que é uma rádio pura e dura de notícias, alternando entre os estúdios de São Francisco da KQED e a "sede" da National Public Radio em Washington. Dá para ouvir no site para fazerem uma ideia.

2 de junho de 2008

CONTRASTES

Noite de sábado, jantar casual na California Pizza Kitchen da Van Ness, mas do outro lado da avenida a estrada está cortada pela polícia devido ao Black & White Ball, um evento de beneficência organizado anualmente pela Ópera de São Francisco, com tendas e camiões de aluguer a rodear as traseiras do edifício. E é ver sem-abrigos que empurram carrinhos de supermercado pela avenida acima por entre convidados de smoking e vestido de noite que tentam sem grande sucesso agasalhar-se contra o vento que se levantou com o anoitecer. 

A MASSA NINJA

Não consigo comer com pauzinhos (eu sei que é uma questão de hábito e prática, mas como não como muita comida japonesa...). Isso torna ir comigo ao restaurante japonês uma experiência divertida. Muito divertida, como ficou provado ontem quando pedi no Mifune (no edifício Kinokuniya, em Japantown, na Post com a Webster) um prato de "udon": um pote de sopa com massa grossa, galinha, caranguejo e camarão em tempura, cogumelos shiitake e legumes. Claro que não se come com pauzinhos - o pote vem acompanhado de uma tigela com uma colher - mas passar a massa (que é grossa e longa, uma espécie de esparguete com o triplo da grossura pelo menos) da sopa para a tigela é uma experiência.

Digamos que, da próxima vez que formos comer ao japonês, o David quer vender bilhetes para o espectáculo.