Blog-notas de ideias soltas; post-it público de observações casuais; fragmentos em roda livre, fixados em âmbar. Eu, sem filtro. jorge.mourinha@gmail.com
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29 de novembro de 2007
UNS SÃO SOBRINHOS, OUTROS SOBRINHOS-NETOS
Já alguém reparou que a cafetaria do Corte Inglés de Lisboa, mais do que estar cheia de tias, está cheia de tias-avós que pedem hamburger com ananás e torcem o nariz por levar tempo a chegar?
27 de novembro de 2007
POLAROID: ELÉCTRICO 28 (post com conteúdo eventualmente chocante)
O 28 vem cheio — com um segundo 28 vazio alguns automóveis atrás — e não pára na paragem da Calçada do Combro que está também ela cheia de passageiros aguardando a carreira. Uma jovem lança para o eléctrico que não pára, com a sua melhor voz de peixeira de mercado: "Grande filho da puta que não páras com a merda do eléctrico vazio cá atrás!"
Os passageiros que vão como sardinha em lata na parte de trás do eléctrico cheio mostram-se um tudo nada surpreendidos, mas sorriem.
Os passageiros que vão como sardinha em lata na parte de trás do eléctrico cheio mostram-se um tudo nada surpreendidos, mas sorriem.
por outras palavras:
eléctrico,
Lisboa tem muito trânsito,
observações descentradas,
polaroid
26 de novembro de 2007
THIS IS THE WORLD CALLING
Estou-me a borrifar que o video não seja grande coisa. É a melhor canção que o Bob Geldof fez na vida ("I Don't Like Mondays" incluido) e quando a diva Annie aparece no refrão é de ir às lágrimas. Sobretudo depois do episódio de hoje da minha série de cabeceira.
por outras palavras:
a história do rock'n'roll,
obsessões pop
25 de novembro de 2007
BOLETIM CLÍNICO: GATO ENTREVADO
O doente retirou o penso amarelo que lhe cobria a pata traseira esquerda na tarde de sábado e recuperou a sua movimentação normal, andando já a saltar outra vez pela casa fora e a enroscar-se todo para dormir ao pé do aquecedor ligado. Tomou o antibiótico mastigável sem problemas até à manhã de domingo, altura em que fez fita e foi obrigado a levá-lo pela goela abaixo. Tem lambido a patinha, mas não tem procurado tirar os pontos e por isso não tem necessitado de usar colar. Tem também mantido o dono à distância, como quem diz, "estás na lista negra e tão cedo não esperes que eu te desculpe".
23 de novembro de 2007
GATO ENTREVADO
D. Diogo sofreu um pequeno ferimento doméstico que exigiu três pontos numa patinha. Agora anda para ali com a pata ligada num enorme penso amarelo mas em apenas três horas já passou de se arrastar, fiteiro, a fazer os seus saltos arriscados para tudo quanto é sítio como se a ligadura não fosse impedimento.
O problema vai ser o antibiótico.
O problema vai ser o antibiótico.
22 de novembro de 2007
FUGIR COM O CIENTISTA
Soube-me tão bem ouvir isto outra vez hoje. E lembrou-me tanto de ti.
estaremos juntos separados como amantes
nesta viagem com água sem retorno
entre as queimadas vento Norte viajante
é o cacimbo africano Moçambique
ao terraço e à varanda do avô
passeios da dimensão do anarquista
ao teatro ao professor à fantasia
no matope um sono de marimbas
limpidez das areias tem
em teias de caniço
fugir com o cientista tem
estrelas a perder de vista
são trovoadas que caem no capim
o som do zinco o sentido às caminhadas
passos compridos e a voz dos velhos sábios
são a memória da sombra das acácias
ondas que cavam as areias do Bilene
e as histórias que contava José Bila
ventos parados ao subir às papaeiras
e a maravilha do canto do magaíça
limpidez das areias tem
em teias de caniço
fugir com o cientista tem
estrelas a perder de vista.
— João Afonso, "Fugir com o Cientista", in "Missangas" (Mercury/Universal, 1997)
estaremos juntos separados como amantes
nesta viagem com água sem retorno
entre as queimadas vento Norte viajante
é o cacimbo africano Moçambique
ao terraço e à varanda do avô
passeios da dimensão do anarquista
ao teatro ao professor à fantasia
no matope um sono de marimbas
limpidez das areias tem
em teias de caniço
fugir com o cientista tem
estrelas a perder de vista
são trovoadas que caem no capim
o som do zinco o sentido às caminhadas
passos compridos e a voz dos velhos sábios
são a memória da sombra das acácias
ondas que cavam as areias do Bilene
e as histórias que contava José Bila
ventos parados ao subir às papaeiras
e a maravilha do canto do magaíça
limpidez das areias tem
em teias de caniço
fugir com o cientista tem
estrelas a perder de vista.
— João Afonso, "Fugir com o Cientista", in "Missangas" (Mercury/Universal, 1997)
por outras palavras:
é a cultura,
obsessões pop,
parabenização
21 de novembro de 2007
UMA DÚVIDA EXISTENCIAL
Agora que o Millennium BCP se vai fundir com o BPI, como é que é com o pessoal que tem contas nos dois bancos?
POETA CASTRADO NÃO
A minha mãe sempre achou que o Ary dos Santos era maluco mas tinha repentes fabulosos, como este lido na longa entrevista de José Manuel Osório ao seu filho Luís Osório (Quanto Tempo, Oficina do Livro, 2003).
Eu conto-te uma outra história do Zé Carlos Ary dos Santos. Uma vez alguém lhe perguntou se alguma vez dormira com uma mulher. E ele respondeu com um murro na mesa: por vezes dou uma voltinha para a esquerda, mas não quero que se saiba porque isso me desprestigia.
Eu conto-te uma outra história do Zé Carlos Ary dos Santos. Uma vez alguém lhe perguntou se alguma vez dormira com uma mulher. E ele respondeu com um murro na mesa: por vezes dou uma voltinha para a esquerda, mas não quero que se saiba porque isso me desprestigia.
por outras palavras:
é a cultura,
portugal no seu melhor
20 de novembro de 2007
JÁ NINGUÉM ESCREVE COISAS DESTA MANEIRA
Mas, em 1903, escreviam-se coisas desta maneira...
O Magiolly amancebou-se com uma cantadora famosa, a Ana do Porto. Entre os seus percalços, cita-se o de ter gramado uma facada do D. Miguel Soutto de El-Rei, mas aquele, depois, partiu a cabeça a este com um cacete à porta do Marrare do Arco do Bandeira.
— José Pinto Ribeiro de Carvalho (Tinop), in História do Fado (Lisboa: Dom Quixote, 2003 [5ª ed.])
O Magiolly amancebou-se com uma cantadora famosa, a Ana do Porto. Entre os seus percalços, cita-se o de ter gramado uma facada do D. Miguel Soutto de El-Rei, mas aquele, depois, partiu a cabeça a este com um cacete à porta do Marrare do Arco do Bandeira.
— José Pinto Ribeiro de Carvalho (Tinop), in História do Fado (Lisboa: Dom Quixote, 2003 [5ª ed.])
por outras palavras:
Lisboa antiga,
portugal no seu melhor
19 de novembro de 2007
OS PEQUENOS PROBLEMAS DA IRMANDADE DA MASALA DE ESPERA (no regresso após uma pausa algo longa)
Na cantina da menina alice — que ficará condignamente anónima para não a deixar ainda mais triste do que ela já está — comem-se umas chamuças sublimes paredes-meias com o pornográfico e uns maravilhosos bojés. Mas há qualquer coisa no tempero ou na arte da cozinha goesa que não só não me seduz como uma porno-tikka aveludada como me deixa sempre com o estômago ó-tio-ó-tio (apesar do caril de gambas estar genuinamente bom).
14 de novembro de 2007
TWO BLOKES AND A FUCKLOAD OF CUTLERY
"Hot Fuzz" é muito bom e estreia cá para a semana.
por outras palavras:
a tecnologia é uma coisa maravilhosa não é?,
promoção desavergonhada
11 de novembro de 2007
PEQUENOS IRRITANTES QUOTIDIANOS #48
Passar por alguém que conhecemos na rua sem reparar nela porque vamos a pensar noutra coisa qualquer (as minhas desculpas à Mónica Bello no largo do Carmo e ao Tozé Brito no Colombo).
10 de novembro de 2007
PALAVRAS DE QUE GOSTO MUITO MAS QUE NÃO TÊM GRANDE UTILIZAÇÃO PRÁTICA QUOTIDIANA #83
Patibular.
(ouvida duas vezes no espaço de seis dias, pronunciada pelo Alexandre na sua fascinante alocução arqueológica e pelo João no contexto de uma conversa sobre televisão)
(ouvida duas vezes no espaço de seis dias, pronunciada pelo Alexandre na sua fascinante alocução arqueológica e pelo João no contexto de uma conversa sobre televisão)
8 de novembro de 2007
PEQUENOS IRRITANTES QUOTIDIANOS #47
Ter um porradão de moedas em casa, esquecer-me de as meter no bolso, e só reparar nisso quando levo a mão ao bolso para pagar o café ou o pequeno-almoço.
6 de novembro de 2007
ORA AQUI ESTÁ UMA BELA DEFINIÇÃO
Amigo meu americano que esteve a semana passada por Lisboa mostrou-se espantado com o pessoal que atravessa as ruas à lagardère, fora das passadeiras e sem sequer ver se vem trânsito.
Chamou-lhes "transeuntes kamikaze".
Chamou-lhes "transeuntes kamikaze".
por outras palavras:
Lisboa tem muito trânsito,
portugal no seu melhor,
questões pertinentes
5 de novembro de 2007
QUE BEM QUE SE GUIA EM PORTUGAL
Primeiro, foi o Porsche Cayenne que uma tia arrumou em plena linha do eléctrico (25, para quem quiser saber) na rua de S. Domingos à Lapa para ir à farmácia comprar não sei o quê. Depois, foi o Mercedes classe C que um executivo que provavelmente devia ter bebido um copinho ou dois a mais ao almoço arrumou à trouxe-mouxe à minha frente na rua do Salitre. Em ambos os casos, com o mais extraordinário desinteresse pela plebe que não guia Mercedes nem tem sinais exteriores de riqueza.
por outras palavras:
Lisboa tem muito trânsito,
portugal no seu melhor,
viva o transporte público
3 de novembro de 2007
PEQUENOS IRRITANTES QUOTIDIANOS #46
Os ciclistas de domingo e fim-de-semana que abrandam imenso o trânsito nas longas rectas da 24 de Julho e de Belém.
por outras palavras:
irritantes quotidianos,
Lisboa tem muito trânsito
2 de novembro de 2007
A ARTE SUBTIL DO BLOGUISMO
Na Economist desta semana:
"If a novelist and a professor argue in a forest, and no one else hears them, can it count as a controversy? Of course not (unless they blog about it afterwards)."
"If a novelist and a professor argue in a forest, and no one else hears them, can it count as a controversy? Of course not (unless they blog about it afterwards)."
por outras palavras:
descontextualizar por aí,
é a cultura,
isto anda tudo ligado,
observações descentradas
PEQUENOS IRRITANTES QUOTIDIANOS #45
As absurdas revistas institucionais que regularmente enchem os jornais sobretudo à aproximação do fim-de-semana e que toda a gente deita automaticamente para o lixo sem sequer ler. Sei que estas revistas pagam a renda a bastante gente mas pergunto-me sempre o mesmo: será que quem as faz tem plena consciência que está a trabalhar para o boneco?
por outras palavras:
irritantes quotidianos,
questões pertinentes
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