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29 de outubro de 2012

o galãozinho

Há uma cigana (idosa, cabelos brancos, sempre sozinha) que mora na minha zona e que já me habituei a ver um pouco por todo o lado. Nos correios, onde vai perguntar se já chegou não sei o quê (talvez a pensão); no supermercado, onde vai comprar os básicos; e, sobretudo, nos semáforos ou nos cafés, a pedir às pessoas se "não lhe pagam um galãozinho". Na véspera, eu tinha-a visto a pedir junto de um carro estacionado para deixar entrar passageiros; só lhe faltou entrar para dentro do carro a pedir. O dono do café, hoje, interpela-a quando a vê perguntar aos clientes, pela segunda vez no dia, se "não lhe pagam um galãozinho": "Mas então não tomou já hoje o pequeno-almoço?" E ela responde-lhe "É para aquecer que hoje está frio." O dono do café abana a cabeça.

20 de junho de 2012

727 (a voz do povo)

Diz a moça encostada à porta do autocarro vestida de modo espalhafatoso e com voz rouca, saltos altos e cabelo louro, para o senhor velhote que se prepara para sair: "O senhor saia lá e não caia, em vez de estar a olhar para onde não deve..."

15 de junho de 2012

continente, bom dia

"São nove euros e cinquenta e cinco," diz o empregado da caixa do supermercado à cliente que lhe perguntara se seria possível "fazer um embrulho" para uma das compras (e ao que ele respondera "tenho que ver").

"Puxa!", responde a senhora, "já não se pode sair de casa hoje! Já viu isto?", diz a uma vizinha que está na fila mais à frente à espera da sua vez, "Uma pessoa sai à rua e é sempre a gastar dinheiro, mais vale ficar trancada em casa, assim ao menos não gosto dinheiro."

"E já lá foi?" pergunta a vizinha na fila.

"Fui lá com a filha da minha prima," responde a senhora, "e já lhe conto uma assim que pagar", diz enquanto se dirige ao segurança da loja para ver se ele lhe faz o embrulho.

3 de junho de 2012

738 (explicit lyrics)

Quatro turistas alemães, no autocarro, falam entre si em alemão. Um senhor de meia-idade, à aproximação do Marquês de Pombal, dirige-se-lhes em francês, apontando a paragem: "Marquês de Pombal. La prochaine." Os turistas não percebem se o senhor está a falar com eles e continuam a falar entre si. O senhor fala para o ar, com ar ofendido e desconfiado: "São estes cabrões que nos andam a roubar e nós sem fazer nada." Saem todos juntos na paragem do Marquês e enquanto o autocarro parte vejo o senhor a dirigir a palavra aos turistas alemães.

16 de maio de 2012

coisas que se ouvem nos transportes públicos


Tinaiger inconsciente, loura de cabelo escorrido, vestida de cores garridas psicadélicas muito veraneantes, com sorriso de aparelho dentário, auscultadores de MP3 (um num ouvido, o outro pendurado) e telemóvel pendurado ao pescoço num cordão colorido: "Ai, não era aqui que eu tinha de ter saído!" Tinaiger inconsciente, moreno, T-shirt, calções, ténis de lona e mochila de surf fashion: "Então?" Ela: "Não era aqui, a casa dele fica bué longe!" Ele: "Então boa viagem!"

16 de dezembro de 2011

TP 354

A passageira brasileira sentada atrás de mim chama-me. "Desculpe, importava-se de não recostar a cadeira para trás? Já estou com o joelho no limite."