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25 de dezembro de 2008

TRADIÇÕES

Duas semanas antes, geralmente na última semana de aulas antes das férias do Natal, depois de almoço, íamos buscar os enfeites e o presépio à despensa, onde estavam guardados em caixas velhas. A árvore, até certa altura, era um pinheirinho de Natal comprado nem eu sei bem onde; depois, passou a ser uma construção plástica made-in-China, que era colocada em cima do "banco da cozinha" — um banquinho pequenino de madeira escura, sólida e resistente, como se fosse um banquinho de menino — revestido de papel verde. 

Os enfeites da árvore e do presépio eram muitas vezes de plástico tosco, comprados em barateiros ou parte de conjuntos com defeito; as figurinhas do presépio vinham das viagens que os meus pais faziam em autocarros para ver jogos do Benfica. Bocadinhos de algodão a fingir de neve, luzes coloridas que acendiam e apagavam intermitentemente. Depois, o presépio, montado sobre papel de embrulho ou papel de lustro verde, com uma estrela improvisada forrada a prata de chocolate presa com fita-cola por cima da cabana; um espelho a fingir de lago onde patinhos de plástico escorregavam; pescadores e varinas e moleiros e pastores dos quatro cantos de Portugal. 

O cheiro da resina do pinheiro nos primeiros dias, que se ia perdendo com o tempo; as luzes acesas na véspera de Natal, que a minha mãe passava na cozinha, a fazer os biscoitos, a bolema, os sonhos. E, mais para a noite, o bacalhau cozido e a carne de porco frita. 

A árvore ficava sempre montada durante os primeiros dez dias do Ano Novo, até passar o dia de Reis e o aniversário do meu irmão, para o qual a minha mãe fazia arroz doce polvilhado com canela que depois colocava em pires brancos com um bonito desenho de flores silvestres; havia sempre alguns pires onde a minha mãe não punha canela, mas não sei para qual dos meus irmãos era.

Deixei de gostar do Natal já há muitos anos.

4 comentários:

Pedro Aniceto disse...

Não sei se alguma vez mais irei ao musgo ou soprarei um bafo quente num espelho do Benfica que fazia de lago logo a seguir à sopradela. Mas ainda tenho umas ovelhas de louça já um bocado ratadas das quais me lembrei quando li este texto. Abraço, Jorge, um bom Ano de 2009.

menina alice disse...

Mas lembras-te bem de como era quando gostavas.

menina alice disse...

e adoro o tag do elefante!

:)***

Alexandre disse...

já não há pinheiros naturais à venda. acredita: passei uma tarde a procurá-los (havia apenas à venda no Pão de Açúcar de Cascais uma coisa a que teimavam chamar "pinheiro nórdico" e que, abanada, deixava cair agulhas e ficava assim, a modos que exangue de clorofila) e não os encontrei. para não ter que assaltar as fragas da serra de sintra, reduzi-me ao plástico, eu também.