Os enfeites da árvore e do presépio eram muitas vezes de plástico tosco, comprados em barateiros ou parte de conjuntos com defeito; as figurinhas do presépio vinham das viagens que os meus pais faziam em autocarros para ver jogos do Benfica. Bocadinhos de algodão a fingir de neve, luzes coloridas que acendiam e apagavam intermitentemente. Depois, o presépio, montado sobre papel de embrulho ou papel de lustro verde, com uma estrela improvisada forrada a prata de chocolate presa com fita-cola por cima da cabana; um espelho a fingir de lago onde patinhos de plástico escorregavam; pescadores e varinas e moleiros e pastores dos quatro cantos de Portugal.
O cheiro da resina do pinheiro nos primeiros dias, que se ia perdendo com o tempo; as luzes acesas na véspera de Natal, que a minha mãe passava na cozinha, a fazer os biscoitos, a bolema, os sonhos. E, mais para a noite, o bacalhau cozido e a carne de porco frita.
A árvore ficava sempre montada durante os primeiros dez dias do Ano Novo, até passar o dia de Reis e o aniversário do meu irmão, para o qual a minha mãe fazia arroz doce polvilhado com canela que depois colocava em pires brancos com um bonito desenho de flores silvestres; havia sempre alguns pires onde a minha mãe não punha canela, mas não sei para qual dos meus irmãos era.
Deixei de gostar do Natal já há muitos anos.
4 comentários:
Não sei se alguma vez mais irei ao musgo ou soprarei um bafo quente num espelho do Benfica que fazia de lago logo a seguir à sopradela. Mas ainda tenho umas ovelhas de louça já um bocado ratadas das quais me lembrei quando li este texto. Abraço, Jorge, um bom Ano de 2009.
Mas lembras-te bem de como era quando gostavas.
e adoro o tag do elefante!
:)***
já não há pinheiros naturais à venda. acredita: passei uma tarde a procurá-los (havia apenas à venda no Pão de Açúcar de Cascais uma coisa a que teimavam chamar "pinheiro nórdico" e que, abanada, deixava cair agulhas e ficava assim, a modos que exangue de clorofila) e não os encontrei. para não ter que assaltar as fragas da serra de sintra, reduzi-me ao plástico, eu também.
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