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6 de abril de 2007

A RAINY DAY IN BARCELONA

De facto, desconfiei desde o início que aquele moço magro, de cabelo curto e casaco de fato de treino, que rondava as mesas como quem tenta que um computador funcione, não augurava nada de bom e se estava a preparar para roubar alguma coisa a alguém. Não desconfiei que essa "alguma coisa" fosse a minha mochila e que esse "alguém" fosse eu. Entre as muitas pragas que lhe roguei e continuo a rogar, não me esqueço também de rogar pragas aos empregados do café que fizeram um ar atónito, do género "você foi roubado? no NOSSO café? como é possível?", ou ao mocinho de Alicante que me perguntou, "desculpe, aquele tipo não acabou de roubar a sua mochila?".

Não sei onde está neste momento o meu iPod ou o DVD do "Ghost Dog" de Jim Jarmusch que tinha acabado de comprar na Fnac El Triangle (em super-promoção a seis euros). Sei que concentrar-me nisso não me vai fazer absolutamente bem nenhum (até porque o passaporte, o dinheiro, os cartões, o telemóvel, estavam todos comigo e não na mochila roubada — thank Heaven for small mercies).

Sei, em contra-partida, que os polícias com quem falei, naquela tarde chuvosa que passei na esquadra da Guardia Urbana de Las Ramblas e, depois, na esquadra dos Mossos d'Esquadra do Carrer Nou de la Rambla, foram extremamente simpáticos, de uma cortesia inigualável e de um cosmopolitismo a toda a prova. Um deles — que atendera um casal de turistas igualmente roubados — falava um alemão fluentíssimo e sem sotaque, e, quando lhe expliquei que era português, falou comigo em catalão e disse-me que falasse em português que ele me entendia perfeitamente (e entendeu). Outro falou comigo em português perfeito, sem sotaque. E em ambos os casos percebi que este tipo de roubos são o pão nosso de cada dia na cidade condal: no Carrer Nou de la Rambla, a fila de atendimento para participação de roubos ultrapassava a hora de espera, valor essa ampliado do habitual pela quantidade de turistas que visitavam a cidade em início de semana santa.

Mas nós pensamos sempre que só acontece aos outros.

1 comentário:

hmscroius disse...

Hás-de experimentar apresentar uma queixa por roubo numa das esquadras da PSP do Porto; depois até agradeces teres sido assaltado em Barcelona. Só a visão daqueles dedinhos indicadores a bater sincopadamente no teclado CESAR da máquina de escrever "Petite" da Concentra, intervalados pelos olhares de suspeição do agente, como se fossemos nós os meliantes... ah, que nostalgia.