Saio da esquadra de Las Ramblas e dirijo-me a pé para a Plaça de Catalunya para apanhar táxi para o aeroporto; à minha volta, vejo turistas que passeiam sob o tempo frio e encoberto arrastando atrás de si mochilas e malas, pergunto-me quantos deles ainda as terão consigo pelo fim do dia enquanto, ainda abananado pelo que acabou de acontecer, procuro incessantemente por um sinal da minha mochila. Acabo por apanhar táxi na praça de táxis, o taxista, bem-disposto, pergunta-me em castelhano se tenho trajecto preferido, respondo-lhe igualmente em castelhano que vá pelo que lhe parecer mais rápido, ao que ele responde que, com este tempo, é moeda ao ar. Ao que parece, os condutores barceloneses em tempo de chuva são iguais aos portugueses, e o taxista, entre contar a desgraça que foi voltar ao trabalho com mau tempo depois de ter estado uma semana de cama com varicela, resmunga com os velhotes que atravessam a rua fora das passadeiras.
Já no avião de regresso a Lisboa, penso que é estranho fazer uma viagem sem bagagem. Enquanto vou alinhavando no meu bloco notas para a peça que vim cá fazer, dou por mim sentado na fila atrás de três africanos que viajam sozinhos mas muito rapidamente metem conversa, apesar de só um deles falar português fluente. Nenhum deles come a refeição ligeira oferecida pela companhia, para espanto do comissário de bordo; um deles ainda vê o que é antes de dizer que não, obrigado.
Quando o avião aterra e me dirijo para a saída, volto a achar ainda mais estranho atravessar a zona de recolha de bagagem sem mochila. A única recordação física que trago comigo desta viagem-relâmpago é o boné Kangol azul-quase-negro que comprei no Corte Inglés da Plaça de Catalunya para proteger a minha moleirinha da chuva que foi caindo.
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