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9 de julho de 2004

BIG BROTHER

De vez em quando, a imprensa musical britânica saía-se com declarações bombásticas do género "comedy is the new rock'n'roll", significando a emergência de algo que parecia estar a "usurpar" o culto, a devoção, o interesse até aí devotados à música rock.

Dei por mim a pensar nisto porque, face à actual crise política nacional, me parece que, aplicando a lógica acima mencionada, a política em Portugal é uma espécie de "reality show", um "Big Brother" onde os "concorrentes" se posicionam para assegurarem que ficam na "casa" - e onde, tal como no programa, vale tudo para manter o "tacho". Desde que o nome de Durão Barroso foi indigitado para a Presidência Europeia, tudo isto parece ter tomado os contornos de um jogo onde não é efectivamente o bem-estar do País que está em jogo (não que eu o pensasse; não sou assim tão ingénuo) mas apenas o estatuto e sua respectiva manutenção por parte dos políticos no activo. Que Portugal se lixe — é muito mais importante determinar se, face a uma Constituição que abre ambas as hipóteses, se mantém a maioria em exercício governativo ou se se convocam eleições antecipadas, e perder tempo a definir prós e contras do assunto, do que fazer coisas no interesse do país. Na ressaca do Euro, esta crise está a paralisar as instituições nacionais.

Invoquem-se as legitimidades que se quiserem, neste momento não acredito que a maior parte dos intervenientes esteja realmente a pensar em Portugal. Portugal, esse, está a pensar neles: só assim se explica o apoio que as sondagens dão a entender existir à convocação de eleições, como uma espécie de (aqui sim) "cartão vermelho" a uma classe política que, toda ela, de um extremo do espectro a outro, fala demais e faz de menos ou finge que faz.

Mas também a política sempre foi a arte de manipular a realidade para a transformar numa ficção conforme a uma única visão do mundo. E, como todos sabemos, a realidade não é nunca unidimensional.

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