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9 de junho de 2004

POLAROID SÃO JOSÉ

Pequeno susto fugaz; o meu pai no hospital com uma dor no peito, que suspeitámos ter a ver com os seus problemas cardíacos, mas que não passará de dor muscular ou de ansiedade, face às análises sem alterações e ao ECG regular.

Na sala de espera, onde o ar condicionado oferece refúgio do calor estival lá fora, uma menina de tótós, top e calções amarelos curtos e chinelos com brilho corre lampeira até à casa de banho como se fosse uma brincadeira.

Uma idosa de cabelos brancos, vestida de negro, muleta num braço e mala de mão no outro, dirige-se à casa de banho; resmunga qualquer coisa enquanto entra. Não fecha a porta enquanto a usa, mas preocupa-se em fechá-la quando sai.

As vozes entarameladas que surgem dos altifalantes, dos médicos que chamam os doentes em espera, são muitas vezes incompreensíveis; mas há nomes que são chamados vezes em conta sem que ninguém se levante na sala, com as vozes a trairem um leve enfado, alguma irritação. A oftalmologia está hoje particularmente procurada, parte significativa dos pacientes masculinos chamados são para o balcão de oftalmologia. Quando saio, há um agente da polícia, de pé à entrada da sala de espera, com um algodão e um penso a tapar-lhe o olho esquerdo; está fardado regulamentarmente, mas com o coldre vazio, sem boné à vista.

O meu pai liga do telemóvel à minha mãe a dizer que está à espera do resultado das análises. Diz-me depois que a minha mãe lhe perguntou se ele tinha dito que já tinha almoçado, porque não se deve tirar sangue depois de almoço.

Quase todas as senhoras que se dirigem à casa de banho quando esta se encontra ocupada e encontram a porta fechada tentam o puxador, batem à porta, perguntam às pessoas próximas se está ocupada, mesmo quando do outro lado ouvem o autoclismo a correr.

Telemóveis tocam com melodias infindáveis em volumes altíssimos sem que ninguém se preocupe em atendê-los.

Cá fora, já à espera de táxi, uma senhora de óculos e vestido floral em preto e branco fala para um telemóvel com uma voz estridente, esganiçada, elevada que o meu pai diz a brincar parecer de rancho folclórico das Beiras.

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