Cabo Espichel: Riva Gurara, quinta-feira 10 de Junho, 11h09: 25.9m, 38min, 20º C
O Riva Gurara é um cargueiro nigeriano que se afundou ao largo do Cabo Espichel, num temporal, em Fevereiro de 1989 e se tornou num dos spots de mergulho mais requisitados de Sesimbra; como qualquer naufrágio, exerce um fascínio inexplicável sobre os mergulhadores. Repousa a uma profundidade entre os 20 e os 30 metros, não longe da costa, mas mesmo em dias bons como o de hoje (com pouco vento, um mar chão ao longo da maior parte do percurso até ao cabo) "ir ao Riva" está longe de ser um passeio no parque; um dos companheiros de barco queixava-se da visibilidade zero e da corrente forte ali há quinze dias, substituída hoje por uma visibilidade de cinco-seis metros pelo meio de um verde-turquesa inexplicavelmente pouco frio e com relativamente pouca corrente.
É a minha primeira saída no Riva desde o curso avançado em Março, e a primeira saída que ali faço em seis anos desde que, em 1998, visitei a hélice. Com maré cheia a começar a vazar, desço com o João pelo cabo até perto dos 26 metros. Páro para ajustar algum equipamento solto, começamos a nadar contra a corrente e peço alguns minutos ao João para me acalmar; do esforço de nadar contra a corrente, do peso excessivo que levo aos rins (está na altura de tirar peso ao cinto de chumbos, como a Isabel e o Zé recomendam no regresso). O fato vermelho do João é agora de um cinzento desmaiado; as rochas do chão levam-nos até à zona da popa, menos funda que a proa, paredes verticais de chapa corroida de um lado, revelando ainda tubagens, compartimentos, divisórias do outro, onde a vida subaquática já se instalou; num pequeno "canyon" entre duas vigas, um cardume navega paulatinamente; os peixes por ali andam pacatamente.
O tempo, aqui, corre demasiado depressa, pelas leis da profundidade e do consumo de ar. Em vez de subirmos na vertical, o João dirige-me calmamente por uma zona de casco que repousa no chão invertido e relativamente intacto, parede vertical onde algumas anémonas já montaram casa, que curva no topo como um monumento em direcção à superfície. A subida em zig-zag acompanhando o percurso, sempre a olhar para a vida que se foi instalando (dois peixes-pedra aninhados num vão da quilha invertida) leva-nos até aos 15 metros, e aí sim começamos a subir calmamente, sempre com a bússola a indicar a direcção da costa. Cá em cima, pior vai ser o esforço de nadar até ao barco (canseira!), içar o equipamento e esperar que o pessoal em falta (felizmente pouco) suba do mergulho; um ou dois arrancos estomacais dão a entender que as pulseiras contra o enjôo funcionam menos bem em condições de "camioneta de carreira". Mas que funcionem bem em 95% dos casos já não é nada mau.
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