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9 de junho de 2004

PERÍODO DE REFLEXÃO

Não vou insistir na ironia de aqueles que há uns dias invectivavam furiosamente em vida António Sousa Franco agora o louvarem na morte como um grande democrata — muitos outros o fizeram e farão. Sempre soube que a política é a arte da demagogia, da fachada, do fingir; uma espécie de "reality theatre" onde só as aparências contam, onde as pessoas se deixam levar pelo jogo do faz-de-conta, mascarando em alguns casos amizades pessoais que — como deve ser — transcendem fronteiras políticas tanto quanto revelam a venalidade essencial da retórica de aluguer. Mas a morte súbita, inesperada, trágica, quase televisionada de Sousa Franco apenas veio revelar, de modo mais brutal do que é hábito, que a política não passa de uma luta de galos por um poleiro onde, a bem dizer, acaba por haver sempre lugar para todos, nem que por rotatividade. Uma arte passageira onde apenas conta parecer, independentemente do ser.

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