No ano passado, passei muitas manhãs na Hemeroteca Municipal de Lisboa, folheando revistas antigas no âmbito de uma pesquisa que andava a fazer sobre música. A colecção completa da Flama na década de 50 não me deu grandes informações significativas sobre aquilo que procurava, mas pelo contrário explicou-me muito evidentemente — pelo meio do rococó florido e elíptico que naquela altura era o jornalismo nacional... — que ser oficial do exército português era o equivalente da altura do estatuto contemporâneo de um gestor de craveira: cachet, prestígio, estatuto. Surpreendeu-me ver isso nas revistas e, a posteriori, de facto fazia sentido que assim fosse, numa altura em que era mais importante parecer do que ser, em que a fachada era tudo.
Hoje, contudo, esse prestígio e esse estatuto parece andar pelas ruas da amargura: na esquina da rua Braancamp com a Alexandre Herculano, no mesmo prédio recém-acabado de construir onde daqui a uns tempos vai ter sede a Federação Portuguesa de Futebol, ao lado do Mercado do Rato e da fantástica garagem Belle Époque que é o Auto Palace, acaba de abrir a Loja da Profissionalização. E o que é a Loja da Profissionalização? É um centro de recrutamento para as Forças Armadas. Que, acabado o Serviço Militar Obrigatório, precisam de arranjar gente, sob pena de caírem na irrelevância, e parece que não o conseguem fazer de outra maneira que não seduzindo a malta para os rigores da vida castrense.
Acho que o tal prestígio anda a fazer-lhes falta.
2 comentários:
ja que ninguém comenta, comento eu.
ser oficial das forças armadas é algo ao alcance de poucos e devias ter cuidado quanto falas sobre as forças armadas.
os sucessivos governos nao dao a devida importancia as forças armadsa até ao momento que precisarem delas.
adeus.
Fred Sard
concordo com o Ferd , não se trata de procurar prestigio mas sim de assuntos de defesa nacional . Normalmente só se lembram dos militares quando a guerra já começou.Enfim acima de tudo trata se de como disse em cima de asuntos de Defesa Nacional onde o que está em causa é a soberania que tem de ser garantida por todos mas principalmente pelos militares.
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