Blog-notas de ideias soltas; post-it público de observações casuais; fragmentos em roda livre, fixados em âmbar. Eu, sem filtro. jorge.mourinha@gmail.com
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27 de maio de 2004
VAMOS TODOS SER MAL EDUCADOS
Não é impunemente que se fazem duas obras-primas de seguida — depois de "Tudo Sobre a Minha Mãe" e "Fala com Ela", as possibilidades de uma terceira obra-prima em sequência diminuem exponencialmente. E, contudo, "Má Educação", de Pedro Almodóvar (estreia hoje), só por um tudo-nada não merece o epíteto — será o elenco, onde não há nenhuma interpretação de estarrecer como tinham nos anteriores Cecilia Roth, Marisa Paredes, Javier Cámara ou Darío Grandinetti? Será o tom de filme negro, menos imediato? O retorno às temáticas transgressoras da fase pré-"Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos", agora com uma maturidade entretanto adquirida?
"Má Educação" vai dividir as águas, pelo menos a julgar pelas opiniões contrastantes que já auscultei. O novo filme de Pedro Almodóvar não é unânime. Ainda bem que não o é. Eu cá estou com o JB: é um filme sumptuoso, hiper-romântico, de uma construção precisa e calibrada, onde tudo não é senão fachada para mascarar a imensa dor de se ser quem é e de não se poder ser outra pessoa. É Douglas Sirk e John Huston, Howard Hawks e George Cukor no espaço de um mesmo filme. É, quase, a terceira obra-prima; é, certamente, dos grandes filmes de 2004.
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