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13 de maio de 2004

OS OLHOS DA TIA DO CARRINHO DE BEBÉ

Estava eu hoje a subir as escadas do ginásio quando uma tia jovem (mas já com pelo menos três ou quatro filhos), de tez morena bronzeada, cabelo longo escorrido e olhos cristalinos, me pede para a ajudar a levar o carrinho de bebé até ao fundo das escadas. Sem responder, peguei na frente do carrinho enquanto descíamos as escadas acompanhados pelas outras crianças pequenas que eram seus filhos. Ela diz-me que ia levar o carrinho sozinha, mas quando me viu a subir com um ar tão atlético (vantagens das camisolas de rugby taparem o pneuzinho que não há maneira de se ir embora) preferiu pedir ajuda.

Ao chegarmos ao rés-do-chão o Paulo vem a sair do balneário. O Paulo é um dos instrutores de musculação do ginásio. Bom tipo, um bocado resmungão mas bom coração, com ar de Pedro Abrunhosa em mais baixo misto de sargento instrutor (o cabelo rapado tem desses efeitos), que apanhou o final da conversa com a senhora a agradecer-me efusivamente. E ficou a olhar para mim, como quem diz olha-me este tipo, ando eu aqui a tentar meter conversa com ela há não sei quanto tempo e este sem a conhecer de lado nenhum já conseguiu.

Mas o que ele me disse foi que a senhora tinha uns olhos lindos. E a única coisa de que me recordo da senhora, de facto, são os olhos claros e cristalinos.

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