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14 de maio de 2004

A CULPA É SEMPRE DOS AVÓS (DISCUSS)

Há coisa de umas semanas, apanhei a meio da tarde na loja de conveniência um avô mal-disposto e ríspido, com pouca vontade de pactuar com o consumismo desenfreado da neta ainda menina, petulante e anafada, que queria uma raspadinha, uma pastilha elástica, um gelado, enfim, o habitual nesta geração de crianças condicionada para digerir quanto açúcar houver à frente.

Parece que a resistência do avô durou pouco tempo. Ontem, reencontrei-os — e, depois de ter pago um kinder-qualquer-coisa e um donut como lanche calórico da criancinha, cedeu à vontade da bolinha petulante de também comer um gelado, que se meteu num saco de plástico para quando a criancinha tivesse terminado o seu donut oleoso.

Li uma vez que a grande vantagem de se ser avô é poder anuir a tudo o que a criança pede sem sentimento de culpa, porque estão lá sempre os pais para os educarem como deve ser. Pode ser que seja verdade, mas essa desresponsabilização parece-me demasiado facilitista. E o avô da loja de conveniência pareceu-me demasiado displicente na cedência; não sou contra os mimos de vez em quando, mas as crianças não podem crescer convencidas que lhes cai tudo no colo, que isto é o da Joana. Isso aconteceu à geração que é agora teenager e os resultados estão à vista — como os teenagers de roupa surf de marca que, numa motoreta, gritavam aos condutores por quem passavam para os assustar.

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