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21 de maio de 2004

MANIFESTAÇÃO DE SOLIDARIEDADE PARA COM OS EMPREGADOS DAS LOJAS DE CONVENIÊNCIA AO PÉ DE LICEUS

Hoje de manhã fui, como de costume, comprar os jornais de sexta-feira à minha loja de conveniência, que já vos disse que fica perto do liceu Pedro Nunes. O empregado pôs o CD do Público ao lado do jornal enquanto fazia a conta, e um adolescente daqueles que costumam encher a abarrotar a loja nos intervalos do liceu pegou no meu disco com um ar muito displicente e a dizer "o que é isto?".

Tirei-lhe imediatamente o disco das mãos e disse-lhe "geralmente pede-se licença para mexer nas coisas das outras pessoas", com a minha melhor voz de meter medo e sem sequer olhar para ele. O rapaz pediu desculpa, "não sabia que era seu, estava aqui em cima", perante os risinhos das colegas que faziam fila para comprar um chupa-chupa, um chocolate, um bollycao qualquer. O empregado apoiou-me, "por isso é que nós colocamos os papéis a dizer para não mexer nos objectos expostos".

Paguei com multibanco só para atrasar mais a fila de adolescentes com ar impossivelmente bronzeado e roupas da moda, enquanto o rapaz, convencido de que tinha graça, perguntava ao empregado, "olhe, desculpe, dá-me licença para tirar um guardanapo?".

"Agora vai passar o dia todo convencido que tem muita graça", disse eu ao empregado. (E o que aqueles empregados sofrem com os putos do Pedro Nunes. Já vi um dos responsáveis a enxotar, literalmente, um grupo bastante desordeiro e a proibi-los de entrar na loja.) Virei-me e fui-me embora, tendo que gritar aos outros para me deixarem passar. Atravessei a rua para ir tomar o pequeno-almoço ao café da frente e, à entrada, fui abalroado por outro adolescente que vinha a olhar para trás com um bolo na boca. "Vê se tens cuidado, porra!", gritei-lhe. Em vez de pedir desculpa, resmungou comigo, como se a culpa de ele me ter abalroado fosse minha.

O meu problema com os adolescentes do Pedro Nunes são vários: a arrogância pedante de quem acha que o mundo lhes deve tudo porque os paizinhos os habituaram mal desde miúdos, a pose de quem acha que tudo lhes está prometido, as roupas de marca, as correias penduradas ao pescoço com a chave ou o telemóvel, o aspecto de clique elitista, bem-posta, bem vestida, que se agrupa à volta de questões puramente supérfluas como ter o último modelo de telemóvel, vestir a marca da moda. E a absurda falta de educação que eles manifestam publicamente — porque ser bem-educado não é ser bom estudante nem apenas ter boas maneiras. E boa educação é exactamente aquilo que eu nunca vejo nos adolescentes que gritam uns para os outros, fazem um escarcéu, lêem os jornais em voz alta, pagam um chupa-chupa com multibanco, se aglomeram aos dez e aos quinze em volta da caixa, empurram e pisam as pessoas sem sequer pedirem desculpa. Comportam-se como crianças que já não são nem têm idade para ser.

Todos os dias olho para o futuro da nação quando passo na loja de conveniência e todos os dias fico convencido que a nação está perdida.

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