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31 de maio de 2004

AINDA A PROPÓSITO DE QUEM FOI

(é incontornável, no fim-de-semana parece que não aconteceu outra coisa, é mentira, como se pôde ver pelas imagens assaz estimulantes do ministro Paulo Portas a fazer humor com o economista Sousa Franco e do primeiro-ministro Durão Barroso a inaugurar por esse país fora, mas nada disso tem importância face à Cidade do Rock, que, como todos sabemos, mais não é do que um parque simpático na zona oriental de Lisboa onde houve uns concertos e foi muita gente, e face à revelação estonteante de que o Ricardo Gross não gostou de "O Despertar da Mente", como já não havia gostado de filmes anteriores escritos por Charlie Kaufman, o que me faz desconfiar sinceramente de que ele goste de cinema, estou escandalizado)

Cada cavadela, cada minhoca — assistir às reportagens das televisões portuguesas sobre o Rock in Rio é absolutamente hilariante. Ainda não vi uma, em nenhum canal, que fugisse ao estereótipo ou à asneira de quem não sabe o que está a dizer. Exemplo: Rita Marrafa de Carvalho, ontem, em directo no noticiário da RTP-1, começa por dizer que estavam em palco os "Carlinhos Brown Jr.". Depois entrevista uma menina anafada de cabelo rosa e indumentária gótica que se dizia fã dos Evanescence e que apenas respondeu às perguntas imbecis da repórter com a palavra "sim" e com a expressão "My Immortal". Depois passa para os pais que dizem que "ela gosta muito de música, de qualquer música" (mas como é possível usar as expressões "Evanescence" e "música" na mesma frase? como aliás percebi quando, ao fim da noite, passei pela SIC Radical e vi um bocadinho do concerto do grupo, o suficiente para me dar pesadelos para o resto da noite, tendo também percebido que a menina anafada afinal não era só no cabelo e na indumentária que se parecia com a vocalista do grupo).

Curioso é ver a diferença de tratamento do festival — nas coberturas diárias do Diário de Notícias e do Público, por exemplo, mantém-se um distanciamento, uma recusa em embarcar no marketing eufórico que rodeou a ocasião, enquanto as televisões optam pela postura acrítica celebratória. Faz sentido, para quem pensa que informação é espectáculo...

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