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30 de maio de 2004

POLAROID BELA VISTA

É sábado à tarde. A música começa, mas o écrã à esquerda do palco recusa-se a dar a imagem que devia; subdivide-se numa série de zonas perfeitamente geométricas, que alternam entre negro, branco, cor sólida ou grelhas de cor, fragmentos de imagem, como um screen-saver aleatório em afinação técnica. Fica assim algum tempo.

À minha frente, uma senhora de cabelo branco e T-shirt negra acena uma pequena bandeira portuguesa. O marido, de boné e camisa de ganga, está de pé à sua frente; chega um casal jovem que os beija (serão os dois filhos, só ela e ele o namorado, só ele e ela o namorado?). O rapaz traz um saco de papel da Throttleman e gel no cabelo. A senhora abre a mochila e começa a mostrar à rapariga todos brindes que já coleccionou desde que entrou no recinto: a bolsinha para os cartões do Millennium BCP, o saco-mochila de plástico amarelo da SIC, a tinta tricolor para a cara (será da BP? já me esqueci). Mais à frente, a senhora puxa de uma almofada bordada caseira e passa-a ao marido para ele se sentar na relva.

Ao seu lado, sentado nas barreiras que delimitam a zona de frente do palco e levam às torres de iluminação, está um senhor de meia-idade de pullover bege com um boné azul forte que tem três patas de urso brancas desenhadas e, de lado, a indicação "Ursus Vodka".

Por todo o lado há gente com o cabelo completamente ou parcialmente pintado de cor-de-rosa.

Por vezes, durante os concertos, os momentos mais calmos ou de silêncio são entrecortados pelo ruído das pessoas suspensas do slide, atravessando o recinto mesmo em frente ao palco principal. Estive quase a pensar em fazer a experiência quando vejo a moça que parou a uns metros da torre de chegada. Isso não impede que a fila continue a crescer e que, durante toda a noite, já muito para lá das três da manhã, continue a haver gente disposta a fazer a experiência.

O Parque de Bela Vista fica por baixo de uma das rotas de aproximação ao aeroporto. Por vezes, um avião surge baixo por trás do palco principal e sobrevoa o recinto. O efeito nocturno é lindíssimo, mas nunca conseguiu ser devidamente sincronizado com um momento igualmente emocionante em palco.

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