Pesquisa personalizada

9 de abril de 2004

POLAROID ESPLANADA

A esplanada do Op Art, nas Docas de Alcântara, é capaz de ser um dos segredos mais bem guardados de Lisboa, sobretudo em tardes de Primavera e Verão com aquela luminosidade mediterrânica que só Lisboa tem, com a Ponte 25 de Abril quase ao alcance da mão.

Passa um grupo de ciclistas (dois casais mais amigos, late twenties/early thirties, t-shirts, calças de ganga, bonés, óculos escuros) em que duas das bicicletas vêm adaptadas para transportar os filhos bebés, cadeiras de plástico firmemente presas à armação, entre o selim e a roda traseira, com as crianças bem amarradas. Param a falar com uma amiga que está lá dentro, no café, e depois voltam a seguir; mais tarde um dos casais volta para se sentar na esplanada a tomar um refresco.

Barcos a motor entram e saem da marina a uma cadência irregular. Um homem tira uma máquina fotográfica do saco de desporto que carrega a tiracolo, dirige a objectiva para uma jovem de blusa vermelha, deitada no chão do pontão, à beira-rio, a apanhar o sol ainda insuficientemente quente de Primavera.

Um casal com três filhos senta-se na mesa do lado. Ao fim de algum tempo, as crianças, irrequietas, pegam nas cadeiras e puxam-nas para a beira-rio, como poltronas de primeira fila de balcão, até que a mãe lança um aviso ríspido.

Um homem vestido de escuro passa. Pede um cigarro numa das mesas. Ajoelha-se quando abandona a esplanada. Anda uns metros e, mais à frente, benze-se e volta a ajoelhar-se, como se estivesse a cumprir uma promessa.

Os comboios que passam na ponte fazem o barulho de um avião a aterrar.

Sem comentários: