Estreou hoje "The Brown Bunny", o mui polémico segundo filme de Vincent "Buffalo '66" Gallo: um coelhinho da Páscoa armadilhado que é um dos objectos a um tempo mais admiráveis e mais vãos do cinema moderno. Admirável, porque nele um cineasta se expõe até mais nada haver para mostrar a não ser o vazio deixado por um luto emocional de que não se consegue desfazer. Vão, porque Vincent Gallo não é um cineasta, embora gostasse de ser um. "The Brown Bunny" (no King e no Cidade do Porto) é um longo poema abstracto à beira do experimentalismo hermético, incapaz de emprestar densidade e significado ao seu frágil fio narrativo, convencido de que basta o tempo para encher o espaço. Mas não é bem assim, e Gallo (que fez o filme praticamente sozinho, contra tudo e todos) nunca consegue fazer passar para o espectador essa solidão existencial da sua personagem.
E, contudo, respeito profundamente a loucura magnífica de Gallo em arriscar tudo o que tem num filme de tal modo fora de tudo. Faziam falta mais cineastas assim - mas, de preferência, que soubessem o que estão a fazer e conseguissem comunicar com o espectador.
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