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31 de março de 2004

POLAROID MAGNOLIA

O Magnolia do cinema Londres é um café chique mas simpático, sobriedade moderna e cadeiras design, bolinhos secos assombrosos, aproveitando o espaço do antigo restaurante/snack do cinema, prolongado até à antiga bilheteira (custa-me um pouco ver estas remodelações que despersonalizam os espaços; gostava do "velho" Londres, com as portas de vidro da sala ao fundo das escadas, o quadro psicadélico junto ao bengaleiro, os tons laranja e verdes hoje substituídos por um borgonha sujo e escuro, a velha caixa da bilheteira dupla desalinhada, aquela que era a sala mais longa de Lisboa, tão longa que tinha duas filas Z depois do Z, hoje partida em duas).

São dez da manhã e um senhor idoso de cabelos brancos desce as escadas e chega-se à bilheteira do cinema ainda fechado. Olha para os preços, para as plantas da sala, em busca de algo que não encontra. Dirige-se ao balcão do café e pergunta à menina brasileira que está a atender a que horas é a primeira sessão. A empregada responde-lhe, apontando o quadro electrónico das sessões já iluminado que encima a bilheteira, com os horários das salas, sem deixar de lhe responder que a primeira sessão é às duas da tarde, depois às quatro e meia e depois às sete. O senhor mostra-se surpreendido, diz não ter reparado. Pergunta à empregada três vezes o horário da "Paixão de Cristo", murmurando qualquer coisa sobre a sobrinha também ter vindo ver os horários e não ter percebido. A empregada acaba por lhe escrever os horários num pedaço de papel.

Chega uma tia loura de ar profissional liberal, a chave do carro num porta-chaves de bola de golfe amarelo-esverdeada, que vem tomar café com um espanhol de meia-idade e fato sem gravata que transporta um dossier de folhas presas com um clip. Ambos vêm ao telemóvel, cada um a falar para seu lado. A tia despacha-se primeiro e pede; o espanhol só mais tarde, depois de desligar, pede café. Conversam, ela num portunhol de tia loura que não está para aprender a dizer o básico na língua de nuestros hermanos, eles que percebam se quiserem, ele num castelhano madrileno. Falam de crianças e escolas. Entendem-se perfeitamente.

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