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22 de março de 2004

POLAROID BALNEÁRIO

Os miúdos que vão para ou vêm do ténis ou da ginástica deixam as mochilas ao deus-dará no primeiro banco que encontram enquanto brincam com os amigos pelo balneário fora. Ou então deixam a porta aberta, o vento a fazer corrente de ar junto de quem acabou de sair do duche quente, como se mais ninguém ali estivesse a não ser eles.

Há um velhote à antiga portuguesa incapaz de falar sem ser aos gritos, com aquela voz tonitruante de quem gosta de se mostrar valentão das dúzias, e uma barriga protuberante que chega a qualquer sítio dez minutos antes dele. O som da voz ressoa na acústica dura do balneário.

Um rapaz novo, com pinta de actor de teatro independente ou bailarino contemporâneo, está sempre a fazer trejeitos com o rosto, como tiques nervosos que é incapaz de controlar.

Uma das cabines de água quente está avariada. Um papel escrito à mão a dizer "avariado" está colado com fita adesiva à parede porosa, já dentro da cabine.

As equipas de futebol de fim da tarde equipam-se e desequipam-se, combinam jantares, encontros, boleias, reuniões, discutem os pormenores do jogo do dia, quem é o árbitro, quem vem, quem está atrasado. Telemóveis tocam.

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