Ver "A Melhor Juventude", do italiano Marco Tullio Giordana, é muito mais do que ver apenas um filme: é deixarmo-nos levar pelo fluir majestoso de uma daquelas sagas familiares como, literalmente, já não se fazem hoje em dia, a não ser para a televisão. Não por acaso, "A Melhor Juventude" foi de facto pensado como série televisiva, mas acabou por ir parar às telas de cinema depois da aclamação com que o Festival de Cannes de 2003 o recebeu. São seis horas de filme, divididas em duas partes de três horas, onde se desenha a pequena história de uma família italiana, dos anos 60 aos nossos dias, cruzada com a História que vai passando e afectando as vidas de dois irmãos que trocam de destino entre si: Matteo, o bom aluno, reservado e romântico, com o futuro aparentemente traçado, e Nicola, o estudante esforçado, alegre e extrovertido, indeciso sobre o que o futuro lhe trará.
São 40 anos de vidas normais contadas através de momentos do quotidiano, com uma sensibilidade, uma elegância, uma delicadeza que nos obriga a remexer nas nossas próprias memórias, que nos recorda momentos idênticos do nosso passado. Os actores são fenomenais, de uma entrega generosa e convicta que rapidamente faz esquecer os problemas de maquilhagem que traem a idade (demasiado jovem ou demasiado envelhecida) em alguns dos momentos. E a fórmula romanesca surge aqui depurada, tempos mortos e lamechices sumariamente eliminadas para apenas deixar aquilo que realmente interessa: vidas normais erguidas a heroísmos quotidianos, nascidos da crença naquilo que se faz e naquilo que se vive - algo de tão antiquado que parece quase antediluviano mas que faz uma falta tremenda nos nossos dias. Porque é preciso acreditar; e, mesmo nos momentos mais escuros, os Carati nunca deixam de acreditar que a felicidade é possível, mesmo que por escassos momentos.
"A Melhor Juventude" é uma lição de como bem contar uma história de família e está no King, em Lisboa.
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