O meu pai faz hoje, 13 de Março, 75 anos de idade. O meu pai é um homem de outros tempos, de uma outra Lisboa que já não existe. O meu pai é um falso alentejano; nasceu em Estremoz mas veio para Lisboa ainda criança, nada tem que o ligue à terra natal. O meu pai é uma pessoa reservada e introspectiva, de uma sensibilidade que sempre escondeu porque nos tempos dele os homens não podiam ser sensíveis. O meu pai legou-me a teimosia, a maneira de ser calada e introspectiva, a ética do trabalho até ao ponto da nossa vida pessoal deixar de existir. O meu pai legou-me o sentido de humor, a paixão pelo mar, o mau feitio, a capacidade de fazermos o nosso próprio mundo sozinhos. O meu pai ensinou-me a ler com os romances policiais da colecção Vampiro, a ouvir música com os discos de Frank Sinatra e os álbuns de música clássica que ouvia com a luz apagada no gira-discos Philips que tínhamos na sala de estar, a gostar de cinema, a ver os filmes antigos na televisão...
O meu pai abriu-me portas para eu não ser como ele foi. Faz hoje 75 anos e é um homem bom e frágil. E, embora ele não seja capaz de mo dizer, nem eu de lho dizer a ele, gostamos muito um do outro.
2 comentários:
É tão, tão bonito este post. :)
É tão, tão bonito este post. :)
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