Na edição de Dezembro da Mojo - revista inglesa de música que gosto muito de ler porque gosto de aprender com quem sabe tratar bem das memórias da cultura pop - descubro a melhor definição que jamais li da música de Bruce Springsteen. É na crítica da grande Sylvie Simmons ao recém-lançado "The Essential" (Columbia/Sony, 2003) e é daquelas peças de prosa que me fazem roer-me de inveja por não ter conseguido escrever nada de tão bom (desculpem não traduzir, mas esta tem de ir mesmo no original):
"When I grew up", Bruce Springsteen once told me, "rock'n'roll was the only thing that was never untrue, never let me down. So you've got a lot to live up to when you walk out there and do it. You've got to be your own hero." Coming from anyone else, a line like that could spin itself into a very strong noose (imagine Sting saying that, or Jon Bon Jovi); but there has always been something heroic about Springsteen. An adolescent heroism - all big, unmanageable, Technicolor emotions and hormones. It's in the music: the lonely echo on the vocal, the big, barnstorming build-ups from the band, the almost overwrought exuberance and extravagant idealism. A stagey, big-gesture kind of heroism - "West Side Story" set in New Jersey - where the little guy with the big heart gets the girl and the glory in the end.
E foi, sempre, precisamente essa fé inabalável no poder redentor do rock'n'roll que me atraiu a Springsteen. Porque ele acredita, e porque comunica essa crença com toda a energia que tem, em concertos que sempre tiveram muito mais de celebração comunal do mito americano do que, apenas, de rock'n'roll. Talvez por isso não seja totalmente casual que uma das suas melhores canções recentes, "The Fuse", tenha aparecido no genérico final do melhor filme que vi em 2003, "A Última Hora", de Spike Lee; tem tudo a ver com a redenção que só a entrega total permite, com o abandono àquilo que é maior que nós. E não é por acaso que o rock'n'roll, para Springsteen, sempre foi uma religião.
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