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8 de janeiro de 2004

BLOGO, LOGO EXISTO #2

Alguém me dizia no Forum Sons que um blog é como um tamagochi (lembram-se?...): precisa de ser bem tratado e regularmente. E para quê?... Os pais, geralmente, não hesitam em lançar impropérios contra os filhos mal-agradecidos que não sabem reconhecer tudo o que fizeram por eles; porque haveria de ser diferente com um blog?

A esse respeito, apanhei no domingo por mero acaso uma passagem de um documentário no canal 2 sobre Maria Callas, onde a diva, falando sobre a sua mãe, dizia que as mães têm a obrigação de serem maravilhosas porque é para isso que existem. O dever de mãe é ser a melhor mãe do mundo e se não o fôr alguma coisa está errada.

Por analogia, o dever de um bloguista é ser o melhor bloguista do mundo, mesmo sabendo que a lei das probabilidades matemáticas (e a quantidade abismal de blogs existente) joga contra nós. E, contudo, nós, os bloguistas, insistimos (blogo logo insisto?). Sabendo muito bem que um blog é uma espécie de castelo na areia que se constrói, desconstrói e reconstrói diariamente, ao sabor de quem o vai fazendo e lendo...

Para mim, confesso, o blog é, entre muitas outras coisas, um atalho para redescobrir o prazer da escrita confidencial; aquela que se faz apenas porque se tem uma necessidade de comunicar, de soltar algo que está cá dentro, sem mote prévio nem prazo a cumprir nem regra de estilo.

Mas e se o blog fosse também um artifício, uma ilusão construída para nós próprios, a ilusão da nossa própria importância/influência no mundo? Se o blog fôssemos nós a exigir os nossos quinze minutos de fama independentemente de os merecermos? Se o blog fôssemos nós a fingir para nós mesmos que temos amigos à distância de um teclado e de uma linha telefónica - mas que não passam de uma comunidade virtual alojada na nossa imaginação?

Há uns anos passou aí uma fita independente americana - presciente, face ao que sei hoje, mas que na altura não me convenceu por aí além... - chamada "Denise Telefona", sobre um grupo de amigos que passavam a vida a telefonar uns aos outros - e que preferiam falar-se ao telefone do que encontrar-se em pessoa. E se o blog fosse a versão virtual dessa comunidade tecnologicamente primitiva?

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