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23 de janeiro de 2004

GOSTO/NÃO GOSTO

Num dos primeiros posts deste blog remeti para a exibição no Arte de "A Arca Russa", de Aleksander Sokurov, filme que nunca chegou a ser exibido em Portugal.

Ontem estreou em Lisboa (no King) o seu mais recente filme, "Pai e Filho", embora tenha as minhas dúvidas se a palavra é apropriada para definir um objecto estético de deslumbrante beleza plástica que desafia todas as convenções narrativas e lineares do cinema como o entendemos.

Com Sokurov não estamos no domínio do cinema experimental, mas no de uma narrativa difusa e puramente visual, contada através de imagens de um estetismo sublimado, apolíneo, quase ariano no seu culto do corpo perfeito (o filme transpira homoerotismo latente, brinca de modo provocante com a fronteira do incesto); "Pai e Filho" é um filme embaciado, feito não de planos mas de quadros encenados com a mestria de um artista plástico, onde tudo é visto por um filtro difusor de cores saturadas e crepusculares.

Não sei o que achar de "Pai e Filho": é, talvez, o filme plasticamente mais belo e mais enfurecedoramente hermético que já vi. Não faço ideia se gosto dele, porque nem sequer tenho certeza de ter percebido o que Sokurov pretendia, tal o nevoeiro que deliberadamente constrói à volta das imagens. Não me acontece muitas vezes, mas quando acontece fico de orelha no ar.

(A propósito, "A Arca Russa" vai ser mostrado em sessões especiais no King, no fim-de-semana de 30.)

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