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29 de janeiro de 2004

DOMO ARIGATO

Gosto da riqueza zen da cultura japonesa; do modo como tudo nela procura uma harmonia, um equilíbrio e uma paz que estão desoladoramente ausentes da nossa vida ocidental contemporânea. Gosto de ler os haikus (haikai?), esses poemas depurados que parecem ser meras evidências de La Palisse mas, com uma leitura mais atenta, desenrolam um universo inteiro de significados condensados em três linhas de uma simplicidade e de uma singeleza quase visuais. Gosto da educação e da polidez da sua tradição, do delicado jogo de corda-bamba entre o terreno e o espiritual, da beleza poética da sua caligrafia.

Leio o diário de viagem de Matsuo Bashô, "O Caminho Estreito para o Longínquo Norte", na tradução portuguesa de Jorge Sousa Braga para a Fenda (1987), que comprei nos últimos saldos do Mercado da Ribeira, em Lisboa. São apenas 50 e poucas páginas para condensar uma viagem de dois anos. As frases parecem ser banais, mas é só à superfície - na sua procurada banalidade, elas contêm em si todo um mundo, toda uma vivência, toda uma história. Um retrato minimalista de uma terrível e deslumbrante lucidez, onde tudo está no sítio, mais fiel à verdade do que quantas imaginações. Uma viagem que é tanto externa como interior, e que vai mais fundo do que muitas vezes os nossos circuitos infindos de palavras nos levam.

Preso na cascata
um instante:
o verão.


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