A senhora era uma daquelas matronas lisboetas com ar de guarda-republicano antigo (sim, porque hoje em dia os GNR já não têm aquele ar bovino e barrigudo do antigamente, muitos até têm um aspecto perfeitamente normal e até já há meninas GNR muito estimulantes apesar do carrapito - diz um amigo meu, que eu não vejo muitas meninas GNR) e levava atrás o esposo com o seu ar de camponês tresmalhado na capital. Claramente, ali quem manda é ela; ele só vai atrás, até no toque de ela estar na fila da caixa e pedir-lhe a ele o dinheiro, que ele tirou de um daqueles velhos porta-moedas negros.
Entraram no supermercado (enfim, mini-mercado) ao mesmo tempo que eu e percorreram pausadamente todos os corredores como se estivessem num centro comercial a ver montras ou numa boutique de que não gostassem muito a tentar arranjar alguma coisa para levar. Estiveram lá tanto tempo quanto eu e a senhora, na fila da caixa à minha frente, levava apenas um saquinho de plástico com duas mangas. Como não lhe cheiravam a nada, perguntou à menina da caixa se podia depois vir trocá-las. A menina da caixa fez um ar muito surpreendido e disse-lhe que não sabia. "Também não faz mal", diz a senhora.
Presumo que não terá sido por isto que a menina da caixa não lhe deu o calendário 2004 de oferta.
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