A propósito do "69 Love Songs" dos Magnetic Fields, escrevi há uns anos no Blitz, semanário onde, aliás, continuo a escrever, para aqueles que não me conhecem de lado nenhum; o número mil sai na próxima terça-feira, façam favor de comprar, traz um facsimile do livro seminal do Miguel Esteves Cardoso "Escrítica Pop" que está fora de mercado há anos, estarão a fazer um favor a vocês próprios e de caminho ajudam a pagar-me o ordenado, a mim e a toda a equipa do jornal; obrigadinho; e também colaboro com a edição portuguesa da Première...
Dizia eu então que há uns anos escrevi no Blitz, a propósito do "69 Love Songs" dos Magnetic Fields (e, antes, do "Selmasongs" da Björk"), que a vertigem dos prazos impede-nos às vezes de ouvir/ver/ler as coisas com o cuidado e a disponibilidade que elas merecem. Nem sempre é o ideal ter cinco filmes para ver numa semana e ter de escrever logo sobre eles (até porque, nesse caso, a atenção da opinião se dilui com o tempo), nem ter em casa uma dezena de discos para criticar com prazo de entrega. São as regras do jogo, e não me estou a queixar, mas por vezes acontece passar ao lado de qualquer coisa que se ouviu mal ou nem sequer se ouviu.
No meu caso, as pausas festivas são geralmente oportunidades para fazer arrumações no escritório e pôr em dia os discos e os filmes e os livros aos quais a voragem do tempo não permitiu dar a devida atenção. Ontem, por exemplo, debrucei-me sobre dois discos que fizeram correr rios de tinta e me vinham bem recomendados por pessoas que considero.
"So Much for the City", dos irlandeses Thrills (Virgin/EMI, 2003), é mais uma manifestação da choninice intrínseca de muita da actual pop britânica. Gosto do lado aéreo e trauteável de canções como "Big Sur" ou "Deckchairs and Cigarettes", mas no geral não vejo ali a pérola que muitos apregoaram. São simpáticos, mas por enquanto inconsequentes (não é bem esta a palavra que quero usar, mas para já fica).
Já "Room on Fire", dos americanos Strokes (RCA/BMG, 2003), me pareceu bem mais interessante do que a mui badalada estreia "Is This It". Tenho absoluta noção que não houve um grande salto em frente - é apenas mais do mesmo que o grupo tinha apresentado no primeiro disco - mas, desta vez, aquela pop angular e retro, muito no-wave, muito anos 80, agradou-me sobremaneira mais do que anteriormente. Gosto sobretudo das guitarras-a-fingir-de-sintetizador-monofónico-primitivo.
Descoberta mesmo foi o excelente álbum do grupo vocal acapella Canto Nono, "O Porto a Oito Vozes" (Capitol/EMI, 2003), registo de um concerto ao vivo dirigido por José Mário Branco. Ao contrário dos outros, foi um disco que não fez correr rios de tinta e é pena, embora reconheça que é um trabalho que exige da parte do ouvinte uma disciplina e uma atenção que hoje em dia poucos estarão dispostos a dar. Apetece-me voltar a ouvir este disco - e a falar dele.
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