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5 de janeiro de 2009

A MORTE NUNCA EXISTIU

Os meus pais não me levavam aos funerais de familiares. 

O primeiro funeral a que fui foi o do Rui Ferreira, de quem nunca me despedi verdadeiramente. É um dos maiores remorsos que transporto: nunca disse adeus a uma das pessoas que, depois da minha família, significou mais para mim, que me ensinou mais, que mais me aturou birras e inocências e inexperiências. Ao Rui devo muito daquilo que sei e que sou, e nunca lho disse. 

Mas o Rui não era família. 

É diferente quando somos nós que vamos a seguir o caixão à cabeça do cortejo. É como se houvesse um desdobramento; é como se não fôssemos nós que ali vamos, como se estivéssemos ali sem estar. Não sei como definir de outra maneira a estranheza desse distanciamento, de uma ausência que se sente nos ossos mas que não se consegue transmitir, explicar, abarcar. Essa ausência continua a trabalhar aqui dentro, metódica, discreta, constante, inserindo uma nota de vazio no quotidiano que, acabadas as festas, regressa à rotina habitual. 

Foi ela que me lembrou hoje do Rui. É ela que me faz compreender que, para mim, por muito que pensasse nela, a morte nunca existiu verdadeiramente, fisicamente, como uma ausência que não se vai embora, antes de 18 de Novembro de 2008.

(tudo isto a propósito disto; com um abraço para o A.)

2 comentários:

Alexandre disse...

o que não está lá escrito, mas está implícito, é o medo do que há-de vir, inexoravelmente - apenas e tão só não o consegui escrever.

abraço apertado.

ié-ié disse...

Um abraço para ti!

LPA