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7 de dezembro de 2006

A REDESCOBERTA DA PALAVRA

Haverá alguns mais dados às más línguas que entenderão que ter um gato enroscado terá ajudado, mas confesso que passa muito mais pelos dias mais descansados dos fins-de-semana prolongados, pelos feriados, pelo inverno que já aí está e convida ao ursar preguiçoso pelo sofá (como eu gosto da palavra ursar, que em tempos o meu amigo Joaquim Bidarra defendia calorosamente): depois de um par de anos em que a leitura regular se ficava pelas revistas da praxe e os livros se iam acumulando escandalosamente por ler nas prateleiras, está-me outra vez a saber tão bem concentrar-me nas páginas de um livro e deixá-las correr com o tempo. Estar a ler por prazer, sem obrigação, e deixar-me levar onde as palavras me levam. Pelo meio, apanho um ensaio da falecida Susan Sontag sobre o "Berlin Alexanderplatz" de Fassbinder (no curiosíssimo "Writers at the Movies", colecção de escritos de escritores sobre filmes editada por Jim Shepard em 2003) — onde ela defende, basicamente, que se contam pelos dedos de uma mão os bons filmes tirados de bons livros, e que a única adaptação cinematográfica possível de um romance é uma visualização fiel e integral, que a própria natureza do cinema (compactando uma narrativa em duas horas) inviabiliza. Sabemos, claro, que não é exactamente assim (é isto da tradução/traição...) mas é uma posição admiravelmente defensável — e que sublinha apenas como o poder cinemático da palavra é insubstituível, mesmo pela imagem que é suposta valer mil palavras.

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