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3 de setembro de 2006

VOYEUR AUDITIVO

A senhora sobe e desce a minha rua, visivelmente transtornada, ora deixando a mala em cima de um dos blocos de betão que são supostos impedir carros de arrumar, ora voltando a pô-la ao ombro, ora pegando num molho de chaves, ora arrumando o molho de chaves. "Tu não percebes," diz ela, transtornada, ao telemóvel, com a cara muito vermelha e a voz à beira do grito, "ela é minha irmã e gosto mais dela do que mim." Seja o que for de que se falava, a conversa não era claramente leviana, e senti-me como se estivesse a intrometer-me numa conversa privada — que, contudo, se estava a ter em voz alta e a bom som em plena rua, com pelo menos mais um par de pessoas ali a ouvi-la.

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