Blog-notas de ideias soltas; post-it público de observações casuais; fragmentos em roda livre, fixados em âmbar. Eu, sem filtro. jorge.mourinha@gmail.com
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14 de julho de 2006
O DISCO DO DESASSOSSEGO
Passar ao lado deste disco (e parece-me que anda muita gente a fazê-lo) é passar ao lado de uma das mais notáveis reinvenções sonoras dos últimos anos: 20 anos depois de "Graceland" (e a comparação nem sequer é aleatória - ouça-se "Another Galaxy" ou "Outrageous"), Paul Simon convoca Brian Eno para desenhar as "paisagens sónicas" que fazem de "Surprise" um álbum que não se revela nem à primeira, nem à segunda, nem mesmo à terceira audição da praxe. Começa por parecer um híbrido desconjuntado onde Eno se impõe a Simon, depois lentamente percebe-se como tudo faz sentido e encaixa na perfeição: "Surprise" é um álbum que traduz na sua arquitectura sonora milimetricamente descontínua o desassossego do americano moderno, um disco onde tudo faz sentido precisamente porque não o parece fazer. Simon fez o disco que quis fazer e não o poderia ter feito sem Eno: a sua poesia líquida e as suas melodias enganadoramente simples estão lá intactas. O mundo é que mudou, e o modo de elas se enquadrarem nele também. "Surprise" é uma surpresa — das boas.
(Com a mais valia de ter uma capa de primeira água, assinada por um mestre do design, o grande Chip Kidd, mais conhecido pelos seus trabalhos para livros — visíveis aqui)
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2 comentários:
Uma definição fantástica sem dúvida.
À mes bras!
Ah, eu sabia que alguém ia entender a paixão que dediquei a este disco. É o meu Graceland dos anos 00.
Mon poussin. :')
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