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29 de junho de 2005

NÓS E OS OUTROS #4

(...) A música tornou-se-me indispensável: é o único momento da minha vida em que não tento intelectualizar as coisas, porque sou alguém que passa o tempo a analisar tudo. Quanto mais crescemos, mais a educação nos obriga a apertar a mão às pessoas, mesmo que achemos que elas são ilustres imbecis. Passamos o tempo a interiorizar. Quando me apresentam alguém, por exemplo, e que essa pessoa me dá um beijinho, acho uma patetice: tenho um contacto de pele com alguém que não conheço. Sabe-se lá se o tipo não acaba de matar o seu irmão. Tudo é falseado. Quando digo isto, respondem-me que sou fria, que não gosto das pessoas. Só acho que já não há autenticidade em nada. Tudo se mistura. É por isso que me sinto mais próxima do carácter inglês. Diz-se sempre que eles são um pouco frios, quando não passa de pudor. Sinto-me lenta e gosto da fleuma deles. Contudo, não vivo as coisas de maneira temperada. E a música é o meu meio de libertar o meu instinto, foi sempre muito mais que mera recreação.

(Valérie Leulliot, cantora e compositora do grupo Autour de Lucie, em entrevista a Anne-Claire Norot da revista Les Inrockuptibles, Março de 1997)

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