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8 de novembro de 2004

DO FUNDO DOS TEMPOS

Na escola primária (terá sido na 3ª classe?), aprendi o que significa as pessoas não acreditarem em nós. Alguém deixou um "presente" desagradável debaixo da minha carteira. Levou-me tempo a perceber de onde vinha o mau cheiro e, quando dei pela sola da bota suja, disse ao professor. Todos pensaram que tinha sido eu. Até o professor. De nada serviram os meus protestos, o meu desespero; fui mandado para o recreio, de castigo. Lembro-me que o dia estava cinzento. Lembro-me que chorei, chorei muito, sozinho no recreio. Lembro-me que os meus pais acreditaram em mim porque me viram transtornado como nunca tinham visto.

Não me recordo como foram os dias seguintes, como ultrapassei o trauma de ninguém acreditar em mim. Talvez nunca o tenha ultrapassado; isto foi quase há trinta anos e recordo-me como se fosse ontem. Nesse dia aprendi a não confiar nas pessoas. Nesse dia aprendi que há amizades — talvez a maior parte delas — que são meros jogos de interesses (e, ao longo dos anos que se seguiram, no ciclo preparatório e grande parte do liceu, apenas o confirmei). Nesse dia aprendi o que é a cegueira dos outros.

Desse dia data a minha necessidade de ser aceite, de ser compreendido, de pertencer — e a minha certeza que, por mais que tente, isso nunca acontecerá.

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