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7 de novembro de 2004

AI PORTUGAL, PORTUGAL

Incomoda-me aquela saloiice tipicamente portuguesa que nos faz dar palmadinhas nas nossas próprias costas sempre que há um português que triunfa algures no mundo, como se o seu triunfo fosse também um triunfo nosso, como se nós tivéssemos contribuido, nem que fosse só um pouquinho, para ele.

Tretas. Quem triunfa lá fora fá-lo porque arranjou a força de vontade necessária para partir e não voltar. Hoje, no Telejornal do canal 1 (que, garantidamente, eu cada vez mais só gosto de ver quando é apresentado por José Alberto Carvalho e positivamente detesto quando é feito por Judite de Sousa ou Fátima Campos Ferreira), uma elucidativa reportagem de Márcia Rodrigues sobre um cozinheiro de Viseu que trabalha no hotel Plaza de Nova Iorque, em que a certa altura se dizia com mal-escondido orgulho que tinha sido cumprimentado por Johnny Depp pela qualidade da refeição e que tinha servido Bill Clinton. Como se um cumprimento de um actor de cinema fosse o mais a que um cozinheiro português em Nova Iorque pudesse aspirar, como se esse cumprimento fosse mais significativo do que ter um cargo de responsabilidade num dos mais exigentes hotéis do mundo. Ou como uma coisa realmente digna de orgulho é reduzida à patetice comiserativa do portuguesinho no estrangeiro.

É por estas e por outras que o temperamento português me irrita solenemente.

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