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19 de agosto de 2004

POLAROID: SALA DE ESPERA

Espero a minha vez no consultório do médico. Quando entro na sala de espera, está a saír um casal idoso, ela de vestido floral e mala ao ombro, ele de canadianas, que resmungam por causa do ar condicionado estar ligado mas, assim que saem, entram directamente para a consulta. Fico sozinho na sala com um outro senhor dos seus 50 anos, que tem um telemóvel suspenso do colete cru multi-usos que usa. Pergunto-lhe se é para o mesmo médico; diz-me que sim. Pergunto-lhe se sabe em que número vai; o casal que saiu é o número 6. Eu sou o 7 e ele o 10. Leio uma revista enquanto ele está ali sentado calado a olhar para o televisor sintonizado na RTP-1, onde duas pacóvias intermutáveis apresentam um talk-show para donas de casa e emigrantes onde está a ser entrevistado um moço alto, louro e espadaúdo que deve ser cantor ligeiro (daqueles que nunca ninguém sabe como se chama) e a cantora Alexandra (mais gorda do que me recordava dela).

Passados alguns minutos chega um outro senhor de meia idade, com uma pasta na mão. Senta-se na sala em silêncio depois de dar as boas tardes, enquanto o número 10 começa a passear pela sala. Alguns minutos mais tarde, inicia-se o diálogo da praxe e o recém-chegado diz que é o número 12; o último da consulta ou "o primeiro a contar do fim".

Passados mais alguns minutos — já ali estou há cerca de 20 minutos à espera de vez — os dois senhores começam a protestar por os doentes que estão em consulta nunca mais se despacharem. "Pois é, começam na conversa e depois ficam para ali a falar e esquecem-se de que há gente à espera". O número 10 chega até a ir até à porta do consultório e regressar, dizendo que "estão para ali a falar, ouvi a voz da senhora. Deve estar a contar a vidinha toda".

Passados mais alguns minutos, o casal sai, o senhor de canadianas à frente. Cansado da conversa de compadres, apresso-me a entrar no consultório.

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