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1 de agosto de 2004

MOLESKINE DO CARVOEIRO: POLAROID #1

domingo

Duas estrangeiras na praia, acompanhadas por dois estrangeiros. Mais tarde, percebo que elas são holandesas e falam entre si em holandês, mas eles são ingleses (flirt de férias?). Uma delas tem uma voz "de aguardente", como diria a minha mãe; um certo ar desleixado e rasca, misto de provocação ingénua e sensualidade banal; e, de cinco em cinco minutos, canta. O êxito romeno do momento (o tal "numa numa iei" que é insuportavelmente orelhudo), "When Doves Cry" de Prince, o que mais aparecer; não se cala, e entre canções ri-se com uma gargalhada rouca; Debra Winger sem a classe.

À beira-mar, famílias inteiras tomam banho na água de um azul-verde translúcido, manchada aqui e ali por tapetes de algas trazidos e levados pelo movimento das ondas, até o sol se começar a pôr a Oeste, escondendo-se por trás da falésia.

Uma página solta de um jornal inglês é arrastada pela brisa quente. Pouco depois, um chapéu de sol também, parando praticamente em cima de uma família que pacatamente goza o sol.

Um casal jovem chega e começa a procurar sítio para pousar o chapéu de sol, com os seus quatro filhos muito novinhos a travar-lhes a busca. Atrás de mim, três adolescentes magros e bronzeados afadigam-se a tentar encontrar a T-shirt de um e o telemóvel de outro que eles dizem terem sido roubados. Um trintão que não fez a barba, de pele branca e longos calções azuis, coxeia até à agua; está sózinho, tem um ar pensativo, tem uma tatuagem dos pára-quedistas no braço direito; cruza um outro homem, calvo e quarentão, que parece ter a mesma tatuagem no mesmo sítio. Um trintão pesado com um colar branco justo ao pescoço e ar de gigolo algarvio, de tanga vermelha que mal esconde um assinalável bojo, acompanha uma miúda com idade para ser filha ou, pelo menos, sua sobrinha.

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