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Não percebo porque é que o consenso da comunidade crítica portuguesa caiu em cima de "Para Onde o Vento Sopra", de Tom Barman (em exibição no King, em Lisboa), e o corre a notas do género bola preta. (Kathleen, por favor, reconsidera. Não traias a confiança que deposito em ti.) Até dou de barato que eu gosto mais do filme do que ele merece. Mas aquilo que quase toda a gente vê como defeito nesta estreia na realização do cantor e compositor dos dEUS é precisamente aquilo que eu vejo como vantagem: o facto de ser um filme fluido, sem forma, espécie de corrida de estafetas que a meio caminho se descobre não ter verdadeiramente meta. É um filme que se constrói enquanto a projecção decorre, que nunca sabemos para onde nos leva realmente; que exige disponibilidade para ser descoberto. Que se desvenda aos poucos a partir de uma frase aparentemente banal ou desconexa.
Como: "Estar apaixonado é uma ameaça disfarçada de convite".
Ou: "Brincar com o futuro é uma forma de conformismo".
Ou ainda: "A crítica é para o artista o que a ornitologia é para a ave".
Ou ainda: "As pessoas da minha idade têm de citar filmes".
"Para Onde o Vento Sopra" é um dos poucos filmes que vi este ano que me agarrou logo à primeira e me deslumbrou sem eu estar à espera. Serei um iluminado ou apenas um iludido? Não me deixem nesta indecisão.
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